Por Marilin Novak
Você acha que domina totalmente o esporte que pratica? Se respondeu que sim, pode tirar o seu cavalinho da chuva, ou melhor, do mar, pois nem um dos mais experientes canoístas brasileiros tem certeza disso. Quinze vezes consecutivas campeão brasileiro de canoagem de velocidade e oito vezes campeão na modalidade oceânica, o super-atleta Fábio Paiva assume, humildemente, que o sexteto santista do qual fazia parte não levou o título no sul-americano de canoa havaiana, disputado no Rio de Janeiro no dia 03 de dezembro, por um descuido seu – “um erro de iniciante”, como ele diz.
O evento aconteceu na Praia Vermelha e reuniu 90 atletas do Brasil, Estados Unidos, Argentina e Polinésia Francesa (Taiti). Promovida pelo Rio Va’a Clube, a competição foi dividida em provas solo de distância, solo de velocidade, dupla e sexteto. O time de Fábio, o 98 Tribo Q Pira, foi quase imbatível e abocanhou três dos quatro canecos, levando o título geral do campeonato na categoria masculino.
A categoria sexteto escapou dos remos da Tribo Q Pira e ficou com a Rio Va’a Clube, seguida pela argentina Manu Okedai, por dois motivos: uma forcinha da mãe Natureza, somada ao erro da equipe de não levar equipamentos de segurança suficientes para um mar tão mexido. Os remadores levaram apenas dois vertedouros – os baldes que fazem o esgotamento da água dentro da canoa, um trabalho realizado em sistema de revezamento durante os 28 quilômetros do percurso –, número insuficiente para um dia de ventos fortíssimos e muitas ondas. Para se ter uma idéia, a revolta dos mares fez com que quatro das 15 canoas que largaram no masculino e feminino ficassem à deriva.
“Estávamos brigando pelo primeiro lugar com a equipe argentina e o trabalho em equipe estava indo bem, mesmo com as dificuldades para escoar a água do mar”, conta Fábio. “De repente, três ondas fortes seguidas engoliram a nossa canoa a apenas sete quilômetros do final. Ficou impossível continuar, principalmente por termos apenas dois baldes. Nessa hora, desistimos da competição e minha única preocupação passou a ser a segurança da equipe no mar”, conta Fábio.
Glub glub para lá, glub glub para cá, e o remador Sebastián Cuattrin tomou uns goles de água salgada por não ter intimidade com o mar virado. Mesmo com a mega-experiência que tem em cima de uma canoa (ele é dono de nove medalhas pan-americanas e venceu a Rio Va’a na categoria solo 10 km), Cuattrin teve princípio de hipotermia e precisou ser atendido pelos médicos. Fábio disse que a primeira coisa que Cuattrin fez depois do caldo foi olhar para ele. “Se eu estivesse calmo, é por que a coisa não era tão séria assim”, conta Fábio, que tranqüilizou o grupo com a sua serenidade ao gerenciar o episódio. Agora, se a cara de “situação-sob-controle” era real ou foi apenas para acalmar os náufragos desesperados, só ele sabe.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2007)
HOMENS AO MAR: Força e sincronia contra o mar em fúria