Por Cassio Waki
Um dos maiores circuitos de ultracorrida do mundo, o Racing The Planet teve início este ano no dia 28 de maio e terminou seis dias depois, invadindo o terceiro dia de junho. Foi a etapa dos ventos, a Gobi March, que acontece na parte chinesa do deserto de Gobi (ao norte do país, próximo à fronteira com a Mongólia). Cem competidores de 20 países percorreram 260 km em seis estágios – os dois primeiros de 37 km e os outros de 39,7 km, 79,1 km, 53 km e 13 km, respectivamente – experimentando frio, calor, céu aberto, chuva, altas montanhas, areia, saleiras e muito, muito vento. Um desafio e tanto, mesmo para os corredores mais resistentes do mundo.
Do total de atletas que largou, 86 conseguiram cruzar a linha de chegada. “É uma experiência inigualável e quero fazer tudo de novo, mas não tão cedo. Enquanto espero a próxima, vou valorizar muito mais cada banho que tomar e cada refeição que comer”, diz Andrew Eldon, de Hong Kong, China, que completou o percurso em 40 horas 34 minutos, chegando em 32º lugar.
A corrida é divida em estágios que devem ser completados no dia pelo corredor ou pela equipe, composta por três pessoas. Em cada trecho, os corredores devem passar por postos de controle que ficam separados por uma distância de 10 a 12 quilômetros. É obrigatório carregar todo o seu equipamento na mochila, além das roupas, comida, tênis, bastões de caminhada, remédios – tudo de que pode precisar durante os seis dias de competição, já que esta é uma prova de auto-suficiência. Somente a água é fornecida, ao fim de cada etapa, nas tendas disponibilizadas pela organização do evento. É nessas tendas que os competidores comem e descansam ao fim de cada estágio e se preparam para o próximo dia.
Uma das maiores dificuldades do deserto de Gobi são os ventos, que chegam perto dos 100 km/h. Porém, as saleiras não ficam muito atrás. Dos 37 quilômetros que o corredor Patrick Rummerfield, tetraplégico que se recuperou completamente, cruzou no primeiro dia em 15 horas e 36 minutos, sete quilômetros eram no sal. “Foi a coisa mais difícil que já fiz em toda a minha vida”, disse Patrick, que também já completou um Ironman no Havaí.
O vencedor do Gobi March 2006 foi o coreano Byeng Ahn com o tempo total de 27 horas e 46 minutos. A japonesa Kazuko Kaihata foi a mulher mais rápida, completando os 260 quilômetros em 33 horas.
Neste mês, no dia 23, os competidores se encontram no Chile para encarar o clima hiperseco do deserto do Atacama, na segunda etapa do Racing The Planet. A terceira etapa reserva o calor do deserto do Saara, no Egito, e a última traz o frio da Antártica – é, achou que deserto era só na areia?
Site: www.racingtheplanet.com
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de julho de 2006)
NO SAL: Corredor atravessa uma mistura de saleira com lamaçal no primeiro dia de prova