Aos 17 anos de idade, o escalador Felipe Camargo já rompia as barreiras da escalada esportiva brasileira estabelecendo graus inéditos pelo país. Hoje, aos 20, a busca pelas vias mais difíceis continua. Depois de uma recente temporada europeia, viajando por picos clássicos de escalada na Alemanha, Espanha, França e República Tcheca, ele voltou realizado com mais uma conquista: a via Alí Hulk, na Espanha, uma escalada desgastante, como ele explica a seguir, e como comprova o vídeo abaixo: GO OUTSIDE: Quantos dias – e tentativas – você levou para conquistar a Alí Hulk? Como foi até a conquista? Essa viagem tinha algum objetivo especial?
FELIPE CAMARGO: Foram duas semanas de tentativas. Portanto não é algo difícil apenas fisicamente [a Alí Hulk é graduada como 11c pela tabela brasileira]. Psicologicamente também é desafiador. Manter a motivação alta para tentar a mesma via por duas semanas não é fácil. Foi um processo muito louco, que nos primeiros dias parecia impossível, ou então que seria muito demorado. Mas meu corpo começou a se adaptar com a via e, quando percebi, já estava disposto a realmente mandá-la [subir por ela]. Na última semana, eu tentava de verdade uma vez por dia. Depois eu treinava a via, repetindo os movimentos até meu corpo os assimilar e eu ganhar a resistência necessária.
Sim. Como em 2009, na Espanha, eu tinha escalado a via Los Inconformistas (11c), queria tentar outra parecida para confirmar que realmente consigo escalar esse grau. É um grande desafio, porque é preciso encontrar a via certa, em que você consiga se encaixar bem e que seja do seu estilo. Minha intenção era tentar a mítica Action Direct, a primeira via 11c do mundo – grau estabelecido pelo [escalador alemão] Wolfgang Güllich em 1991, em Frankenjura, na Alemanha. Esta via, que ficou mais de 10 anos sem ser repetida, é muito específica, devido aos vários monodedos. Justamente por causa de uma lesão no dedo, eu decidi ir para Espanha e deixar a Action Direct para uma próxima.
Além da Alí Hulk, quais foram suas outras experiências?
Passar três meses na Europa sempre é um grande aprendizado. Pude escalar vias mais fáceis e várias outras 9c e 10a em flash [na primeira tentativa]. Também conheci lugares incríveis, como Céüse, na França, e Frankenjura, na Alemanha.
Pretendo viajar pelo Brasil e encadenar alguns projetos de boulder e vias bem difíceis que temos espalhados pelo país. Gostaria muito de achar algo tão difícil quanto a Alí Hulk.
DURO: Felipe na Alí Hulk (à esq.) e ecadenando um 10b na Alemanha
(FOTO: Thanasis)