Nômades por escolha mas também por necessidade, a história dos personagens de “Nomadland” (disponível na Amazon) gira ao redor da vanlife. O vencedor do Oscar este ano é ficção, mas tem ares de documentário.
Baseado no livro-reportagem “Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century”, da jornalista americana Jessica Bruder, ele enche a tela de realismo graças às histórias inspiradas em pessoas mais velhas afetadas pela crise de 2008 que passaram a viver em vans e motorhomes, se virando em empregos temporários.
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Muitos dos coadjuvantes são não-atores que interpretam a si mesmos, e como os protagonistas, carregam nuances complexas, de pessoas reais. O longa é estrelado pela atriz Frances McDormand, que interpreta uma uma viúva que escolhe o nomadismo e encarna o estilo de vida que é uma ode a liberdade, ainda que curvada sob o peso do capitalismo tardio, com trabalho precarizado e crise imobiliária se fundindo às decisões e motivos dos personagens.
Fern, a personagem interpretada por Frances McDormand, vive em uma cidade-fantasma, Empire, no estado de Nevada. A recessão esvaziou a cidade, após a falência da fábrica de material de construção ao redor da qual giravam os empregos da região – onde trabalhavam inclusive Fern e o marido, que morreu um pouco antes do fechamento da indústria. Viúva, sem filhos e agora sem casa, ela abandona a cidade levando apenas alguns objetos como recordação e apenas o básico para viver em uma van. Fern arruma trabalhos precários, como empacotadora em um galpão da Amazon, e vai conhecendo outros nômades na estrada.
Os coadjuvantes são pessoas retratadas no livro, em especial a amiga Linda May, ou figuras que Chloé e Frances conheceram na estrada. A cineasta tinha uma base para a história, mas foi adaptando em tempo real na viagem para as filmagens, ao longo de quatro meses em 2018, o que dá ainda mais realismo às cenas.
É clara a contradição da vanlife em Nomadland: é uma escolha dos personagens nômades, mas, ao mesmo tempo, não haveria outra opção. O compartilhamento de uma situação tão específica estreita os laços. Frances brilha no papel, se mimetizando aos personagens reais.
O filme é dirigido pela diretora e roteirista chinesa Chloé Zhao. Nascida em Pequim, ela estudou cinema em Londres e se mudou para os EUA, onde passou pelo tema dessa cultura americana no filme independente “Domando o destino”, de 2017.