Safra nova

Por Cassio Waki
Foto por André Porto

O começo: Mariana começou a pedalar aos sete anos numa escolinha de ciclismo em Santos (SP), onde mora com os pais. “Sempre acompanhei meu pai, que também pedala, nos treinos e gostava muito de vê-lo nas competições”, conta. Aos 10 anos, a garota ganhou a primeira bike de speed e dois anos depois já treinava em estradas. As primeiras competições foram as que a sua escolinha organizava, nas quais ela sempre se destacava.

Cabeça pensante: Incentivada pela família, especialmente pelo pai João Carlos, Mariana segue hoje um calendário estratégico de provas. Ela compete pela cidade de paulista de Cordeirópolis (que lhe oferece melhores condições de treino e patrocínio) e prefere provas de nível técnico intermediário, nas quais pode disputar as primeiras colocações não só com a sua categoria, mas também com as atletas de elite. “Assim, ela consegue bons resultados e ganha motivação para encarar as atletas de ponta do país”, explica João. A estratégia tem dado certo: a ciclista-prodígio conquistou importantes colocações em provas clássicas brasileiras, como um sexto lugar na Volta da Inconfidência Mineira, que aconteceu em abril deste ano.

Treinar, treinar, treinar: Durante a semana, Mariana treina das 13h30 às 17h30, por enquanto só em cima da bike. “Sou muito nova para fazer musculação. Mas ano que vem vou pra categoria júnior, já podendo incrementar meus treinos”, explica. Acompanhada do pai, ela pedala em estradas paulistas como a Anchieta e a Imigrantes, mas a predileta é a Rio-Santos. “Tem um percurso que mistura plano e subidas, ao contrário do que acontece na via de acesso da Anchieta, que tem 14 quilômetros só de subida”, explica a ciclista.

Duracell: As principais características de Mariana são resistência e boa postura em cima da bike. “Às vezes ela pedala melhor em provas de elite, que duram duas horas, do que nas da categoria dela, que duram 40 minutos, pois a partir desse tempo ela começa a ficar bem”, explica João Carlos. Suas especialidades são as provas de estrada e contra-relógio.

Vida de atleta: Além dos treinos, o dia-a-dia de Mariana é dividido entre escola e família. “Quando tenho um tempo, gosto de andar na praia ou ir ao shopping com meus amigos. Quando passa alguma prova internacional, como o Tour de France, na televisão, tento observar a técnica dos ciclistas, as estratégias e a estrutura das equipes. Os melhores são a equipe Liquigas/Bianchi e o Lance Armstrong. Se ele ainda competisse, ganharia mais títulos”, afirma. Entre as ciclistas favoritas, Mariana se espelha em Sarah Ulmer, da Nova Zelândia, e Nicole Cooke, da Inglaterra, além das brasileiras Carla Gardenal e Débora Gerhard, sua treinadora.

Sonhar com o pé no chão: Mariana sonha em treinar nos EUA, Portugal, França ou Itália, países onde o ciclismo feminino tem um nível muito elevado. Também quer representar o Brasil nas Olimpíadas de Londres, na Inglaterra, em 2012. “Estarei com uma boa idade para tentar a vaga. Mas no ano que vem o objetivo é vencer o Pan-Americano Júnior”, revela. Para não deixar a jovem voar alto demais, o pai racionaliza: “Ela tem talento, mas precisa ter os pés no chão, saber que terá desilusões e ter forças para superá-las. Se mostrar que tem condições, as oportunidades aparecem.”

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de julho de 2007)