Escalador ficou quatro dias abrindo a nova via a 330 metros 

Por Thaís Valverde

O experiente escalador Eliseu Frechou abriu uma nova via na face norte da Pedra do Baú, um paredão de 330 metros em São Bento do Sapucaí – SP. Frechou escolheu fazer a escalada de forma solitária, isto é, com equipamentos de segurança, mas sem nenhuma parceria.

Segundo o escalador, a nova via se chama “Skywalker”, e une desde o chão a via das “Abelhas” (Adalbert Kolpatzik e Galba Athaíde, 81), “No Olho do Furacão” (Eliseu Frechou, Marcio Bruno de Oliveira e Ricardo Bordon, 97), segue independente, cruza a “Mela Cueca (Rodrigo Rodrigo, Euzebio Mattoso Berlinck Jr e Rodney Ferreira em 99), e novamente segue até o cume do Baú.

Frechou montando o portaledge na 8ª. parada para o último pernoite na parede – Foto: Ana Fujita

Eliseu Frechou escalou em solitário entre 25 e 28 de março. Nas semanas e até a noite anterior ao início da escalada, choveu muito em toda a região. Isto dificultou muito a progressão na pedra e atrapalhou a abertura de uma rota totalmente independente.

A via das Abelhas foi iniciada por dois grandes personagens do montanhismo paulista, Adalbert Kolpatzik e Galba Athaíde, e após a morte deles, permaneceu inalterada.

“Quando conheci o Adi e o Galba, escalamos algumas vezes e eles me deram total permissão para fazer a manutenção das vias de autoria da dupla. Então me senti bem a vontade para seguir pela rota iniciada por eles, reformando as bases que tinham grampos com mais de 30 anos, e depois ‘linkar’ com uma outra rota iniciada por mim e Marcio Bruno que havíamos abandonado por total desinteresse em escalar os tetos de rocha decomposta que estão na parte superior da Pedra do Baú”, explica.

O V de vitória na última parada, a 20 m do topo – Foto: Ana Fujita

Em dois dias, Frechou conseguiu escalar a via das Abelhas, passou pelos tetos da “No Olho do Furacão”, e no terceiro dia entrou em terreno desconhecido. “Mais para cima, cruzei 15 metros de uma via de Rodrigo Raineri que não sabia onde ela passava, e segui novamente por terreno novo até o topo. A graduação sugerida da linha é 5° VI A3 e estimo que sejam necessários 2 a 3 dias para repeti-la, dependendo da experiência e tática da equipe.”

O desafio do Big Wall

Escalar grandes paredes é sempre desgastante. Frechou passou quatro dias com sede, calor, puxando equipamentos de escalada, que incluía cordas, mosquetões, portaledge (rede para dormir), além de água e comida parede acima. Além, é claro, do medo de se machucar e não ter com que contar. “É um desafio inerente a quem escala grandes paredes, mas o principal desafio no Baú é a rocha decomposta e negativa. Essa má qualidade da rocha faz com que o escalador duvide até das melhores proteções, pois toda a superfície da rocha parece oca e prestes a se soltar.”

Apesar do desafio, o escalador aproveitou belas noites estreladas e fantásticos pores-do-sol vistos de um ângulo privilegiado.

O céu estrelado de São Bento do Sapucaí e lanterna do Frechou no meio da Pedra do Baú – Foto: Artur B. Frechou

Desde 2013, quando subiu em uma expedição brasileira à Lotus Flower Tower no extremo norte do Canadá, Frechou estava pensando em abrir uma via na parede amarela da Pedra do Baú. “A gente vai protelando esse tipo de escalada pois sabe que vai literalmente se ferrar… Mas inteligência e boa memória não são meu forte”, conta rindo.

Para poder fazer esta via na Pedra do Baú, o escalador teve diversos entraves burocráticos. Atualmente a Pedra do Baú é um Monumento Natural Estadual e onde é necessário ter permissão para escalar, dormir na parede e usar um drone com plano de voo.

Frechou fazendo a limpeza (retirada de equipamentos usados na proteção durante a subida) na 6ª. enfiada, após o grande teto negativo – Foto: Ana Fujita

Frechou está planejando escalar mais duas paredes, mas irá manter os locais em segredo até que tenha as permissões, equipe de apoio para filmar e fotografar e condições de escalá-las. “Há muitas paredes imponentes pelo Brasil, e tenho uma lista bem extensa das que eu quero um dia escalar. Estou bem a vontade para fazer este ano, se tudo der certo, ou no ano que vem.”

O escalador, que vive em São Bento do Sapucaí, dedicou 34 dos seus 49 anos ao montanhismo, seja escalando, abrindo novas vias no Brasil e exterior. Em 1989 ele fundou a Montanhismus, primeira escola brasileira dedicada à escalada em rocha. Frechou também já realizou expedições a lugares inóspitos, como Mali e Monte Roraima, além de ter realizado escaladas em vias de destaque no El Capitan, Half Dome e Potrero Chico.