Disputa histórica


LADEEEEIRA: O equatoriano Mario Jarrin, segundo colocado

Por Piti Vieira
Foto por Fábio Piva

Nos dias 5 e 6 de agosto, as famosas estátuas dos doze profetas – esculpidas pelo mestre do barroco Alejadinho, na histórica cidade mineira de Congonhas (a 85 quilômetros de Belo Horizonte) – arregalaram os centenários olhos de pedra sabão para presenciar o show de vinte mountain bikers no desafio noturno de downhill de mountain bike, muito bem organizado pela Red Bull.

A marca montou uma pista casca grossa na Ladeira do Bom Jesus – tombada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade e com piso de pedra – com 10 obstáculos construídos em madeira e ferro ao longo do trajeto de 500 metros, margeado por uma proteção feita com 14 toneladas de feno. Eram rampas com fogo, gangorras, curvas de 45 graus e uma escadaria no final do percurso.

“A pista era extremamente perigosa por causa dos vãos entre as pedras, que socavam e debulhavam muito a bike, e por ser em chão muito duro. Qualquer tombinho machucava pacas”, diz o vencedor Róbson “Urubu” dos Santos, 37 anos. “Estou acostumado com provas internacionais e essa foi a melhor prova que já vi no Brasil”, completa Markolf Berchtold, 25, brasileiro mais bem colocado no circuito internacional de downhill, que ficou com a terceira colocação depois de cair quando disputava a semifinal com o equatoriano Mario Jarrin, 21, atual campeão de downhill e 4X do seu país, e segundo colocado no evento brasileiro.


VENCEDOR: Róbson Urubu, à esquerda

DESÂNIMO

Filho de um borracheiro de Londrina, no Paraná, Urubu dedicou a vida às duas rodas e ao esporte. Visivelmente emocionado, o garoto que aos seis anos dormia abraçado à sua Monareta Mirim Dobramact e treinava para as competições de mountain bike com a Caloi Ceci rosa da namorada – hoje esposa – disse à reportagem da Go Outside que fez de tudo para não ir ao evento. “O ligamento do meu joelho estava rompido e eu não tinha ritmo de prova, apesar de estar bem de preparo físico e psicológico”, conta ele. “Mas a decepção por estar a 12 anos no esporte e não ter grana suficiente para treinar, ir às provas e viver mais confortavelmente foi o principal motivo para meu desânimo. Como tinha compromisso com o Tadeu Monteiro, responsável pelo circuito, e com meus patrocinadores (Powerbar, Vzan, Two Wheels, Proshock), fui para o desafio pensando em estar presente, mas só vi que podia ganhar quando treinei na pista e senti que tinha condições de fazer algo”.

Uma das poucas bikers a representar o Brasil na Copa do Mundo de Dowhill, Patrícia Loureiro, foi a única mulher a competir em Congonhas. Com 10 anos de mountain bike, a atual campeã brasileira terminou a disputa na última colocação. “Fiquei muito feliz em ter sido convidada e poder competir ao lado dos melhores”, disse a paulista de 25 anos. Entre os atletas estrangeiros estavam Andres Sotomayor, também do Equador, e Martin Raffo, da Argentina. Completavam a lista grandes nomes brasileiros como Nataniel Giacomozzi, Volkmar Berchtold, Luciano Kdra, Alcides Juniho e Leandro Campovilla, o Kblinho, entre outros. Os vencedores do Red Bull Desafio dos Profetas dividiram o prêmio total de R$ 13 mil – a maior premiação já paga na modalidade.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de setembro de 2005)