Montanhistas acusam Nims Purja de abuso sexual em entrevista ao NYT

Por Redação

Nims Purja
Foto: Reprodução/Instagram

Em uma matéria publicada no New York Times (NYT) na manhã desta sexta-feira (31), duas montanhistas acusam Nirmal “Nirms” Purja de abuso sexual praticado em diversas ocasiões, durante uma reunião e em expedição de montanha liderada por ele. Os relatos foram feitos pela experiente montanhista Lotta Hintsa e a médica norte-americana April Leonardo.

As mulheres descrevem “experiências nos últimos anos em que ele [Purja] as beijou sem consentimento, fez avanços agressivos ou as tocou sexualmente contra a vontade delas”, relatou o jornal. Elas disseram também que se sentiram impotentes e receosas de irritar Nirmal Purja após os acontecimentos.

De acordo com o NYT, Nims, através de seu advogado, recusou os pedidos de entrevista. O advogado, Philip M. Kelly, afirmou em uma declaração por escrito que Purja “negou categoricamente as alegações de má conduta. Estas alegações são falsas e difamatórias”. Após a publicação da matéria, Nirmal pubicou uma nota seu story no Instagram afirmando que não se recusou a dar entrevista.

Logo após os encontros que as mulheres descreveram com Nirmal, elas compartilharam suas histórias com amigos e familiares e enviaram mensagens de texto sobre suas experiências. O NYT afirma que revisou as mensagens de texto e confirmou as conversas com outras pessoas.

Acusações

Ao jornal, a experiente montanhista finlandesa Lotta Hintsa, que se dedica a alta montanha desde 2018, relata um episódio de agressão sexual durante uma reunião de negócios com Nims no hotel The Marriot em Katmandu, Nepal, em março no ano passado. Já April Leonardo foi uma cliente do acusado em expedição ao K2 em 2022, quando ela relata ter sido assediada constantemente pelo montanhista, que guiava a viagem.

Hintsa disse ao NYT que Nims “a levou para o quarto, tirou sua camisa, bermuda de trekking e roupa íntima e tentou remover seu sutiã. Ela disse que repetidamente disse não e deu desculpas para fazê-lo parar sem irritá-lo. O episódio terminou com ele se masturbando ao lado dela”. “Apenas preciso sair disso e fingir que nunca aconteceu”, lembrou a montanhista de 35 anos sobre aquele momento.

Hintsa lembrou-se de estar “congelada” e “confusa” enquanto ele a conduzia até a cama. Ela disse ao jornal que sentiu como se estivesse tendo uma experiência fora do corpo enquanto ele tirava suas roupas, mesmo enquanto ela continuava a dizer não. Em certo momento, ele tocou sua vagina, ela disse.

“Eu não consigo me fazer entender para ele. Ele está em um estado extremamente excitado onde um ‘não’ não significa nada”, lembrou Hintsa. Ela disse que tinha medo de irritá-lo por causa de sua força, já que ele já havia recebido treinamento nas forças armadas britânicas.

A finlandesa já havia contado o caso, mas sem citar nomes e dar maiores detalhes, em um livro publicado em dezembro chamado “The Mountains of My Life 2” (As montanhas da minha vida 2, em tradução livre).

Crimes no K2

Dra. April Leonardo, médica de 41 anos da Califórnia, contou ao jornal que Nirmal “a agarrou, beijou e fez propostas repetidamente” durante uma expedição ao K2 liderada pela Elite Exped, empresa de Nims. Ela lembra que na época não sabia o que fazer. “Estou nesta escalada louca. Ele é meu guia. Não quero fazer nada que me coloque em perigo”, pensou.

Após chegar ao acampamento base do K2, enquanto ela se virava para sair de uma tenda, ela conta que Nims “segurou seu braço, a puxou para perto e a beijou”. Ela também lembrou que ele então disse: “eu vou ter você”. Atordoada e sem saber o que fazer, ela disse que saiu do local.

Em outra ocasião, April disse que Nirmal apareceu sem ser convidado em sua barraca. “Ela estava em seu saco de dormir, vestindo uma camisa e roupa íntima, ela lembrou, e ele se agachou ao lado dela e disse que queria verificar seu joelho, que ela havia machucado. O Sr. Purja estendeu a mão para dentro de seu saco de dormir, o que a deixou em pânico, ela disse, então ela rapidamente puxou a perna para fora. Ele a beijou, ela disse, e segurou sua mão e a colocou em sua virilha, obrigando-a a sentir seu pênis ereto através de suas calças”, relatou o jornal.

Em um momento diferente, a médica disse que Nirmal segurou seu braço enquanto ela estava caminhando sozinha pelo acampamento e perguntou: “Quando posso montar em você?”, e sugeriu que eles fossem para sua barraca, ela disse, mas a médica inventou desculpas.

Alerta para outras mulheres

As duas montanhistas disseram ao NYT que, juridicamente, não sabiam que recurso tinham quando sofreram os absusos. Como os incidentes aconteceram fora de seus países de origem, elas não tinham certeza do que fazer. Elas não alertaram autoridades locais.

Elas afirmam que resolveram relatar os acontecimentos, no entanto, para alertar outras montanhistas. Hintsa disse ao jornal que estava contando sua história na esperança de tornar o esporte dominado por homens do montanhismo mais seguro para as mulheres.

“Eu não havia percebido as cicatrizes que isso deixou”, disse ela ao NYT. “Isso me fez perceber que não são apenas os deslizamentos de rochas ou as avalanches que são perigosos para uma escaladora.”

A conquista da Dra. Leonardo de alcançar o cume do K2, ela disse, foi manchada pelo que ela viveu na montanha. “Não posso permitir que continue acontecendo”, afirmou ela ao jornal.”Não quero que outra mulher tenha que passar por isso.”

O estrelato de Nirmal Purja

Nirmal “Nims” Purja, nepalês naturalizado britânico de 40 anos, ficou conhecido mundialmente após o lançamento do seu documentário “14 Montanhas, 8 Mil Metros e 7 Meses”, em 2021. O filme conta a sua jornada de escalada das 14 montanhas acima de 8.000 metros. Ele é, hoje, uma das figuras mais influentes da alta montanha, com mais de dois milhões de seguidores no Instagram e com trabalhos já feitos com grandes marcas, como Nike e Red Bull.

No Nepal, ele é reverenciado como uma superestrela da escalada que o país não via desde que Tenzing Norgay completou a primeira ascensão do Monte Everest em 1953.

Nas últimas semanas, no entanto, Nims tem sido alvo de diversas polêmicas no Everest. Ele e sua empresa tem sido acusados de permissões imprórpias para seus clientes; mas eles negam o feito.

Há alguns dias, Nirmal fez uma publicação em seu Instagram afirmando que cordas de trechos próximos ao cume do Everest haviam sido cortadas quando ele estava prestes a liderar uma equipe até o topo da montanha.

Outros guias e empresas negaram acusação e o Departamento de Turismo do Nepal inicou uma uma investigação, após também contrariar Nims. O montanhista mantém a sua versão.