Fuerza en las piernas!

Depois do Giro d’Italia e do Tour de France, é a vez de a Vuelta a España atrair milhares de fãs em seus 3.300 km, divididos em 21 etapas. Saiba mais sobre a história, novidades e estrelas principais da prova, que rola de 20 de agosto e 11 de setembro

Por Mario Mele


TREM DA ALEGRIA: Ciclistas dão duro na Volta da Espanha

CRIADA EM 1935, a Volta da Espanha é a irmã mais novas entre as três grandes provas ciclísticas internacionais, da qual fazem parte o Tour de France (desde 1903) e o Giro d’Itália (1909). Ser caçula, no entanto, não significa menos emoção. Ao contrário: não faltam razões para acompanhar a volta espanhola, que será disputada de 20 de agosto a 11 de setembro. Eis aqui alguns bons motivos.

1> UM POUCO DE HISTÓRIA
COM 76 ANOS DE EXISTÊNCIA, a Volta da Espanha coleciona um bocado de boas histórias. Em 1935, no ano debutante, a prova tinha 3.425 quilômetros e apenas 14 etapas, o que dava uma média diária de pedal superior a 240 quilômetros. Ciclistas reclamaram que isso era sobre-humano, mas o belga Gustave Deloor concluiu a “roubada” para se tornar o primeiro campeão do evento. Ele repetiu o feito no ano seguinte, pouco antes de a Guerra Civil Espanhola, aliada a uma grave crise financeira no país, congelar a competição por quatro anos.

No início, a inconstância marcou a maior prova ciclística da Espanha. A Volta não aconteceu durante sete anos entre as décadas de 1940 e 1950, até tomar fôlego definitivo em 1955 e, finalmente, se firmar como um dos grandes eventos do ciclismo mundial. Em 1978, os espanhóis testemunharam o início da hegemonia do francês Bernard Hinault no ciclismo. Ele voltaria a ganhar a Volta em 1983, quando já era tetracampeão do Tour de France e bi do Giro d’Italia.

A década de 1990 foi um ataque suíço. Tony Rominger ganhou três vezes (1992, 93 e 94) e Alex Zülle, duas (1996 e 97). Nos dez anos seguintes, a Espanha virou o jogo com o tricampeonato de Roberto Heras (2000, 03 e 04) e as consagrações de Alberto Contador (2008) e Alejandro Valverde (2009). O ano de 2011 será uma Volta sem favoritos, mas o espanhol Carlos Sastre já se adiantou dizendo, logo após a divulgação do percurso, que está confiante com uma Volta da Espanha que favorece escaladores como ele.

2> NOVIDADES EM 2011
ALÉM DE REPRESENTAR o último grande desafio do ciclismo de estrada do ano, a prova espanhola – que acontece de 20 de agosto a 11 de setembro – costuma ser acirrada até os últimos instantes. Em 2010, o espanhol Ezequiel Mosquera (equipe Vacansoleil) e o italiano Vincenzo Nibali (Liquigas) disputaram o título na famosa subida Bola do Mundo, que até o ano passado ficava reservada à penúltima etapa (mas que não está no itinerário de 2011). O forasteiro Vicenzo foi campeão, e nesta edição defende a camisa vermelha de líder.

Em 2011 também haverá dois estágios no País Basco, área ao norte da Espanha. A última vez que isso aconteceu foi em 1978, quando, em protesto, simpatizantes de movimentos separatistas construíram uma barricada e atrapalharam a passagem dos ciclistas. Desde então, por questões de segurança, a prova não passava por aquela região. Tudo indica que hoje as relações no norte do país estão tranqüilas com o governo não-nacionalista de Patxi López, e os fãs bascos poderão ver novamente a competição passando na porta de casa.

Como aconteceu no ano passado, o primeiro estágio será um contra-relógio noturno, algo bem inusitado no ciclismo. Das 21 etapas, dez serão de montanha, sendo seis com chegada ao topo.

3> ETAPAS IMPERDÍVEIS
Etapa 1: contra-relógio em Benidorm (20/08)
A 66ª Volta da Espanha começa em Benidorm, município de Alicante, no leste do país. Será um contra-relógio noturno e por equipes, previsto para começar às 19 horas no horário local – 14 horas no Brasil. Num circuito técnico de 13,5 quilômetros, os ciclistas passarão próximo à praia de Poniente, que há 12 anos não fazia parte do trajeto da competição.

Etapa 8: Talavera de La Reina – San Lorenzo de El Escorial (27/08)
Logo após a primeira semana de competição, as montanhas começam a assombrar os ciclistas. No último sábado de agosto, os escaladores vão ter que fritar as pernas por 177 quilômetros para chegar a San Lorenzo de El Escorial. Além de ver em ação espanhóis bons de subida como Mosquera e Carlos Sastre (Geox-TMC), você vai conhecer os imponentes palácios e mosteiros do século 18 por onde a prova passará. Depois dessa etapa, a classificação geral da Vuelta certamente terá mudanças consideráveis.

Etapa 15: Aviles – Alto de L’Angliru (04/09)
Enquanto a subidaça Bola do Mundo ficou de fora em 2011, a mítica estrada Alto de L’Angliru, na montanha das Astúrias, está de volta. Trata-se de uma das escaladas mais duras de todo o Pro Tour, o circuito mundial de ciclismo. Além de sinuosa, a subida espanhola é bem dura, com 12,5 quilômetros de extensão e xx% de inclinação. Para se ter uma ideia, em 2002 alguns carros de apoio não conseguiram transpor o trecho mais íngreme, com o asfalto molhado pela chuva. Quando o objetivo é chegar ao topo da montanha das Astúrias, até Alberto Contador (Saxo Bank-Sungard) fica com as pernas tremendo. Todo ano, há profissionais que não conseguem terminar essa etapa, que, no total, soma 142 quilômetros de extensão. Entendeu agora por que os espanhóis são excelentes escaladores?

Etapa 19: Noja – Bilbao (09/09)
Após nove etapas de montanha, o terreno dá uma leve trégua aos competidores. É uma boa oportunidade para os 198 ciclistas das 22 equipes presentes este ano atravessarem pela primeira vez em suas carreiras o País Basco numa Volta da Espanha. O trajeto entre Noja e Bibao é de 158,5 quilômetros, bastante planos. O maior sofrimento aqui será dos sprinters, como o britânico Mark Cavendish (HTC-Highroad) e o francês Sébastien Chavanel (Europcar).

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4> AS GRANDES ESTRELAS
NO FIM DO ANO PASSADO, o espanhol Alberto Contador, o maior nome do ciclismo da atualidade, disse que disputaria duas das três grandes voltas em 2011. Na última edição do Giro d’Itália, em maio, ele não só participou como venceu. Portanto dificilmente estará na prova espanhola – vencida por ele em 2008 –, já que é presença garantida no Tour e o intervalo entre o término da competição francesa e o começo da espanhola é de menos de um mês.

Além do italiano Vincenzo Nibali e do espanhol Ezequiel Mosquera, o luxemburguês Fränk Schleck (Leopard Trek), quinto na Volta passada, é sempre um favorito e será provavelmente visto entre os primeiros durante as etapas de montanha. Outra boa aposta é o russo Denis Menchov (Geox-TMC), bicampeão da Volta da Espanha (2005 e 2007). Sua equipe, que é espanhola, não está entre as 18 escaladas para disputar o Pro Tour deste ano, mas é uma das quatro convidadas para comparecer à prova espanhola. Denis vem embalado: em 2011, ele foi oitavo no Giro e, aos 33 anos, terá uma de suas últimas chances para tentar o tri na Espanha.

A Volta costuma trazer ciclistas menos conhecidos à cena, já que sua data é sempre próxima do ultraprestigiado Tour de France. Este ano, vale prestar atenção no russo Egor Silin, 23, escalador da equipe Katusha, e no eslovaco Peter Velits, 26, da HTC-Highroad, que venceu a primeira etapa da Volta em 2010, deixando para trás os experientes Denis Menchov e o suíço Fabian Cancellara (Leopard-Trek). O ciclista basco Igor Antón (Euskaltel-Euskadi) é outro cara que promete acirrar ainda mais as etapas íngremes.
Nós do Brasil temos também para quem torcer: o catarinense Murilo Fischer, da equipe norte-americana Garmin-Cérvelo, garantiu presença.

5> COMO ASSISTIR
PARA NÓS, SUL-AMERICANOS, a melhor saída para acompanhar a Volta da Espanha é mesmo a internet. No site Universal Sports (universalsports.com), a assinatura do pacote com todas as etapas custa US$ 15. Mas cheque antes a conexão online do canal espanhol RTVE (rtve.es). Se perder a transmissão ao vivo, acesse o site Steep Hill (steephill.tv) e veja fotos e vídeos de cada estágio.


TÁ RUSSO: Outra boa aposta é Denis Menchov, bicampeão
da Volta em 2005 e 2007

CAIA NA ESTRADA
NO INÍCIO DO ANO, quando quase toda a Europa sofre com um inverno congelante, a Espanha atrai ciclistas do mundo inteiro. Hotéis aconchegantes, bons visuais e estradas propícias a um treino de respeito encantam pelotões profissionais e amadores. Que tal então passar uma semana na cidade de Calpe, no sudeste do país, dividindo a estrada com prós das equipes Astana, Radioshack e Quickstep, que não saem de lá nessa época, se preparando para o início da temporada? No pacote oferecido pela agência Bike Spain, as saídas são matinais, com percursos diários que variam entre 50 e 130 quilômetros.

A tarde é reservada para visitar outras cidades da região e para cursos práticos de mecânica e treinamento. No total, são seis dias, para ciclistas de nível médio-avançado, durante os meses de janeiro, fevereiro e março. 980 €. bikespain.info

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de julho de 2011)