Inspirado nos caminhos por onde o poeta Guimarães Rosa passou, um novo circuito de bike está prestes a nascer no interior de Minas Gerais.
A rota Caminhos do Rosa: “Do Real ao Imaginário” terá entre 1.000 e 1.300 km no mesmo percurso feito por Riobaldo, protagonista da obra “Grande Sertão: Veredas”.
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O projeto é uma ideia do Parque Grande Sertão Veredas, do maratonista André Zumzum, idealizador do Caminhos de Rosa, e conta com o apoio de Almir Paraca, gestor do Caminhos do Sertão, e do Circuito das Grutas.
“Se antes mapeamos o caminho real percorrido pelo autor, queremos agora uma nova rota com o fruto do trabalho dele como escritor”, explica Zumzum, que em 2014 criou a rota Caminhos de Rosa, também inspirada em Guimarães Rosa e hoje usada para eventos esportivos.
Com previsão para ser inaugurado em julho de 2025, o caminho “Do Real ao Imaginário” começará em Três Marias, onde também iniciou a jornada do menino Riobaldo e Diadorim no Grande Sertão: Veredas.
“Vamos passar pelo Paredão de Minas, cenário do épico combate entre os jagunços! Atravessar o Sussuarão, passar por Veredas, conhecer o Velho Chico, andar do lado dele! Também vamos passar pelas terras de Manuelzão, ou Riobaldo, Zito, Zé Bebelo, terras de Otacilias e Nhorinhá”, afirma André.
Grande Sertão: Veredas, o clássico romance de Guimarães Rosa, é o único livro brasileiro que figura entre os 100 melhores do século passado, de acordo com um ranking feito pelo Clube do Livro da Noruega.
A nova rota poderá ser percorrida de bike, de carro ou a pé e vai passar por comunidades quilombolas tradicionais de Minas Gerais, além de associações agrícolas, ICMBio, IEF, Monumento Natural Peter Lund, Floresta Nacional de Paraopeba, Parque Nacional Grande Sertão Veredas, dentre outros locais.
“Mapeamos vários pontos, cerca de 44, que percorrem Araçaí, Cordisburgo, Curvelo, Morro da Garça, Felixlândia, Corinto, Três Marias, Buritizeiro, Pirapora, Arinos, Lassance, João Pinheiro, Várzea da Palma, Urucuia, Sagarana, e a Chapada Gaúcha, no Parque Grande Sertão Veredas”, conta Zumzum.
“Estamos avaliando também a possibilidade de fazer uma ramificação até Brasília, assim o cicloviajante, poderá desembarcar em Confins, e ir até o Aeroporto de Brasília, facilitando a logística. Outro ponto, relevante, é que a rota de 1300 km poderá ser feita em até 15 dias”, finaliza o maratonista.
Sobre a sinalização turística dos percursos, Zumzum acredita que uma das soluções seria substituir os pórticos na entrada de cada cidade do circuito pelos letreiros “Uai, Eu Amo Guimarães Rosa”, como o que existe hoje na entrada de municípios como Curvelo, onde o maratonista reside.
Confira abaixo um trecho do livro Grande Sertão: Veredas
“O de-Janeiro, dali abaixo meia-légua entra no São Francisco, bem reto ele vai, formam uma esquadria. Quem carece, passa o de-Janeiro em canoa – ele é estreito, não estende de largura as trinta braças. Quem quer bandear a cômodo o São Francisco, também principia ali a viagem. O porto tem de ser naquele ponto, mais alto, onde não dá febre de maresia. A descida do barranco é lindo por a-pique, melhoramento não se pode pôr, porque a cheia vem e tudo escavaca. O São Francisco represa o de-Janeiro, alto em grosso, às vezes já em suas primeiras águas de novembro. Dezembro dando, é certo. Todo o tempo, as canoas ficam esperando, com as correntes presas na raiz descoberta dum pau-d’óleo, que tem.”