Oceya de Souza, de 55 anos, está vivendo há cinco meses em um aeroporto de Salvador. Ela já havia passado alguns períodos nesse espaço e em rodoviárias antes, mas esse é o maior tempo que a professora de português já morou no local por não conseguir pagar um aluguel.
A mãe de Oceya morreu quando ela ainda era bebê e o pai faleceu no começo da pandemia. A professora é solteira e não tem filhos, e vive da ajuda de familiares e colegas. Mas ela conta que os irmãos ficaram com o dinheiro da pensão dos pais e pararam de ajudá-la.
A dificuldade financeira de Oceya começou em 2008, quando ela teve os primeiros sinais de uma fibromialgia, síndrome caracterizada principalmente por dores crônicas e generalizadas pelo corpo. Ela então tirou uma licença do seu trabalho no Colégio Thales de Azevedo. Depois de alguns anos, ela teve o pedido de aposentadoria negado pela Educação do Estado da Bahia.
“Eu me aposentei, morri ou continuo ativa? Só queria saber isso. Por que já me tiraram da folha?”, disse Oceya ao UOL.
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Pelo problema com a Secretaria de Educação, a professora não consegue fazer empréstimos e nem teve direito ao auxílio emergencial durante a pandemia — ela ainda é considerada funcionária pública.
Uma conhecida de Oceya da época da faculdade tem uma hipótese do que possa ter acontecido. “Desconfio que ela tenha entrado com pedido de aposentadoria e o pedido tenha sido indeferido, mas, como Oceya não tinha condições de frequentar as aulas, o Estado pode ter considerado abandono de trabalho”, diz.
Depois de anos lutando com as burocracias, entre períodos recebendo remuneração e outros sem nenhuma ajuda, em 2018 Oceya deixou de receber da Secretaria definitivamente.
Vida no aeroporto
A maioria dos funcionários do aeroporto de Salvador não bate de frente com a professora. Oceya conta que apenas um vigilante diz que ela não pode ficar lá e até faz ameaças.
A professora de português só sai do aeroporto para buscar doações. Colegas, professores e feirantes doam alimentos para Oceya. “Sobrevivo graças a eles”, diz ela.