Microplásticos podem ser encontrados em praticamente todos os cantos do ambiente da Terra. Mas, pela primeira vez, os cientistas mostraram que pontinhos microscópicos de plástico podem ser encontrados em órgãos e tecidos humanos.
Cientistas da Arizona State University descobriram a presença de pelo menos uma forma de plástico em todas as 47 amostras retiradas de pulmões, fígado, baço e rins de pessoas falecidas que doaram seus corpos para a ciência.
Um tipo de plástico usado em muitos recipientes e embalagens de alimentos, conhecido como Bisfenol A (BPA), foi encontrado em 100 por cento das amostras estudadas. A equipe também encontrou outros tipos de plástico comumente usados em produtos de consumo, como policarbonato (PC), tereftalato de polietileno (PET) e polietileno (PE).
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Os pesquisadores apresentaram suas descobertas na segunda-feira (17), no Encontro Virtual e Expo 2020 da American Chemical Society (ACS), no qual explicaram que técnicas de espectrometria μ-Raman foram usadas para chegar a essas conclusões.
“Seria ingênuo acreditar que existe plástico em todo lugar, mas não em nós”, disse Rolf Halden, um cientista da equipe, ao The Guardian. “Agora estamos fornecendo uma plataforma de pesquisa que permitirá a nós e a outros procurar o que é invisível – essas partículas pequenas demais para serem vistas a olho nu. O risco [para a saúde] realmente reside nos microplásticos… Este recurso compartilhado ajudará construir um banco de dados de exposição de plástico para que possamos comparar exposições em órgãos e grupos de pessoas ao longo do tempo e espaço geográfico. ”
Microplásticos são definidos como fragmentos de plástico com menos de 5 milímetros de diâmetro, enquanto nanoplásticos são ainda menores com diâmetros de menos de 0,001 milímetros.
“Em poucas décadas, passamos de ver de plástico como um maravilhoso benefício para considerá-la uma ameaça”, Charles Rolsky, um membro da equipe, disse em um comunicado de imprensa. “Há evidências de que o plástico está entrando em nosso corpo, mas poucos estudos o procuraram lá. E, neste momento, não sabemos se esse plástico é apenas um incômodo ou se representa um perigo para a saúde humana.”
Todos os doadores forneceram aos pesquisadores uma história detalhada de seu estilo de vida, dietas e empregos, então a equipe diz que conseguiu obter alguns insights sobre como esses materiais feitos pelo homem tornaram-se profundamente integrados em seus corpos.
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A ideia de materiais industriais não biodegradáveis à espreita em seu fígado pode parecer bastante sombria, mas os pesquisadores foram rápidos em apontar que as implicações disso para a saúde ainda não são claras.
“Nunca queremos ser alarmistas, mas é preocupante que esses materiais não biodegradáveis, presentes em todos os lugares, possam entrar e se acumular nos tecidos humanos, e não sabemos os possíveis efeitos para a saúde”, diz Kelkar. “Assim que tivermos uma ideia melhor do que está nos tecidos, podemos realizar estudos epidemiológicos para avaliar os resultados da saúde humana. Dessa forma, podemos começar a entender os riscos potenciais à saúde, se houver. ”
Em termos gerais, os efeitos do microplástico na saúde animal não são amplamente aceitos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que “não há evidências que indiquem preocupação com a saúde humana” dos microplásticos na água potável, embora eles acrescentassem que isso se baseia na quantidade limitada de informações disponíveis atualmente.
Por outro lado, algumas pesquisas sugerem o contrário. Muitas dessas preocupações se concentram no Bisfenol A (BPA), a forma de plástico mais comumente encontrada nesta pesquisa. A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA diz que o BPA é considerado seguro nos níveis atuais que ocorrem nos alimentos, embora observe que há alguma preocupação sobre os efeitos potenciais do BPA no cérebro, comportamento e próstata em fetos, bebês, e crianças pequenas.