Por Marilin Novak
OS ATLETAS GRINGOS COSTUMAM DIZER que o clima absurdamente quente do Brasil é um entrave quando eles competem por aqui. É a mesma agonia que um brasuca sente ao competir no triathlon de inverno, uma prova que tem o percurso inteirinho sobre a neve. Mas alguns brasileiros vem descobrindo que o frio não chega a ser um adversário invencível.
O triathlon branco, como é chamado, nasceu na década de 80, quando europeus e norte-americanos adaptaram as modalidades tradicionais do esporte para o terreno nevado. Há dez anos a União Internacional de Triathlon (UTI) oficializou a brincadeira, que agora tem grandes chances de fazer parte das Olimpíadas de Inverno em 2014. A primeira prova no hemisfério Sul aconteceu em 2005, no Ushuaia (Argentina).
Um ano depois, o brasileiro Aldo Ramos decidiu aceitar o desafio, mesmo sem nenhuma experiência em cima dos esquis cross-country (menos famosos e usuais que os alpinos). Apesar de morar no calor do Rio de Janeiro, o carioca é apaixonado por esportes de neve e já trabalhou como staff em duas Olimpíadas de Inverno. Nas suas andanças geladas, ele descobriu o triathlon de inverno e dourou a idéia de correr até 2006, quando finalmente conseguiu competir. Ele chegou em 17º lugar, de 25 pessoas que largaram e apenas 20 que terminaram sem corte de percurso.
COLCHONETE: A única vantagem de pedalar na neve é que o tombo não machuca
Mas antes de encarar o chão branco, o triatleta treinou na orla carioca. Isso mesmo: de roller ski nos pés (um esqui com rodinhas), ele conta ter protagonizado um dos maiores micos do verão tropical. “Quando eu colocava os esquis no aterro [do Flamengo] me sentia extremamente constrangido, de tão fora de contexto que estava.” O excesso de pessoas nas ruas e a irregularidade do terreno também não colaboraram com os treinos. Para compensar, ele seguiu a dica da organização e fez um curso rápido na neve antes da largada. Segundo Christian Atance, diretor da MCD Sports, que organiza os eventos na Argentina, qualquer pessoa consegue terminar a prova se tiver aulas intensivas focadas no cross-country duas semanas antes do evento.
A princípio, o percurso do triathlon de inverno parece tranqüilo – a categoria elite corre de 7 a 9 km (dependendo da quantidade de neve no dia e da geografia do terreno), depois pedala entre 12 e 14 km e por último encara a estrela da prova, o esqui cross-country, de 10 a 12 km. Mas não se engane: o tempero da competição fica por conta do frio e da neve, que causa inevitáveis capotes. Se a neve está fofa, o biker tomba pra frente porque o chão simplesmente engole a roda dianteira. Já quando a neve está dura e lisa, bem, nem precisa explicar o show de patinação.
Se mesmo assim seus pés coçaram de vontade de topar com a neve, ainda dá tempo de se inscrever. A primeira etapa da Copa Pan-Americana de 2007 (também válida como 3º etapa do campeonato sul-americano) acontece dia 25 de agosto, no Ushuaia (Argentina). Uma semana depois (1º de setembro) acontece mais uma prova em Caviahue, também na Argentina. Ambas contam pontos para o ranking internacional e Aldo estará lá de novo. Para informações sobre inscrições e cursos intensivos de esqui escreva para chatance@ciudad.com.ar. Já os roller ski não são vendidos no Brasil, mas podem ser encomendados pelo e-mail info@rolski.com.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de junho de 2007)
ESQUENTA: São de 7 a 9 km de corrida, dependendo da quantidade de neve no dia