Por Mario Mele e Fernanda Franco
Enquanto algumas iniciativas protegem e renovam nossas águas, outras a deixam escoar pelo ralo.
Veja, a seguir, exemplos positivos e negativos do que está sendo feito em nossos rios e mares:
+ A água: rio Mogi-Guaçu
O caso: pesquisa e conservação do rio
O que está sendo feito: Há três anos o Projeto Mogi-Guaçu promove ações visando a redução dos impactos ambientais sobre o rio Mogi-Guaçu, em cidades mineiras e paulistas. São diversos núcleos, entre eles o de proteção às nascentes e o de saneamento básico rural, que com uma proposta educativa levantam as condições ambientais da região para, posteriormente, ministrar palestras à população rural sobre métodos simples e ecologicamente corretos. O núcleo de saneamento básico rural, por exemplo, capacita os sitiantes à instalação da fossa séptica biodigestora, um sistema prático e barato que recolhe o esgoto diretamente em caixas, sem pôr em risco poços caseiros e lençóis freáticos.
Saiba mais: www.projetomogiguacu.org.br
+ A água: baía de Guanabara
O caso: Projeto Mangue Vivo
O que está sendo feito: Um ano depois de mais de 1 milhão de litros óleo terem sido derramados nas águas da baía de Guanabara, a Fundação Ondazul iniciou um programa de recuperação dos mangues. Abrangendo os municípios de Magé, Itaboraí, Guapumirim, São Gonçalo e Niterói, o programa se dedica ao replantio da vegetação das áreas atingidas desde 2001. Além disso, há a inclusão das comunidades que sobreviviam da pesca do caranguejo – prejudicadas com a contaminação – num trabalho alternativo, que tem como objetivo trazer a vida de volta aos mangues. Através de campanhas publicitárias educativas, a Ondazul ainda consegue reduzir a quantidade de lixo gerada pelos moradores do entorno da baía.
Saiba mais: www.ondazul.org.br
+ A água: nascentes do rio Xingu
O caso: Campanha ‘Y Ikatu Xingu
O que está sendo feito: O projeto ‘Y Ikatu Xingu alerta para a situação das nascentes do rio Xingu. Na verdade, tenta se recuperar do prejuízo causado pelo desmatamento e queimadas conseqüentes do cultivo de soja no Planalto Central e nordeste do Mato Grosso, processo que se acentuou durante a década de 1990. Com as margens descobertas de vegetação, os rios sofrem com o assoreamento em diversas partes. Devido à devastação e às queimadas, algumas nascentes do rio Xingu já secaram. O desafio da campanha é reverter essa situação replantando mudas nativas e mostrando à população dessas áreas a importância da preservação dos recursos hídricos.
Saiba mais: www.socioambiental.org
+ A água: baía de Guaratuba (PR)
O caso: repovoamento de robalos na região
O que está sendo feito: A pesca predatória do robalo, um peixe apreciado na culinária pelo sabor suave e carne sem espinhas, vem dizimando o animal do litoral sul. Peixe carnívoro e com função importante na cadeia alimentar, sua escassez é responsável por um desequilíbrio em seu habitat. A PUC-PR e a Secretaria da Ciência e Tecnologia do estado já liberaram cerca de 30 mil filhotes nas águas do mar. O projeto, previsto para se encerrar em 2009, prevê a soltura de mais 270 mil filhotes, além da conscientização dos pescadores da região em devolver ao mar os peixes que ainda não tenham atingido a idade adulta.
Saiba mais: www.pucpr.br/ensino/cppom/robalo.php
+ A água: Abrolhos (BA)
O caso: governo da Bahia veta empreendimento de criação de camarão em Abrolhos
O que está sendo feito: O governo do estado da Bahia declarou oposição ao projeto da Cooperativa de Criadores de Camarão do Extremo Sul da Bahia (Coopex) para o empreendimento de criação de camarões na Área de Proteção Ambiental Ponta da Baleia/Abrolhos. A criação seria montada numa faixa de 1.500 hectares onde se localiza a maior concentração de recifes de corais da América do Sul, com várias espécies endêmicas. A carnicicultura (como é chamada a criação de camarões) pode promover a contaminação da água devido ao uso de substâncias químicas derramadas no mar e a disseminação de doenças entre crustáceos. Cogita-se que o projeto possa afetar a fauna marinha do arquipélago de Abrolhos, a 60 quilômetros de Caravelas.
Saiba mais: www.ibama.gov.br/parna_abrolhos
+ Água: litoral sul e sudeste da costa brasileira
O caso: Projeto Albatroz reduz a pesca acidental de albatrozes
O que está sendo feito: Apesar de não ser uma ave brasileira, o albatroz utiliza a nossa costa para se alimentar durante seu processo migratório. Os atuneiros (barcos de pesca de atum) usam a lula – principal alimento do albatroz – como isca, e acabam capturando as aves por acidente. Estima-se que o Brasil seja responsável por cerca de 10% da pesca acidental de albatrozes. As medidas preventivas envolvem conscientização dos pescadores, tingimento da lula em azul para camuflagem com a cor do mar, e a colocação de tori lines – espécies de linhas coloridas – ao longo da linha de pesca, para afugentar os pássaros. Apenas com a adoção das medidas, um barco capturou apenas cinco aves em um ano de pescaria. Sem as medidas, os barcos chegam a capturar 40 albatrozes numa só viagem.
Saiba mais: www.albatroz.org.br
– A água: lagoas e praia da Barra da Tijuca (RJ)
O problema: despejo de esgotos domésticos in natura no mar
O caso: Depois de seis anos de obras, o emissário submarino (duto que transporta os esgotos até o mar) da Barra finalmente começou a funcionar, no dia 10 de abril. No entanto, o sistema que foi projetado para aliviar a carga poluidora despejada diariamente nas lagoas da Barra por enquanto está varrendo a sujeira para debaixo do tapete. Isso porque, em razão da pressa do poder público em inaugurar a obra, foi aprovado um projeto de lei que permite o início dessas atividades sem que, sequer, o esgoto passe por um tratamento primário. E, por dia, são 77 milhões de litros de esgoto que vão para o mar.
Saiba mais: www.surfrider.org.br
– A água: água da floresta amazônica (AM)
O problema: escassez de água
O caso: Segundo o relatório recém-divulgado pela ONG WWF, em 40 anos a temperatura da Amazônia tende a subir entre dois e três graus Celsius. Essa pequena mudança pode acarretar uma série de problemas para o mundo todo. A incidência de chuvas diminuirá e todo o sistema hidrológico da floresta, que tem influência grande e direta sobre a manutenção do clima mundial, será afetado. Além disso, a água liberada no ar pela vegetação tem impacto sobre as correntes marítimas.
Saiba mais: www.wwf.org.br
– A água: represas Billings e Guarapiranga (SP)
O problema: urbanização clandestina
O caso: A construção do trecho sul do Rodoanel – obra já iniciada e com conclusão prevista para 2010 – afetará diretamente as duas principais áreas de mananciais da região metropolitana de São Paulo. Da mesma maneira que aconteceu com as rodovias Imigrantes e Anchieta, o processo de urbanização poderá ser intensificado nesse novo trecho do Rodoanel. Com isso, prevê-se um impacto degenerativo direto em 29 sub-bacias hidrográficas da Billings.
Saiba mais: www.socioambiental.org
– A água: rio Miranda (Pantanal)
O problema: desequilíbrio ambiental
O caso: Diversos pontos de irrigação espalhados à margem do rio Miranda o colocam em risco. O rio, que na década de 80 sobreviveu a uma contaminação por agrotóxicos, hoje sofre com a perda do grande volume de água que está sendo destinado às crescentes áreas de lavouras de arroz. Se muito em breve não houver um controle dessa captação (e também quanto ao uso de agrotóxicos), o Miranda estará correndo sérios riscos.
Saiba mais: www.riosvivos.org.br
– A água: bacia do Prata
O problema: está entre as dez mais ameaçadas do mundo
O caso: A sobrepesca, a agricultura e as hidrelétricas são as principais ameaças à bacia do Prata, uma das dez maiores bacias hidrográficas do mundo. Segundo a WWF, até o Pantanal está correndo riscos, já que a redução de míseros 25 centímetros no nível do rio Paraguai (um dos principais da bacia do Prata) seria suficiente para provocar diminuição superior a 20% da área inundada da planície pantaneira.
Saiba mais: www.wwf.org.br
– A água: vale do Ribeira
O problema: represamentos e contaminação
O caso: O projeto que prevê a construção de quatro barragens ao longo do rio Ribeira do Iguape está tirando o sono de ambientalistas e moradores do vale do Ribeira, localizado entre os estados de São Paulo e Paraná. Teme-se que, caso seja concretizado, alterará o regime hídrico do rio. Além disso, o Ribeira de Iguape corre o risco de contaminação da água com metais pesados (chumbo e cromo).
Saiba mais: www.socioambiental.org.br
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de maio de 2007)
AVIS RARA: Os albatrozes-de-sobrancelha, símbolos do projeto
ILHAS FALKLAND: Local onde os albatrozes se reproduzem