Canoagem extrema

Ricardo Padovan durante o desafio em que remou 179 km em 24 horas (Todas as fotos: Arquivo pessoal)

No fim do mês passado, o paulista Ricardo Padovan, 38, estabeleceu um novo recorde brasileiro, ao remar 179 km em 24 horas (a marca anterior era de 163 km no mesmo tempo). O feito, que deve ser homologado pela Confederação Brasileira de Canoagem em breve, aconteceu no rio Ribeira de Iguape, em Itapeúna (SP). “Escolhi a madrugada que teria as temperaturas mais amenas do inverno para realizar meu sonho”, conta Ricardo. “Entrei na água às 7h40,  com temperatura muito baixa e vento forte. No barco, tinha comigo comida e água o bastante para garantir minha autossuficiência pelos primeiros 70 km”, diz.

Tudo começou com uma pesquisa do fisioterapeuta sobre canoagem extrema, onde ele se deparou com o desafio. “Remo há 10 anos e estava em busca de um projeto onde eu pudesse me sobressair, marcar o meu nome entre os melhores”, conta. A partir daí, foram seis meses se preparando para o grande dia, estudando possíveis estratégias e modos de realizar seu sonho. Ricardo adquiriu um remo ergômetro, aparelho que possibilitava os quatro treinos por semana em casa (já que ele mora a 100 km da represa mais próxima). “Treinava no aparelho, voltei a correr e comecei a fazer musculação. Nos finais de semana ia para a represa e remava de 40 km a 50 km”. Ele também investiu na compra de uma nova embarcação, o Surfski V10Sport, da Epic, que considerou “a melhor opção entre velocidade e estabilidade”.

Ricardo adotou a estratégia de remar forte durante o dia e “apenas sobreviver” à noite. Ele não fez paradas para se alimentar, para não deixar de agregar à contagem dos quilômetros em nenhum instante. Também mudou sua alimentação, trocou a suplementação líquida por sólida, e criou uma bolsa “canguru”, que disponibilizava o alimento entre a mão e a boca.

“Durante o trajeto, tive que manter a leitura do rio impecável, um item obrigatório para manter meu barco íntegro, meu leme inteiro, e o meu sonho vivo”, conta Ricardo. “Os primeiros 50 km foram de muitas corredeiras e pedras. Tentar escolher sempre o melhor trecho, não bater o barco e o leme e me equilibrar no surfski, tudo ao mesmo tempo, foi uma lição e tanto”, completa.

No final do desafio, as dores musculares se tornaram o grande problema de Ricardo. “A partir do km 130 a situação foi ficando crítica, latejavam as costas, ombros, quadris e joelhos. Fazia um esforço desumano  para manter a média de quilometragem”, lembra.

No km 174, com a maré contra e muito vento, Ricardo garante que  já não sentia mais dor, em seu estado “anestesiado”, molhado e tremendo de frio. “Comecei a perder o sentido, cheguei a ter um breve apagão e entrei no meio de uma vegetação, naquele momento optei por manter minha integridade e fechar bem a minha marca de 24 horas remando”.