Passar apenas alguns meses de vida na Antártida podem ser extremamente difíceis, e ainda gerar efeitos no seu corpo. Recentemente, cientistas estudaram o cérebro de nove pessoas (cinco homens e quatro mulheres) antes e depois de passar 14 meses trabalhando na estação de pesquisa alemã Neumayer III, na Antártida. O resultado, divulgado no jornal The New England Journal of Medicine, mostrou que o cérebro dos nove havia diminuído.
As ressonâncias magnéticas realizadas após a expedição na Antártida mostraram que o cérebro de cada um da tripulação havia perdido uma quantidade significativa de volume no giro dentado, a parte do hipocampo do cérebro associada ao pensamento e à memória espaciais. Eles também detectaram menos volume de substância cinzenta em partes do córtex pré-frontal, a região do cérebro implicada na personalidade, na tomada de decisões e no comportamento social.
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De acordo com o estudo, as alterações cerebrais também pareciam afetar suas habilidades cognitivas. Os testes mostraram que os participantes tinham memória espacial reduzida e atenção seletiva, a capacidade de ignorar informações irrelevantes ao se concentrar em uma tarefa.
De fato, a vida no Polo Sul não é nada fácil. É um ambiente frequentemente sujeito a períodos de escuridão de 24 horas e um cenário de neve imutável. Os trabalhadores que vão para Antártida enfrentam temperaturas tão baixas quanto -50 ° C, mas também podem experimentar uma sensação de febre crônica na cabine. A vida cotidiana dentro da estação de pesquisa é caracterizada por monotonia e prolongado isolamento social, oferecendo pouco em termos de privacidade ou estímulo.
Embora eles não tenham procurado especificamente um nexo de causalidade, os pesquisadores acreditam que as mudanças no cérebro que observaram são o resultado dessa monotonia ambiental e do isolamento prolongado. Isto porque estudos anteriores também sugerem que o isolamento social pode ter um efeito profundo no comportamento e na estrutura do cérebro.
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“Esse cenário nos oferece a oportunidade de estudar as maneiras pelas quais a exposição a condições extremas afeta o cérebro humano”, disse Alexander Stahn, do Instituto de Fisiologia de Charité, e professor assistente da Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia ao jornal de medicina.
“Dado o pequeno número de participantes, os resultados de nosso estudo devem ser vistos com cautela”, alertou Alexander Stahn, acrescentando: “Eles fornecem, no entanto, informações importantes, a saber – e isso é suportado pelas descobertas iniciais em ratos – as condições ambientais podem ter um efeito adverso no cérebro e, em particular, na produção de novas células nervosas no giro dentado do hipocampo.”