Tony Hawk, o skatista que mais quebrou recordes e levou o esporte para o mainstream falou ao The Guardian sobre estar velho, a passagem do tempo, as mudanças na modalidade e como se sente sabendo que provavelmente nunca mais vai completar uma manobra 720.
Se você cresceu na década de 1990, é quase impossível não conhecê-lo. O nome mais famoso do skate, Tony Hawk inventou 89 manobras verticais, ganhou mais de 70 competições e até estrelou como ele mesmo em Os Simpsons.
Primeiro a completar a já lendária série de giros com duas rotações completas no ar, em 1985, Hawk publicou em janeiro desse ano o que seria possivelmente sua última tentativa. “Minha ultima vez tinha sido três anos atrás e dessa vez foi ainda mais duro. Não consigo me imaginar fazendo de novo”, revelou, à época.
I recently made a 720 and it was a battle. The last one I made before this was over three years ago, and it’s much harder now all things considered: recently dislocated fingers hinder my grab, my spin is slower so I need to go higher for full rotation and…
I’m really old. pic.twitter.com/u8pbwRhS9j— Tony Hawk (@tonyhawk) January 27, 2021
Não é que ele não seja capaz fisicamente capaz de grandes performances aos 53 anos, mas, segundo ele próprio, o risco de ter a pélvis quebrada, ou os dentes arrancados, não compensa. Ele atribui o perigo claramente à idade.
Ocupado e influente, Hawk participa de podcasts, faz malabarismo em reuniões, muitas viagens e visita eventos. Ele está quase sempre de plantão. Tem sua própria série de videogame, ganhou o Teen Choice Awards, e fez participações no show Rocket Power e no filme Lords of Dogtown. Ainda assim, ainda ama andar de skate.
História e legado
A fama veio por acaso. Tendo crescido em San Diego na década de 1970, Hawk estava muito mais próximo do surf (o irmão Steve era profissional) do que do skate – que era seu meio de transporta para ir e voltar da escola.
Ao mesmo tempo, estava aprendendo a tocar violino, o que envolvia práticas adicionais depois da escola e shows extracurriculares nos fins de semana. “Em algum momento, disse ao meu professor de música que estava andando de skate e competindo aos fins de semana, e ele me disse que eu teria que escolher violino ou skate. E eu fiz uma escolha”, contou.
Depois de alguns anos subindo na classificação nas competições, Hawk se tornou profissional aos 14 anos. E quase quatro décadas depois, Hawk foi quem levou o skate ao mainstream.
Sua fundação, o Projeto Skatepark, ajuda a construir skateparks públicos em comunidades desfavorecidas, e a organização, que não tem fins lucrativos, contribui diretamente para a diversificação de um esporte originalmente marginalizado.
Hoje, o skate parece diferente de quando Hawk estava começando. O esporte está diversificado, incuindo pessoas independente de gênero, orientação sexual ou origem étnica. Mais mulheres estão se profissionalizando, e este ano o esporte fará sua estreia olímpica em Tóquio.
“Todo mundo anda de skate agora, ou pelo menos tem algum interesse nisso”, diz Hawk.
Notavelmente livre de escândalos públicos e declarações polêmicas, ele garante que sempre foi autêntico, mas também admite que nem sempre acertou. “Eu seguia e perseguia minha carreira um pouco demais, e desisti do tempo com minha família por causa disso. Eu gostaria de ter um melhor equilíbrio entre trabalho e família naquela época”, diz ele.
Seu único outro arrependimento é o descuido que veio com sua pior lesão: uma pélvis quebrada durante um programa gravado para a MTV. “Eles queriam que eu me vestisse como um gorila e andasse de skate. Avaliei mal minha velocidade e caí do topo. Se eu pudesse voltar àquela época, teria muito mais cuidado com o que estava fazendo ”, avalia.
Mais cuidadoso e consciente de suas limitações pessoais, Hawk afirma estar pronto para se aposentar, mas garante que até chegar a hora ainda quer se divertir “Nem todo mundo tem as chances que estou tendo, e é um privilégio saber que posso vivê-las até o final”, conclui.