NA LISTA DOS PAÍSES com a maior biodiversidade do mundo, o Brasil ocupa o primeiro lugar. Mas quando se trata do manejo das trilhas em áreas verdes, ainda estamos atrás de lugares como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Japão, Austrália e muitos outros.
Em 2018, a Rede Brasileira de Trilhas foi criada com o intuito de mudar esse cenário, trazendo políticas públicas voltadas à implementação, manutenção, divulgação e padronização das trilhas brasileiras de longo curso. Agora, uma nova ferramenta foi disponibilizada pela associação com o objetivo de alavancar os caminhos que conectam as Unidades de Conservação do país.
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Durante o 1° Congresso Brasileiro de Trilhas de Longo Curso, realizado na cidade de Goiânia (GO), a Rede Trilhas apresentou seu mapa colaborativo, com 48 das 160 trilhas que fazem parte da associação cadastrada. A equipe envolvida no projeto contou com os topógrafos Luciano Soares e Gabriel Moreti, voluntários da Rede Trilhas, que trabalharam no desenvolvimento e na busca de informações para torná-lo o mais completo possível – e o mapa ainda será um processo continuado.
“O mapa está em atualização permanente. Como a Rede é algo de baixo para cima, com forte participação voluntária, primeiro as pessoas se concentram em sinalizar a trilha e organizar um pouco a governança local. O caminho só vai para o mapa quando o voluntário lá na ponta disponibilizar para a diretoria nacional todas as informações do circuito”, explica Pedro da Cunha e Menezes, diretor da Rede e fundador da pioneira Trilha Transcarioca, um caminho de 180 km que cruza o Rio de Janeiro, da Barra de Guaratiba até o Morro da Urca, aos pés do Pão de Açúcar.
No mapa, o que diferencia cada percurso são as “pegadas amarelas e pretas”, uma das marcas registradas da Rede. O desenho lembra a pegada deixada durante um trekking e pode ser adaptado para outros modais, como caiaque e bicicleta, mas sempre respeitando uma mesma padronização. Essa foi a maneira encontrada para consolidar uma identidade visual de todas as trilhas brasileiras. Desde que foi lançado, o símbolo brasileiro virou referência e ganhou respaldo nos maiores encontros do setor, como a Conferência Mundial de Trilhas. Hoje são mais de 5.000 km em 26 estados e no Distrito Federal sinalizados com a logomarca amarela e preta.
“É fundamental ter uma sinalização padronizada. O modelo facilita a divulgação do país como destino de caminhadas, pedaladas e remadas em todo o mundo. Por exemplo, no dia em que uma turista espanhola tirar uma fotografia junto a uma pegada da sinalização do Caminho das Araucárias e postar em uma rede social, essa foto vai certamente ser vista por outro turista, possivelmente um alemão em férias na Tailândia. Talvez ele não saiba que aquela pegada é do Caminho das Araucárias, mas saberá que é uma trilha no Brasil. Dessa forma, as trilhas brasileiras se complementarão em vez de competirem entre si. Uma trilha divulga todas! Assim funciona a Rede”, pontua Pedro, que acredita que muitas pessoas ainda confundem a Rede com um projeto.
“Na verdade, somos uma política pública que serve para disciplinar as iniciativas de trilha no Brasil inteiro, de maneira que, daqui a 30 anos, as trilhas se conectem e possibilitem uma sinalização padronizada. A ideia da Rede é democratizar o conhecimento, democratizar o processo decisório, sendo sempre de baixo para cima, deixando muito claro que a gente tem um sistema e não um conjunto”, afirma o diretor da associação, que tem como objetivo de longo prazo conectar de forma coordenada todas as áreas verdes do Brasil.
TRILHAR PARA PRESERVAR
Trilhas de longo curso e corredores ecológicos são ferramentas reconhecidas na legislação brasileira através da Portaria Conjunta no 407 entre os Ministérios do Meio Ambiente e do Turismo, que visam ampliar a conectividade entre áreas preservadas e a manutenção da vida selvagem. É por meio dessas rodovias verdes, por exemplo, que os animais se deslocam pelos diferentes territórios, ajudando a manter vivas as florestas e outras formações naturais.
As grandes trilhas também são catalisadoras de emprego e de renda, principalmente nos serviços de apoio ao turista, favorecendo o desenvolvimento sustentável e minimizando o efeito de esvaziamento das áreas rurais. Elas também podem reduzir o isolamento territorial de parques nacionais e outras Unidades de Conservação no país, muitas vezes provocado por um modelo de desenvolvimento econômico ainda baseado na completa eliminação da vegetação nativa fora das reservas ecológicas.
Para o topógrafo Luciano Soares, ter os caminhos ilustrados num mapa pode inspirar novas pessoas e comunidades a preservarem e sinalizarem suas trilhas em todas as regiões do país, já que voluntários são sempre bem-vindos e formam o DNA da Rede.
“A importância de ter essas informações reunidas num mapa é conseguir projetar os lugares onde poderiam ser implementadas novas trilhas de longo curso, dentro dos estados e municípios, para conectarmos todas as áreas naturais do país. Para quem acessa a ferramenta, também será possível encontrar todas as informações daquela trilha. A pessoa vai olhar no mapa e conseguir situar qual a melhor região para ir”, destaca o topógrafo.
Clique aqui para acessar o mapa da Rede Brasileira de Trilhas.
Matéria originalmente publicada na revista Go Outside nº176.