Por Fernanda Franco Velho Chico. Velho de sábio, experiente. Chico de companheiro, próximo. Mais que um apelido, é com esse respeito que o maior rio inteiramente brasileiro é conhecido. São 2.700 quilômetros da nascente localizada em um brejo na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até sua foz na divisa dos Estados de Alagoas e Sergipe, percurso que irriga a vida e a terra de quase 14 milhões de pessoas que moram nas cidades banhadas pelo São Francisco.
O rio que alimenta as famílias ribeirinhas também oferece corredeiras radicais e energia para as usinas que abastecem de eletricidade a região Nordeste. Apesar da fundamental importância do São Francisco, suas águas lutam contra a poluição, o desmatamento das margens e o assoreamento do leito, só para citar alguns dos problemas mais graves. Por conta disso, surgem iniciativas de vários cantos do país para lembrar que o Velho Chico merece mais atenção e cuidado, antes que seja tarde demais.
Um desses pedidos de ajuda partiu do mineiro Rodrigo Fiúza, 30. Sua expedição Caminhos do São Francisco percorreu todo o trecho navegável do rio, começando em Pirapora, em Minas. A bordo de um caiaque e com o apoio de um barco e dois carros, Rodrigo e sua equipe navegaram registrando a vida simples dos locais, as tradições culturais e as riquezas naturais.
De Pirapora, a expedição seguiu para Januária –a base do projeto social da viagem, que tinha como uma das metas distribuir alimentos para populações carentes. Nessa porção mineira do rio, a equipe mergulhou na realidade da região: tiveram a hélice do barco de apoio quebrado pelos bancos de areia que vêm se formando no fundo do rio e conheceram a esperança de uma família que aguarda a chegada da luz elétrica até hoje e, por isso, conserva o teto de sua casa todo decorado com lâmpadas.
Depois da distribuição das cerca de três toneladas de alimentos a entidades assistenciais, o grupo rumou por terra para Itacarambi. Ali está o Parque Nacional do Vale do Peruaçu, um tesouro verde localizado na margem esquerda do São Francisco. Com 56.800 hectares, o parque é formado por cerca de 140 cavernas, galerias, além de sítios arqueológicos e pinturas rupestres. É um lugar de enorme importância para a espeleologia, mas, devido a seu ambiente frágil, está fechado à visitação.
O vale abriga a maior estalactite já catalogada no mundo, com cerca de 28 metros, e também a Gruta do Janelão, uma gigantesca caverna com três clarabóias onde, graças à luminosidade que penetra em seu interior, há uma floresta fechada. A expedição teve o privilégio de fazer a medição da caverna – 178,50 metros de extraordinária beleza. Com esse potencial turístico, os moradores locais aguardam a abertura do local. “A previsão é que isso aconteça no final de 2007. Estamos fazendo um trabalho de orientação com a comunidade sobre a importância de preservar da região”, diz Evandro Pereira da Silva, gerente do parque.
Ao todo, a expedição percorreu 2.000 quilômetros, metade deles navegando pelo rio. As imagens registradas serão transformadas em um documentário. Iniciativas como a de Rodrigo e a abertura do parque de Peruaçu, que atrairá visitantes interessados na natureza, são gritos de alerta para que o Velho Chico seja revitalizado e continue levando sua experiência e riqueza a milhões de brasileiros.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro de 2006)
RIO ADENTRO: Cavernas do Peruaçu
Fotos por David Santos Júnior
EXPEDIÇÃO: Fiúza em seu caiaque