Rolê real


CAMBALHOTA: O inglês Lance McDermot executa um backflip perfeito no Parque das Nações

Texto e fotos por Pedro Cury

TUDO COMEÇOU NA 2ª EDIÇÃO DO FESTIVAL BIKE, A MAIOR FEIRA DE CICLISMO E MOUNTAIN BIKING DE PORTUGAL. Realizada em novembro, a feira é um dos últimos eventos de bike do ano na Europa, já que a temporada acabou e o clima começa a esfriar nessa época do ano. Foram recebidos mais de 16 mil visitantes nos dois dias da feira que aconteceu em Santarém, a 70 quilômetros de Lisboa.

Além da exibição de novos equipamentos por lojistas e representantes nos 55 estandes espalhados pelo local, os organizadores criaram um espaço para um campeonato e demonstração de Dirt Jump. Para dar uma boa apimentada foram convidados atletas internacionais de renome. Da Inglaterra vieram Lance McDermot e Grant “Chopper” Fielder da equipe 24Seven, ambos com currículos invejáveis e especialistas em dirt. Lance vem da cena do BMX, sempre praticou street e vertical, e até se classificou para os X-Games. Já Grant “Chopper” Fielder sempre andou em mountain bikes e já foi campeão do John Cowan Dirt Contest, um campeonato de dirt jump de altíssimo nível na Califórnia.

Da Alemanha veio Timo Pritzel, da equipe Scott, que é famoso por seus backflips (mortal para trás) em mountain bikes, executados com perfeição e grande amplitude, podendo chegar a 10 metros de altura! Timo veio do BMX e ficou famoso por ter participado de vários filmes de freeride, sempre apresentando manobras com grandes extensões e tendo pistas construídas especialmente para ele. Ano passado, Timo realizou o que dizia ser seu sonho: pular sobre o muro de Berlim — mandando um backflip, é claro.

As apresentações dos pilotos no evento foram perfeitas. Mesmo com uma pista sem muitas opções — apenas três grandes saltos de terra — foi possível ver manobras difíceis como backflips, tailwhips (o biker segura o guidão e gira o resto da bike), no foot can can (o biker joga as duas pernas para um dos lados da bike), table tops (“entortando” a bike no ar), suicidals (tiram as duas mãos do guidão e estica os braços para trás), 360s, nothings (tira as mãos e pés da bike ao mesmo tempo) e X-Ups (gira o guidão 180 graus), e vários tipos de combinações dessas manobras. Porém, o público foi mesmo ao delírio quando Timo e Lance executaram um backflip ao mesmo tempo e na mesma rampa. Realmente algo que não vemos todo dia.

Aproveitando a oportunidade de receber bikers tão habilidosos, os locais resolveram levar os “gringos” aos melhores points para a prática de mountain bike em Lisboa e arredores, e ver o que eles iam aprontar. A reportagem da Go Outside estava lá e conferiu in loco o rolê.


DESPENCANDO: Ruy atravessa o gap em cima da ponte de madeira a mais de 2 metros do chão

SKATE PARKS

Em Lisboa, bem perto da ponte Vasco da Gama, fica o skate park do Parque das Nações. Com transfers, spines e obstáculos comuns de parks, os pilotos puderam executar com facilidade manobras como backflips, 360s, tail whips e no foots. O espaço tem um visual privilegiado e as rampas foram bem projetadas. O local é todo de concreto, sem dirts. Para chegar, basta seguir em direção à ponte Vasco da Gama e, antes de chegar lá, virar na placa que indica “Expo 98/Parque das Nações”. Seguindo um pouco adiante, existe uma escada com dois lances, onde o local Francisco Alves (Team SKillBikes) executou um stair gap (voar por cima do primeiro lance da escada, atravessar a transição plana e cair no segundo lance). Só para os mais atirados.

Em Oeiras, nos arredores de Lisboa, existe outro skate park, este indoor e com menos opções de rampa, tendo um half pipe grande, um quarter (meio half pipe, só que pequeno) — sendo a parte superior um wallride, parede côncova que permite que o biker faça manobras nela — e uma fun box (um "combinado" de rampas, tablado e corrimão). A manobra mais radical da tarde foi um foot-plant de Timo Pritzel. Na manobra, o piloto salta em direção à parede (wallride) e, com um dos pés, empurra-se de volta para a rampa.

DIRT JUMPS

Na mata de Monsanto, também conhecido como Parque de Monsanto, existe um pequeno parque de Dirt Jump que conta com o apoio e manutenção da prefeitura. Os saltos formam uma seqüência, juntamente com uma curva em relevê (curva inclinada). O local é excelente para iniciantes, mas não possui nenhum salto grande. Assim mesmo, o alemão Timo Pritzel executou a manobra que o fez famoso, o backflip, diversas vezes, para delírio dos poucos expectadores convidados. Para chegar lá, pegue a auto-estrada na direção de Cascais e depois siga as indicações para Monsanto.


CARTÃO POSTAL: Timo Pritzel mandando uma "table top one foot" com a ponte Vasco da Gama ao fundo

DOWNHILL E FREERIDE

Na região de Sintra, existe um bike park com trilhas bem reformadas e com muitos obstáculos artificiais como pontes suspensas de madeira (shores), wallrides, road gaps (saltos cruzando a estrada) e dirt jumps. Em algumas, os obstáculos possuem “bypass” (duas passagens) para que os iniciantes não precisem executá-los. Os nomes das trilhas foram inspirados nas músicas do Metallica: “Ride the Lightning”, “Master of Puppets”, “Kill-em-all” e “And Justice for all”. O visual para chegar no topo das trilhas é lindo, com vista para a praia do Guincho. Vindo de Lisboa, pegue a auto-estrada para Sintra e depois a saída para Malveira da Serra. É essencial pedir mais informações para os pilotos locais, pois chegar ao começo das trilhas não é tão fácil. Além dessas trilhas, existem muitas outras em fase de desenvolvimento.

MASTER OF PUPPETS

É a trilha mais fácil e, por isso, indicada para iniciantes. Todos os obstáculos têm alternativas para não executá-los (“bypass”). É também a trilha mais freqüentada e serve de aquecimento para as mais difíceis. Essa trilha é formada em grande parte por single tracks (trilhas estreitas), dentro de mata bem fechada. A inclinação não é das piores.

Distância: 2.2 km

Dificuldade: fácil

RIDE THE LIGHTNING

Tem um nível de dificuldade maior do que a anterior, com obstáculos médios, duplos, drop offs (saltos verticais) e shores com 1 metro de altura do solo. Os obstáculos também possuem “bypass”. Os destaques dessa trilha são um wallride feito de madeira (obstáculo em que o piloto “anda na parede”) e uma gangorra de madeira em cima de uma ponte suspensa.

Distância: 2 km

Dificuldade: moderada

KILL-EM-ALL

Esta é considerada pelos locais como muito difícil, tendo os mesmos tipos de obstáculo que a Ride the Lightning, mas de maiores dimensões. Além disso, os obstáculos não possuem caminhos alternativos.

Distância: 1,7 km

Dificuldade: difícil

AND JUSTICE FOR ALL

Trilha extrema, aconselhada apenas para pilotos muito experientes. A maioria dos obstáculos é artificial, com muitas pontes de madeira que podem ficar a até três metros de altura do solo, bem estreitas e que desafiam o equilíbrio do biker. Errar aqui pode te levar ao hospital.

Distância: 2 km

Dificuldade: casca grossa

EXTREME FREERIDE (drop offs)

Para os mais atirados, que gostam mesmo de se jogar com bike e tudo de bem alto, existem duas opções de diferentes tamanhos. Os dois drops ficam em Vale Milhaços, na margem sul do rio Tejo, mas é preciso da ajuda de algum local para encontrar o local exato, já que é na beira da estrada e no meio do mato. A aterrissagem dos dois é na terra, sem pedras, e o caminho de decolagem já é definido. Um tem 4 metros de altura e outro de 8 a 9 metros. Realmente é para quem tem experiência, pois um erro pode ser fatal. Como já era fim de dia, os pilotos ingleses se jogaram apenas do menor, mas com a promessa de voltar para o maior qualquer dia.


DICAS

É preciso alugar um carro, pois as opções são distantes umas das outras. Portugal ainda não possui grandes bike parks como nos países mais tradicionais no esporte, mas os locais estão fazendo um bom trabalho na evolução do esporte e da estrutura por lá.

Agradecimentos: Equipe Scott Portugal (http://freescott.no.sapo.pt/); Equipe 24Seven (http://www.24sevenbikes.com); SKillBikes (http://www.skillbikes.com); Todos os pilotos locais presentes; Fundição de Oeiras e academia dos Patins


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2006)