Por Eduardo Stryjer
Fotos por James Thisted
CRIADO NAS ONDAS DE MARESIAS, no litoral norte de São Paulo, Gabriel Medina tornou-se o mais jovem atleta da história do surf brasileiro a vencer uma prova do WQS (World Qualifying Series, antiga divisão de acesso à elite mundial), em julho do ano passado. Depois, com performances arrasadoras que lhe renderam algumas notas 10, foi campeão mundial do Quiksilver King of The Groms, na França, e, mais recentemente, do ISA Junior, na Nova Zelândia, na categoria sub-18. Quem acompanhou a transmissão desses eventos pela internet ficou impressionado com o talento do garoto de apenas 16 anos, que já ganhou dos gringos o apelido de Super Medina.
GO OUTSIDE Quando você percebeu que poderia competir no surf?
GABRIEL MEDINA Desde pequeno eu falava pro meu pai que queria ser surfista profissional. Ele passou a me inscrever nos campeonatos e fui me dando bem. A partir daí fiquei treinando, levando a história mais a sério.
Você explodiu na mídia após vencer, invicto, a valiosa etapa do WQS em Florianópolis. Esperava se dar bem tão cedo?
Não esperava esse título, mas estava me sentindo muito bem naquele campeonato, e competi usando uma prancha muito boa. Meu pai também estava junto para me ajudar. Foi bem legal, consegui mostrar meu surf em altas ondas. Acabou acontecendo.
Como foi ganhar do experiente Neco Padaratz na final?
A praia toda estava torcendo pra ele, mas caí no mar sem me deixar pressionar. Nos primeiros dias depois da vitória ainda não acreditava que tinha vencido. Na verdade, a ficha demorou pra cair – até hoje penso nessa vitória.
O que você fez com os 20 mil dólares de premiação?
Comprei um quadriciclo e o restante do dinheiro está guardado. Pretendo usá-lo bem, num futuro próximo.
Fale um pouco sobre a sua última vitória no ISA Junior da Nova Zelândia. Como foi o campeonato?
A gente foi pra lá com metade do time, apenas oito atletas. Ficamos longe da praia, mas tínhamos um amigo brasileiro que mora lá e nos ajudou. O lugar era meio frio e a água era bem gelada. Tinham vários atletas de nível tirando notas altas. Depois da final, quando saí da água, várias pessoas vieram me cumprimentar, tirar foto e pedir autógrafo.
Dá pra segurar a onda com todo esse assédio?
Dá sim. Continuo sendo a mesma pessoa de sempre. Minha família também me orienta bastante. Acho que jamais vai “subir pra cabeça”.
Fale um pouco dos aéreos, sua maior especialidade.
Sempre assisti muitos vídeos de surf e quando estava na água ficava tentando dar aéreo. Daí, quando peguei a manha, não parei mais. Hoje dar aéreo pra mim é normal. O aéreo 360º e o Superman são os que mais gosto de executar.
Tem algum novo que esteja treinando?
Treino um aéreo de um amigo, mas ainda não completei. É assim: você vem de frontside, dá um aéreo normal rodando e bate na prancha para ela virar. Tem que rodar o corpo junto para voltar de base trocada e continuar na onda.
Quem é o seu ídolo?
Mick Fanning. Ele é um surfista completo, muito focado. Sempre o vejo nos filmes e também ao vivo nas baterias. Ele faz todos os tipos de manobra e compete superbem. É nele que me inspiro para surfar.
Qual o melhor vídeo de surf atual?
Modern Collective, do Taylor Steele. Tem várias manobras modernas e muitos aéreos, inclusive do Jordy Smith, que hoje está na elite mundial.
O que você gosta de fazer nos dias flat?
Fico no Orkut e no Facebook. Vejo as notícias e converso com meus amigos.
Já aprontou alguma loucura para surfar aquele dia clássico?
Sim. Teve uma vez em que eu estava de castigo e meu pai trancou minhas pranchas. Daí meu irmão me ajudou a sair do quarto sem que meu pai visse. Peguei uma prancha emprestada e fui surfar escondido. Mas, quando voltei, meu pai me pegou de surpresa e fui pro castigo de novo.
Tem alguma mania?
Roer unha. Como todas elas (risos).
Quais são os seus objetivos para 2010?
Vou correr as etapas do WQS. Também vou viajar no meio do ano em alguma barca de freesurf. Mas o que quero mesmo esse ano é entrar na elite mundial.
Na sua visão, o que um surfista precisa ter para ser campeão mundial?
Precisa ter muito surf e estar preparado para encarar não só as ondas, mas as baterias.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de março de 2010)
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