Criado em 2015, o prêmio Mosquetão de Ouro é a versão nacional do consagrado Piolet d’Or, honraria concedida aos expoentes do montanhismo mundial pela revista francesa Montagnes desde 1991. O objetivo da premiação é consagrar atletas, personalidades e organizações que trabalham para expandir os limites do esporte no Brasil, tanto através de suas conquistas pessoais quanto de projetos que divulguem e facilitem o acesso à montanha no país.
Na categoria montanhismo, o vencedor foi o paulista Pedro Hauck, que em 2016 liderou a expedição à montanha mais alta dos Andes ainda inédita a brasileiros, o Cerro Bonete Chico (6.759 metros) e com ela também se tornou o primeiro brasileiro a escalar as 5 montanhas mais altas dos Andes.
Em 2016, Pedro alcançou o cume de pelo menos 7 montanhas nunca escaladas por brasileiros, e acumulou 20 ascensões a montanhas nos Andes. Com estas montanhas, chegou a 85 cumes em montanhas andinas (destas, 46 montanhas diferentes acimas de 6 mil metros). A maior parte destas expedições foi feitas com recursos próprios, de maneira autônoma e independente.
Em seu site, o Alta Montanha, Pedro escreveu um agradecimento sincero e uma ode ao seu amor pelo esporte que pratica há quase 20 anos. Confira um trecho da emocionante declaração:
“Não é apenas uma premiação para encher de orgulho o ego de quem venceu. Levar o Mosquetão de Ouro é um reconhecimento que vai me ajudar muito a prosseguir minha carreira no montanhismo. Não quero apenas lembrar do passado e bater no peito e dizer que fui o melhor (aliás existe melhor no montanhismo?). Na verdade, se escalei 20 e tantas montanhas em 2016, isso foi parte de um projeto de vida, uma vida dedicada ao montanhismo.
Todos sabem como é difícil viver do esporte no Brasil. Se em esportes olímpicos, onde há dinheiro envolvido, plateia e televisão já é complicado, imagine um esporte sem competição e que é praticado em lugares onde não tem ninguém.
De fato, as montanhas que tenho escalado são quase nada frequentadas, muitas delas tiveram pouquíssimas pessoas em seus cumes, que foram escalados pela primeira vez há muito pouco tempo também. Foi o caso do Vulcão Condor, de 6.414 metros, escalado pela primeira vez somente em 2003, do Vulcão Vallecitos, de 2006 e Cerro Colorados, da década de 1990. Nos últimos anos fiz um grande volume de montanhas que não tinham trilha, acampamentos definidos e sequer uma estrada para chegar lá, sendo necessário andar centenas de quilômetros abrindo caminho em veículos 4×4.
E foram muitos os nomes desconhecidos que ajudei a desvendar. Já ouviu falar de Cerro Baboso? Majadita, El Toro, Sierra Nevada de Lagunas Bravas, Nevado Patos? Pois bem, estes são alguns exemplos de montanhas que haviam sido escaladas pouquíssimas vezes na história que pude ter o prazer de escalar e mostrar para o mundo que elas existem.
Também pude ter o prazer de ter conquistado, ou seja, de ter realizado a primeira ascensão, em 4 montanhas: Cerro Lomas Coloradas, El Morado, Paso Cerrado e Parofes. As duas últimas pude ter o privilégio de batizar, pois sequer nome tinham. O Vulcão Parofes, uma homenagem a meu falecido amigo Paulo Roberto Felipe Schmidt, tinha quase a mesma altitude do Kilimanjaro, o que mostra a importância que foi ter chego a seu cume, a mais alta montanha virgem de todos os Andes naquele ano.
Claro que não fiz isso tudo sozinho. No ano de 2016 escalei com muitos amigos: Vinicius Vieira, Greyssi Caminski, Paula Kapp, Maximo Kausch, Mauricio Anchovas, Pieter Clays, Alex Bonifácio, Marcelo do Valle, Marcelo Figueiredo, Tiago Mello, Joair Bertola, Tatiana Batalha, Alexander Ignatov, Frances Toney, Christiane Hemmericx, Lucas Delfino, Angel Arnesto, Alex Tinta, Don Carlos, Suzie Imber, Jovani Blume, Gabriel Tarso e claro, Maria Tereza Ulbrich, que acompanhou em vários cumes e também no dia a dia.
Também não poderia falar sobre estilo. Gosto de escalar montanhas no meu jeito, num estilo que sigo desde que comecei no montanhismo, há 19 anos atrás. Sempre prezei pela independência e autonomia. Ou seja, sempre escalei por conta própria sem depender de terceiros. Para resumir, meu estilo é pegar o carro e jogar-me na estrada. Em 2016 fui 3 vezes aos Andes, 2 dirigindo desde o Brasil. É assim que consigo chegar na base das montanhas e voltar. Para aproveitar o tempo, a aclimatação e a viagem, sempre faço várias montanhas numa única expedição e este é meu estilo há muito tempo. Tanto que muitos acham que as montanhas que escalo são fáceis, pelo grande volume de cumes que acabo fazendo numa única viagem. Mas não é bem assim não!
Para mim, o Mosquetão de Ouro será importante para me ajudar nos próximos projetos. Ano que vem completarei 20 anos de montanhismo e quero que isso ocorra em grande estilo. Este ano realizei um sonho de conhecer o Himalaia e no ano que vem quero ser seus picos numa altitude acima de 8 mil metros.
Não sou de comemorar aniversário e nenhuma data, porém não vou deixar meu vigésimo ano de dedicação ao montanhismo passar em branco. Ano que vem pretendo escalar o Manaslu, a oitava montanha mais alta do mundo. Escalar uma montanha de 8 mil metros é um sonho que sempre tive e tenho certeza que o reconhecimento que tive este ano através de meu segundo Mosquetão de Ouro me ajudará a conquistar mais este sonho. Um sonho muito mais alto, desafiador e que sua dificuldade começará pela arrecadação de dinheiro para a expedição.
Gostaria de agradecer a todos que me ajudaram até aqui. Meus já citados companheiros de cordada, meus amigos landeiros que me ajudam tanto com o carro é que meu meio de transporte às montanhas, ao WAS, ao GenteDeMontanha, AltaMontanha, CBME, Projeto Dharma e a toda a comunidade de montanhistas de meu país que me ajudou tanto a trilhar estas montanhas e a brincar com as pedras que haviam no caminho. A todos, muito obrigado!”.