Enquanto o mundo ainda não superou a pandemia de Covid, outro vírus que existe há décadas na África começou a se espalhar de forma preocupante por vários países. Desde que um paciente foi diagnosticado com a varíola dos macacos no Reino Unido no dia 13 de maio, já são pelo menos 257 casos confirmados e outra centena de suspeitos (entre 117 e 127) em 23 países, de acordo com dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são três casos suspeitos até o momento, nenhum caso confirmado. “A velocidade e a magnitude da propagação estão chamando a atenção”, diz a infectologista Paula Tuma, gerente de controle de infecções do Hospital Israelita Albert Einstein.
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Apesar de ser endêmica na África, os cientistas ainda não sabem como e por que ela começou a se espalhar para outros continentes agora. Em surtos anteriores, foi possível associar a doença a pacientes com história de viagens para regiões atingidas. Mas não parece ser o caso atual. Por outro lado, também não se pode dizer que a doença já estava circulando nesses países, pois ela tem lesões difíceis de passar despercebidas. Pesquisadores estão investigando duas festas, uma na Bélgica e outra na Espanha, que poderiam estar relacionadas ao início do surto. Mas por enquanto são só suposições.
A varíola dos macacos é uma zoonose, ou seja, uma doença transmitida por animais como macacos ou roedores. Ela deve seu nome após macacos de um laboratório dinamarquês apresentarem lesões parecidas às da varíola humana, em 1958. O primeiro caso em uma pessoa foi registrado em 1970, na República Democrática do Congo, onde atualmente é endêmica. Para se ter uma ideia, só neste ano já são mais de 1.200 casos nesse país. Na África, ela também é comum em países como Camarões, Nigéria e República Centro-Africana, entre outros.
Parecida com varíola humana
A doença é causada por um vírus similar ao da varíola humana, que provocou grandes epidemias no passado, mas que foi erradicado com a vacinação. No caso dos macacos, há dois tipos de vírus: enquanto o da África Ocidental, que está por trás do atual surto, causa infecções mais leves, o da Bacia do Congo é mais letal.
O principal meio de transmissão é através do contato direto com as lesões na pele, mas ela também é transmitida por gotículas e pelo contato com roupas de cama, por exemplo. No atual surto, houve ocorrência importante em homens que têm relações sexuais com homens, embora não tenha ocorrido exclusivamente nesse grupo.
O problema é que ela tem uma incubação muito longa, de até 21 dias, o que torna difícil isolar o paciente. E pode durar esse mesmo tempo para a cicatrização completa das feridas, quando a pessoa deixa de ser contagiosa.
Para piorar, os sintomas iniciais são muito inespecíficos, como febre e vermelhidão na pele. As lesões bolhosas surgem depois, primeiro no rosto e depois se espalham pelo corpo, formando uma crosta que depois cai. A doença pode ser autolimitada, ou seja, se resolver sozinha, mas também pode apresentar complicações como infecções secundárias.
“O surgimento de uma doença infecciosa sempre preocupa e é preciso pensar em como contê-la”, diz Paula. Neste caso, a melhor forma seria a vacina, já que o imunizante contra a varíola humana parece funcionar contra a dos macacos também. Mas ela não está disponível em grande escala. Uma estratégia seria fazer bloqueios, imunizando os contatos próximos e profissionais da saúde, por exemplo. Mas os cientistas não apostam que ela vá se disseminar como a Covid. “Não acredito que ela se torne uma pandemia como a da Covid pelas características da transmissão”, finaliza Paula.