Por Mario Mele
Gabriela Leite
Em abril de 2008, Gabi, xx anos, estará em Bells Beach, Austrália, para a finalíssima do mundial Rip Curl Grom Search. Pelos resultados que a catarinense teve este ano, suas chances na terra dos cangurus são grandes. Na primeira seletiva do Billabong Pró Junior 2007, Gabi levou o título após derrotar adversárias de peso como as brasileiras Bruna Schmitz e Marina Werneck, além da peruana Valéria Sóle. Na segunda etapa do Petrobras de Surf Feminino deste ano, que classifica as atletas que irão correr o SuperSurf 2008, ela foi campeã na categoria open e terminou em quarto lugar entre as profissionais, brigando de igual para igual com as tops Diana Cristina e Tita Tavares. A trajetória de Gabi começou em 2002, quatro anos depois dela ir morar no balneário Barra do Sul, no litoral norte de Santa Catarina. “Minha amiga Nayara botou pilha pra eu ir à escolinha de surf da Associação de Surf de Barra do Sul”, conta. E o que era apenas uma brincadeira de fim de semana foi tomando conta da vida da menina. “Em 2003, no primeiro Campeonato Catarinense Amador que disputei, fui pra final. Mal saí da água e meu pai me perguntou se eu queria mesmo me dedicar ao surf.” “Claro”, respondeu. Desde então Gabi tem total apoio do pai, que a acompanha nas viagens. “Além de gostar de competir, com o surf eu posso viajar e conhecer pessoas e culturas diferentes”, diz. Um pico que Gabi voltaria hoje mesmo é Pacasmayo, no Peru. “Surfei umas esquerdas longas e sem crowd, só com meus amigos”, recorda.
Peterson Crisanto
Aos quatro anos de idade, o curitibano Peterson Crisanto, 15 anos, descobriu a mágica de deslizar nas ondas. Seu pai, surfista por diversão, deu os primeiros toques ao garoto nas longas direitas de Matinhos (PR), quando o mar não estava grande. Vendo que o menino tinha futuro, seu tio Túlio decidiu inscrevê-lo em seu primeiro campeonato estadual. A dúvida entre o surf e o skate desapareceu ali. “Quando comecei a competir, decidi que levaria o surf a sério”, fala Urso, o apelido que Peterson ganhou graças ao sono pesado. Peterson, mais conhecido como Peterzinho, é afilhado de Peterson Rosa e recebeu esse nome numa homenagem dos pais ao tricampeão brasileiro. Seguindo os passos do mentor, Peterzinho foi campeão do Rip Curl Grom Search nas categorias iniciante e mirim, aos 13 anos, levando a melhor entre surfistas de até 16 anos. Com o resultado, ganhou o direito de representar o Brasil na final mundial que rolou em abril deste ano em Bells Beach, na Austrália. Um mês antes de enfrentar os melhores surfistas-mirins do mundo, ele embarcou para sua primeira temporada havaiana e, ao lado de prós como Danilo Couto, aprimorou sua base nos tubos de Velzyland e no pesado mar de Sunset. O treino rendeu – o moleque é hoje o vice-campeão mundial. Recentemente, outro resultado brilhante: quarto lugar na segunda etapa nacional do Billabong Pro Junior, em Camburi, competindo com surfistas de até 20 anos. Com muito surf no pé, Peterzinho foca um único objetivo: chegar o quanto antes à elite do surf mundial.
Luan e Cauê Wood
Os irmãos Wood nasceram no interior de São Paulo, e se não fosse a família mudar para Florianópolis (SC), talvez hoje eles nem saberiam o que são aéreos e tubos. Luan tem 11 anos e nasceu em Franca. Começou a surfar por incentivo dos pais, mas não precisou se esforçar para se apaixonar pelo esporte. “Meu coração sempre foi do surf”, diz ele, que é um dos poucos surfistas da nova safra que deixam Kelly Slater em segundo na lista dos preferidos. “Atualmente, o Mick Fanning é o melhor do mundo. Ele tem um surf radical”, justifica. Cauê, 15 anos, é de Botucatu e já arrancou elogios de Fábio Gouveia, que comparou seu surf com o do “rei dos estilos”, o norte-americano Tom Curren. Cauê começou com um bodyboard na praia do Matadeiro, logo que se mudou para Floripa. “Mas queria ficar em pé, então meus amigos falaram para o meu pai me dar uma prancha.” Com uma das linhas de surf mais bonitas entre a molecada, Cauê é motivado pela adrenalina da competição. “Quero chegar no WCT não para ser mais um, mas para ser o cara”, diz. Espírito competitivo não falta a ele, que num dos primeiros campeonatos teve que ouvir os colegas caçoarem de sua prancha. “Quis dar o troco nas ondas, mas não foi isso que me tornou um competidor. A verdade é que nunca me imaginei fazendo outra coisa”, conta. Em 2004, a dupla fez bonito na França, durante o Quiksilver Grommets Trophy. Luan foi o campeão na categoria até dez anos e Cauê na categoria até 12 anos. Pode anotar o nome dos irmãos Wood, porque certamente você ainda vai ouvir falar muito deles.
João Luiz Gonçalves
Não foi fácil encontrar João Luiz – ele não pára em casa. Estuda de manhã, volta pra casa na hora do almoço, faz o dever de casa e, em menos de uma hora, pega a prancha e acelera sua bike até a praia de Itacoatiara, em Niterói (RJ). Não importa se as ondas estão com meio metro ou se cresceram para dois, lá estará João esperando para dropar a melhor da série. Em 2007, aos 12 anos de idade, ele já mostrou do que é capaz. Durante a primeira etapa do circuito da Associação de Bodyboard de Niterói (ABBN), João foi o campeão da categoria iniciante, com 67 atletas inscritos. Não satisfeito, participou numa categoria acima da sua e também levou o caneco. Suas maiores inspirações são o havaiano campeão mundial Jeff Hubbard e o brasileiro Dudu Pedra, que dá aulas de bodyboard para a molecada em Niterói. “As manobras mais difíceis para mim são as aéreas e o 360º invertido”, conta. Para acertá-las com mais freqüência, ele não desgruda os olhos dos vídeos da série Tension, os mais insanos de bodyboard. Mas ele surfou as primeiras ondas em pé, incentivado pelo irmão, 12 anos mais velho. “Depois que fraturei o braço, ficou mais difícil subir na prancha, então comecei a surfar de bodyboard”, recorda. Hoje João só molha sua triquilha quando o mar está pequeno, para brincar. Quando as ondas crescem, ele pega a bike e o bodyboard e vai direto para a praia de Itacoatiara, o quintal de casa que é a sua segunda escola.
Gabriel Vitorino
O longboarder catarinense Gabriel Vitorino, 13 anos, já foi duas vezes vice-campeão catarinense e uma vez vice-campeão paranaense. Pode até parecer que falta um pouco para ele chegar lá, mas na verdade Gabriel disputa baterias com moleques até três anos mais velho que ele. Foi assim em sua primeira participação no circuito brasileiro dos pranchões, o Petrobras Longboard Classic, em maio, no Espírito Santo. “Quando saí da água, várias pessoas vieram me cumprimentar, dizendo que tinham visto uma briga de Davi e Golias”, diz Gabriel, referindo-se à bateria onde o seu adversário, de 16 anos, fez uma marcação tão ferrenha que o impediu de descer as melhores ondas. “Fiquei surpreso quando percebi que a estratégia dele era não deixar eu surfar”, conta. A vontade de subir no pranchão veio do pai, Marcos Vitorino, que fazia a cabeça nas ondas de Balneário Camboriú (SP) e depois dava a prancha para o filhão se divertir. Hoje, Gabriel busca a evolução nas competições e nos vídeos de seu ídolo, o californiano Joel Tudor, maior colecionador de títulos do longboard. “Gosto da manobra do helicóptero [o surfista gira em 360º no bico da prancha] e da hang ten [deixar os dez dedos dos pés emparelhados no bico]. Também estou treinando andar na prancha o mais longe possível. Vejo muito isso nos vídeos do Joel”, diz. A profissionalização já chegou: este ano, Gabriel passou a integrar o elenco patrocinado pela marca By Pastor, do shaper Cláudio Pastor.
Julio Terres
Julio completou 14 anos em setembro, mas já tem muita história para contar. O primeiro capítulo foi quando o pai deu a ele uma prancha e começou a empurrá-lo nas ondinhas. Em pouco tempo, as ondas cresceram bem mais que ele, que hoje é acostumado a cair em mares gigantes. “É sempre muita adrenalina, mas mesmo em campeonatos eu prefiro ondas grandes”, afirma. Para manter o preparo físico e emocional, o garoto é um fiel freqüentador do Centro de Treinamento Aragua, na Praia Mole (SC). Lá tem aulas de natação, musculação, ioga e, claro, surf, com orientações que incluem até simulações de campeonatos. No ano passado, Julio foi convidado pelos big riders Everaldo Pato e Sylvio Mancusi para ir com eles ao Havaí e iniciar-se no tow-in. Nas perigosas ondas da bancada de Phantom, Julio foi rebocado pelo jet-ski de Pato, que o soltou numa morra de dez pés. “No começo eu tive um pouco de dificuldade. A prancha usada no tow-in é mais pesada, para dar estabilidade ao surfista. Mas me adaptei rápido e consegui dar umas rasgadas no lip”, conta. Na mesma session, Julio passou um sufoco havaiano. “Caí, perdi a prancha e quando o Pato veio me resgatar, minha mão escorregou. Ele teve que sair para não ser engolido pela onda com o jet-ski e eu tomei a série inteira na cabeça”, lembra. Se depois dessa você acha que o pai se arrependeu de ter pilhado Julio no surf, se enganou. “Ele tem total confiança em mim, e me apóia em tudo o que faço.”
Os Florence
“John John Florence tem muito talento e determinação”, afirma a lenda do surf Herbie Fletcher. “Ele pode muito bem ser campeão mundial um dia.” John John, de 14 anos (ao centro) tem quatro títulos nacionais norte-americanos e é o competidor mais novo a participar do Vans Triple Crown de surf. Aos 13 anos, quando participou do evento, ele competiu com nomes como Kelly Slater e Andy Irons em Pipeline, Oahu, Havaí. Seus irmãos – da esquerda para a direita, Nathan, 13 anos, e Ivan, 11 anos – estão seguindo os passos de John John, conquistando regularmente bons resultados nos campeonatos regionais. O que vem por aí? Não se espante de John John, que mora na ilha de Haleiwa, no Havaí, se classificar para a turnê mundial da ASP (Associação de Surfe Profissional). Não atrapalha nada o fato de o ex-campeão mundial Tom Curren, que foi mentor de Kelly Slater quando ele começou a competir profissionalmente, ser amigo bem próximo da família Florence.
Connor Baxter
Em agosto de 2006, Baxter, então com 11 anos, venceu a divisão Junior da famosamente dura Molokai Crossing, no Havaí, uma travessia de 48 quilômetros entre as ilhas de Maui e Molokai. Três meses depois, ele ficou em primeiro no Aloha Classic Wave Championship, um dos campeonatos mais tradicionais da modalidade, também disputado em Maui. Mesmo assim, entre tantas as competições e bons resultados, o windsurfista campeão, agora com 13 anos de idade e quatro anos de velejo, ajudou a desenvolver uma nova categoria de equipamentos para vela: extra, extra pequeno. Graças a Baxter, que vive em Pukalani, Maui, com seus pais – o veterano do Hobie Cat Keith Baxter e a ex-windsurfista profissional Karen Calvert, ambos hoje trabalhando no mercado de distribuição de equipamentos para wind –, as empresas estão criando pranchas para crianças que pesam meros 18 quilos. Mas não é só uma questão de equipamento. “Meu maior sonho é ser campeão do mundo”, ele diz. “Isso seria demais!” – Vanessa Pierce
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2007)