Não precisa ser nenhum especialista para aprender como fazer uma horta em casa, muito menos para curtir as mil vantagens, como acesso imediato a temperos e vegetais absolutamente fresquinhos, perfumados e no auge dos nutrientes. “Cada verdura plantada no quintal dispensa espaço no campo, transporte e embalagem”, defende Claudia Visoni, ambientalista, microagricultora e jornalista.
A horta caseira reduz as idas aos mercados e além de tudo, fornece um estoque enorme de antioxidantes e princípios ativos benéficos para o sistema imunológico. E são bem mais fáceis de cuidar do que parece. “Recuperamos espécies comestíveis que se tornaram raras como taioba e ora-pro-nobis, plantamos variedades crioulas, que têm maior variedade genética e por isso são mais resistentes às condições climáticas adversas, e atraímos uma rica microfauna”, ressalta Claudia. É um hábito que pode se tornar permanente, como um prazeroso plano B para situações de emergência, como lembra a ativista: “Sabe aquele ditado de que é no dia de sol que a gente conserta o telhado?””
Horta em casa: o que é preciso
É preciso bem pouco para o primeiro passo: um local com quatro a cinco horas de sol por dia (no mínimo), um vaso com terra e água. “Geralmente a gente indica cultivos de temperos: eles dão bem no vaso e vai ter sempre. São os que mais se adaptam a uma horta em casa”, orienta Iris Moura, da Flor de Iris Decor. Experimente manjericão, alecrim, sálvia, tomilho, orégano, salsinha, cebolinha, manjerona ou hortelã.
Se você não tem ideia nem de como começar, compre os vasos prontos em grandes mercados e se familiarize cuidando da planta. “Se você colocou o dedo no vaso, se ele sair limpo, é para regar. Terra úmida gruda no dedo, tem que ficar sempre assim”, explica Iris. Se começarem a brotar trevinhos, pode ser falta de cálcio na terra. Esfarele a casca de um ovo seca e espalhe na terra.
Horta em casa: fazer do zero
Porém, para quem quiser montar os vasos ou aproveitar um espaço com terra, continua simples. Se plantar no chão, escave e revire a terra com uma pá o enxada, tentando chegar na profundidade de uns 40 centímetros. O objetivo é arejar a terra e descompactar, para as raízes poderem se desenvolver. Misture essa terra com composto orgânico, esterco e/ou húmus de minhoca e cubra com palha, folhas secas ou grama cortada. Quando for semear, basta abrir com a mão um buraco nessa cobertura.
Se usar vasos grandes ou jardineiras (sempre com furos no fundo), comece fazendo uma camada de argila expandida no fundo. É possível usar bandejinhas de isopor picadas em pedaços de 4cm x 4cm. Essa camada deve ter pelo menos 2 cm a 3 cm e o objetivo é facilitar a drenagem de água. Faça uma camada de tecido natural (como um pedaço de camiseta de algodão velha) para funcionar como manta drenante e cubra com terra adubada até 4 cm da borda do vaso. Pronto.
Para quem está começando, usar mudas é bem mais fácil que uma sementeira (“berçário” que prepara as mudas). Transfira espécies como salsinha com o torrão que vem dentro no vasinho, vai ajudar a planta a pegar mais rápido. Mudas ganhadas em feiras de trocas de plantas e sementes devem ser replantadas com o mesmo cuidado. Tenha um cuidado especial nos primeiros dias, não deixando o vaso nem encharcado nem seco. Assim que a muda começar a lançar folhinhas, ela “pegou”.
Horta em casa: o que plantar
A maioria das pessoas imagina sua primeira horta com alface, tomate, cenoura – a salada completa. Mas além de serem espécies mais difíceis de cultivar, podem render menos que o esperado. Claudia fez uma lista, com a ajuda de pessoas da União de Hortas Comunitárias de São Paulo, de espécies mais rústicas e que rendem bastante. As PANCS também são extremamente indicadas, por isso merecem um destaque exclusivo para elas.
Mandioca: vai bem em solos menos férteis e não precisa de muita água. É plantada a partir de um pedaço o caule, chamado maniva, que deve ter cerca de 25 cm de comprimento e cerca de 2,5 cm de espessura. Leva cerca de 6 meses para a colheita
Inhame: cultivado a partir do próprio tubérculo, o inhame gosta de água. Também demoram alguns meses para ficar prontos: quando as folhas ficam amareladas, é hora de buscar o tesouro escondido na terra.
Batata-doce: Plante a partir de uma batata. As folhas também são comestíveis e muito nutritivas. Ela vai super bem.
Abóbora: são rústicas e pedem poucos cuidados.
Chuchu: cada pé rende dezenas de quilos de chuchu. São trepadeiras, portanto precisam de um muro ou cerca para se espalharem.
Espinafre: semeie diretamente. Ele é bem rústico e fácil de cultivar. Já dá para colher entre 40 e 120 dias do plantio.
Couve-manteiga: fácil de cultivar, a couve vai bem em vasos e em menos de dois meses já dá para colher. Dá para colher da mesma planta por meses.
Cúrcuma: esse poderoso antioxidante vai bem em vasos também. Um pedaço de raiz que esteja brotando é suficiente para começar uma nova planta. Depois de colhido, pode ser usado fresco ou em pó.
Horta em casa: PANCs
A sigla para Planta Alimentícia Não Comercial é nova, mas as espécies são velhas de guerra. São plantas de “quintal de vó”, que estão sendo redescobertas em grandes centros urbanos. “As plantas do nosso jardim cumprem uma função educativa, para as pessoas aprenderem a identificar essas plantas que muitas vezes são tidas como mato”, diz Mateus Gomes, proprietário do espaço BioMangê, em São Paulo, que tem uma horta dedicada a elas no espaço. Veja algumas das mais comuns:
Taioba: também conhecida como orelha-de-elefante, a taioba se faz refogada, como couve. É muito nutritiva e dá melhor na época chuvosa, mas produz folhas o ano todo e não precisa adubar.
Ora-pro-nobis: arbusto cactáceo que aguenta qualquer clima, não pede adubo, não precisa regar e super rico de proteína e ferro. Pode ser comida crua, refogada ou em batida no suco verde. Além de tudo, tem flores lindas.
Peixinho-da-horta: empanada e frita, a folha do peixinho-da-horta tem um aspecto muito semelhante a um lambari frito. O sabor e a textura também lembram o de um peixe de verdade.
Azedinha: com folhas grandes, verdes e arredondadas, a azedinha lembra uma rúcula, mas com um toque azedo parecido com o de limão. É ótima alternativa para salada.
Capuchinha: tanto folhas quanto flores da capuchinha são comestíveis e dão um toque levemente picante para saladas.
Microverdes ou brotos
Uma alternativa moderninha garantir um prato colorido sem depender de mercado são os “microverdes”, nome trendy para os brotinhos. A maior vantagem é o ciclo de cultivo rápido, de poucos dias. São bastante indicados: beterraba, coentro, couve, manjericão, mostarda, rabanete, repolho roxo, rúcula e salsa.
Para cultivar, você vai precisar de uma bandeja com furos e uma camada de substrato como húmus, de uns 2 a 4 centímetros de profundidade. Espalhe uma camada abundante de sementes e regue com um borrifador. Use o borrifador para regar diariamente: ele evita que o substrato encharque. “A germinação pode acontecer entre 3 e 10 dias, dependendo da espécie. Quando as plantinhas atingirem entre de 6 e 10 cm é hora de fazer a colheita. Fique atento às indicações no verso do envelope da semente adquirida”, orienta