Jim Reynolds é um nome que você provavelmente nunca ouviu falar, mas seus talentos até superaram em alguns aspectos Alex Honnold
Por Redação
Pedaços de gelo desciam pela parede de rocha. A época, a neve que cobria o topo do Fitz Roy, estava derretendo ao sol do meio-dia. Uma pedra de gelo caindo em sua direção seria o suficiente para arrancar Jim Reynolds da parede. Subindo sozinho – com apenas seus sapatos de escalada, uma bolsa de giz e uma mochila -, ele desviou de alguns pedaços, evitando o perigo imediato, e continuou subindo em um terreno desconhecido na face da rocha. Algumas centenas de metros depois, às 15h13 do dia 21 de março, o homem de 25 anos de Weaverville, na Califórnia, alcançou o cume do icônico pico da Patagônia. Mas a escalada para Reynolds estava apenas na metade do caminho. Em vez descer de rapel a rocha, o método usual de descida, ele estava prestes a fazer o inconcebível, algo que nunca havia sido feito antes. Ele ‘desescalou’ a rocha de mais de 1.500 metros de altura de forma solo, isto é, também sem equipamentos de segurança.
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“Imagine o pesadelo que era, descer no escuro com uma lanterna fraca, em parte da rocha molhadas e insegura, sem saber exatamente para onde ia o caminho. E isso foi provavelmente depois de 12 ou 13 horas de escalada interrupta”, disse o escalador.
Você pode reconhecer Jim Reynolds como o homem que fez uma parceria com Brad Gobright em 2017 para quebrar o recorde de velocidade na rota do The Nose de El Capitan. Mas sua ascensão solo e descida de Afanassieff (5.10c) no Fitz Roy, que pode ser a mais longa escalada solo de todos os tempos, o lançou para o próximo nível. A subida em si é enorme, e ninguém nunca fez nada de forma solo desse calibre. “Seria preciso uma equipe competente de dois, lançando-a, dois dias para fazer essa subida”, diz Ted Hesser, um alpinista e fotógrafo que também escalou o Fitz Roy nesta temporada.
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Para colocar essa escalada em perspectiva, quando Alex Honnold completou seu free solo inovador na via Freerider do El Capitan (5.13a) em Yosemite, ele subiu 910 metro em 3 horas e 56 minutos. Somando a subida e a descida, Reynolds encarou mais de 3.000 metros verticais em 15 horas e meia. Embora o Afanassieff seja tecnicamente mais fácil que o Freerider, a via está em um pico alpino e remoto, com sérios riscos e desafios de localização de rotas. Freerider, em comparação, é uma rota bem desenvolvida com rochas limpas em um dos parques nacionais mais movimentados dos EUA.
Antes do seu solo livre na via Freerider, Honnold passava incontáveis horas em uma corda, ensaiando e memorizando cada mão e pé que seguia pela via. Reynolds, por outro lado, escalou Afanassieff ‘on sight’, o que significa que ele nunca havia escalado a rota antes (exceto pelo primeiro terço da via, durante uma primeira tentativa de solo livre na semana anterior, quando não “parecia certo”) e não tinha conhecimento prévio das sequências de movimentos. Para ser claro, ambos os feitos são insanos – mas a escalada de Honnold é talvez o único feito possível para colocar o que Reynolds acabou de fazer em seu contexto apropriado.
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Reynolds está na equipe de pesquisa e resgate do Yosemite (YOSAR). Ele conhece os riscos da escalada. “As montanhas são lindas, mas também são brutais”, disse ele à National Geographic. “Eu vi as consequências de uma queda a mais de 300 metros do chão. Essas imagens da morte são uma parte de mim.”
Para fazer a escalada no Fitz Roy, ele passou três meses na região para procurar uma janela de bom tempo para fazer o ataque ao cume.