A inovadora das ondas: Chloé Calmon

Foto: Fellipe Ditadi

Por Mario Mele*

A surfista de longboard Chloé Calmon está atravessando uma fase de maturidade. “Hoje fico mais preocupada em aproveitar a jornada do que com o destino final”, resume essa carioca que, no fim de novembro, estará em Taiwan em busca do inédito título mundial na carreira.

Em 2016, na China, Chloé sentiu na pele o significado de frustração ao perder a final do mundial feminino de longboard para a norte-americana Tory Gilkerson. Embora esse vice-campeonato tenha sido seu melhor resultado até hoje, ela não esperava nada além do 1º lugar. “Minhas melhores qualidades como competidora são disciplina e foco”, explica. “Quando coloco uma coisa na cabeça, vou até o fim, me preparo o máximo para chegar lá.”

No entanto a autocobrança excessiva custou caro. O tropeço quando o jogo já parecia ganho foi como tomar uma série pesada na cabeça. Chloé se viu obrigada a repensar o jeito como encara as situações desfavoráveis para voltar ao outside e poder respirar aliviada novamente. “Amo competir e não me vejo fazendo outra coisa”, diz. “Mas neste ano estou com uma visão um pouco mais relaxada, não quero depender tanto dos resultados para ser uma pessoa feliz.”

Chloé e seu sorriso que já virou marca registrada – Foto: Camila Serejo

Por seis anos consecutivos, até 2016, o título mundial de longboard foi decidido em um evento único. Em 2017, porém, passou a ser um circuito de duas etapas, uma no começo e outra no fim do ano. Com isso, a pressão diminuiu, já que é possível ter uma segunda chance. Em março, Chloé chegou à primeira, na Papua Nova-Guiné, com outra cabeça. “Fui passando as baterias sem pretensão nenhuma e acabei ganhando o evento”, conta.

Além de ser a primeira vez que ela surfava naquele país da Oceania, não ficar na expectativa de um final feliz foi uma experiência completamente nova. “Sei que sem trabalho duro não há bons resultados, e estou tentando aproveitar mais o lado bom. Como em uma surf trip, em que o que mais importa é a companhia das pessoas”, exemplifica.

Chloé tirou da derrota um aprendizado que tem levado para além das competições. “Antes, eu via minhas adversárias quase como inimigas, não queria ter contato social nenhum com elas”, admite. “Agora sinto que estou mais amigável, passei a enxergá-las como atletas iguais a mim. E o respeito adquirido fora d’água me faz entrar ainda mais relaxada em uma bateria.”

Os bons resultados continuam, e agora ela não se abala tanto quando não sobe ao topo do pódio. Em junho, em Portugal, sagrou-se campeã de uma das etapas da divisão de acesso com um surf impecável. No mês seguinte, no Peru, ficou satisfeita com o vice-campeonato sul-americano depois de perder a final para a brasileira Atalanta Batista. “As condições do mar estavam difíceis, e eu fiquei feliz porque sei que dei o meu melhor dentro da água”, declarou, já pronta para outra.

Há uma década nesse mundo competitivo – já são oito anos só disputando os mundiais –, Chloé está focada em melhorar dentro e fora d’água. Todo mês, ela compartilha suas experiências em uma coluna que escreve para a revista Hardcore. Procurando sempre expressar seus sentimentos mais sinceros, ela diz que a tranquilidade é um traço que a ajuda a se adaptar às mudanças. “Não gosto de seguir um padrão específico, prefiro dançar conforme a música, é algo que o surf me ensinou”, garante.

Não é que se tornar campeã mundial tenha perdido o sentido para ela. “É ainda meu principal objetivo de 2017”, diz. Ou muito menos que a atleta não esteja mais confiante no seu surf – pelo contrário. Chloé quer apenas se lembrar de que ansiedade e pretensão não são pré-requisitos para a consagração.

*Reportagem publicada na edição nº 145 da Go Outside, outubro de 2017.