Além das árvores e das matas verdes, os mares, rios e lagos – chamados de espaços azuis – são a nova fronteira a ser desbravada pela ciência que estuda o bem-estar junto à natureza
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Marina Guedes morou em um veleiro por 4 anos enquanto atravessava o Pacífico Sul como tripulante de um barco de 41 pés. A jornalista garante que navegar pelos Estados Unidos, Bahamas, Panamá, Polinésia Francesa, Ilhas Cook, Tonga, Nova Zelândia, Fiji, Vanuatu e Austrália está entre a lista das coisas mais legais que já fez na vida. A forte ligação da paulista com a água vem desde a sua infância, quando frequentava o litoral norte de São Paulo. Tendo vivido na Amazônia por 10 anos, Marina também criou uma conexão com a água doce, já que estava sempre em contato com o Rio Negro. Mas é no mar que a também fotógrafa sente na pele as transformações que a água promove em seu corpo e sua mente. “O contato com a água equilibra o meu lado emocional e o físico, é fantástico”, conta a jornalista que comanda o podcast Maré Sonora.
Os benefícios dos espaços azuis
Estar perto do mar, para Marina, é uma forma de terapia. De fato, cientistas têm chamado a atenção para os poderes dos ambientes aquáticos, os chamados “espaços azuis”, ampliando o que já se sabe sobre os benefícios dos espaços verdes da natureza para o nosso bem-estar. Uma pesquisa publicada na revista Global Environmental Change em 2013, por exemplo, pediu que usuários de smartphones registrassem sua sensação de bem-estar e seu ambiente imediato em intervalos aleatórios. As áreas marinhas e costeiras foram constatadas como os locais mais felizes, com respostas aproximadamente seis pontos mais altas do que em um ambiente urbano contínuo.
Mathew White, professor sênior da Universidade de Exeter, na Inglaterra, e psicólogo ambiental do BlueHealth, um programa que pesquisa os impactos positivos de saúde e bem-estar trazidos por lugares azuis em 18 países, explica que existem três pilares que relacionam a presença da água com saúde, bem-estar e felicidade. O primeiro é o fator ambiental: locais aquáticos têm o ar menos poluído e mais luz solar. Em segundo lugar, as pessoas que vivem próximas à água tendem a ser mais ativas fisicamente. Por último, White afirma que passar tempo imerso e ao redor de ambientes aquáticos tem demonstrado uma indicação de humor positivo e redução do estresse e dos sentimentos negativos.
Navegar também é a terapia de Christian Fuchs, engenheiro industrial que decidiu mudar o curso da sua vida abrindo uma agência de turismo especializada em caiaques oceânicos. Levar as pessoas para conhecer o mundo da canoagem, diz ele, é um desafio para voltar às nossas origens. “É um contato gigante com a natureza, com peixes, aves, mar, praia deserta e acampamento”, afirma. “Quando estamos navegando, não é mais sobre quanto você tem, se está com os melhores equipamentos e barco , e sim o fato de você sair e explorar, voltando naquela sua vontade de criança de explorar o mundo”. Para ele, outro poder das expedições na água é o de trazer foco e concentração para o momento presente. “No dia a dia do caiaque, você volta a atenção para a sobrevivência: chega na praia, come, vê como está o tempo e a onda… É algo intenso que te faz simplesmente desligar da sua realidade anterior e se concentrar no que está fazendo”, conta.