O incêndio na Serra Fina que começou na última quinta-feira (16) está sendo uma tragédia inédita para a montanha. Diferente de focos de incêndio isolados em anos anteriores, desta vez um conjunto de fatores espalhou o fogo para áreas grandes da montanha. Vento e uma temporada de inverno extremamente seca fizeram com o que o fogo se espalhasse muito e rápido, deixando a Serra Fina em chamas.
Ainda não há um saldo do estrago, mas a proporção é tão grande, que a estrutura que foi montada para controlar a situação “só é usada quando acontecem grandes desastres como enchentes, deslizamentos ou atendimentos mais longos (com duração de vários dias). É a primeira vez que é usada para um incêndio”, conta Karine Variane Angelini, montanhista e voluntária. A ação está sendo coordenada pelo Corpo de Bombeiros e o Comando de Aviação da PM de SP.
De acordo com instrutor de escalada e montanhismo em escolas renomadas como a NOLS e a OBB (Outward Bound Brasil) Vinicius Maltauro, o clima é pesado, física e emocionalmente. “Ficamos sabendo na quinta à noite. Na sexta, fomos para lá como voluntário para acompanhar os brigadistas. Quem não é brigadista, ou seja, quem não tem treinamento nem equipamento adequado para entrar no fogo, não pode entrar no combate direto. Meu grupo ficou ajudando a portear água, comida e os acampamentos dos brigadistas para liberá-los dessa tarefa. Eles focavam em se deslocar e ir para o combate e ajudamos na logística.”
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Três helicópteros trabalham na ação. Dois pertencentes ao Exército Brasileiro e a outro do Instituto Estadual de Florestas. No posto de Cruzeiro, as equipes são transportadas de helicóptero até a região do incêndio. O acesso por terra só é possível a partir do território mineiro e levaria cerca de dois dias de caminhada, segundo a corporação. No sábado, o grupo paulista recebeu o reforço de uma segunda brigada de Itatiaia que permitiu direcionar os esforços para outra crista. Cerca de 60 bombeiros trabalhavam na contenção do incêndio.
A área do vale do Rio Claro e do Tartarugão foram bastante afetadas, com focos que já estavam controlados voltando a acender durante a madrugada. “Agora tem três helicópteros e aviões para jogar água, porque o jogo está em encostas praticamente verticais. Está sendo pesado e triste ver tudo queimado, alguns passarinhos perdidos, atordoados”, conta Vinicius.
Serra Fina em chamas: sobrevoos com água
O governo federal está colaborando com o C-130 Hércules, que está fazendo sobrevoos para lançar água e tentar conter alguns focos de incêndio. O vento e a fumaça prejudicam a operação, dificultando atingir o alvo. De acordo com o tenente Raphael Brito, que comanda a operação no alto da montanha, a visibilidade pela manhã de sábado era de apenas 20 metros.
São cerca de 200 toneladas de água jogadas a cada voo – o trecho precisa ser totalmente evacuado antes para não arriscar brigadistas e voluntários, o que torna a operação extremamente complexa.
Até domingo, o incêndio, já tinha devastado uma área de 453 hectares, o equivalente a mais que 630 campos de futebol. A causa do incêndio ainda não foi identificada.