Você é “com quem” você come

O segredo para uma vida saudável e duradoura pode estar nos rituais em torno da comida

 

O BEST-SELLER do norte-americano Dan Buettner, The Blue Zones, de 2008 (National Geographic Books, sem tradução em português), discorre sobre nove hábitos em comum das comunidades mais longevas do mundo. A viagem vai de Sardenha, na Itália, a Okinawa, no Japão, passando pela península de Nicoya, na Costa Rica. A obra virou um estouro de vendas instantâneo, e lançou Dan na grande mídia. As recomendações para mais longevidade detalhadas em The Blue Zones abrangem de orientações sobre atividade física (exercício moderado é melhor que treinamento intenso) ao tempo dedicado à família (transforme isso em uma prioridade) e até religião (fazer parte de uma comunidade espiritual é importante). Entretanto foram as lições sobre nutrição que tiveram o impacto pessoal mais duradouro em Dan.

Seu livro mais recente, de 2015, The Blue Zones Solution: Eating and Living Like the World’s Healthiest People (sem tradução em português, à venda em bluezones.com), é o resultado de sua pesquisa para entender exatamente como a alimentação afeta nossa vida. Nele, Dan revela algumas nuances surpreendentes da dieta mediterrânea, analisa com minúcia a prateleira de temperos da população de Okinawa e celebra o poder do prato popular costa-riquenho chamado gallo pinto. Porém as descobertas mais interessantes não foram sobre o que esses povos comem, mas como comem – e as maneiras como seus rituais em torno da comida determinam o que colocam no prato.

As lições mais evidentes vêm da “Blue Zone” da América do Norte, localizada por Dan em Loma Linda, na Califórnia, nos arredores de Los Angeles, uma região com uma das maiores concentrações de cristãos adventistas do Sétimo Dia do mundo. Os habitantes de lá vivem até uma década a mais do que outros norte-americanos, e os índices de doença cardíaca e câncer são mais de 60 % mais baixos. “Um das lições mais essenciais que os adventistas nos ensinam diz respeito às relações sociais”, conta Dan. “Eles comem bem a vida inteira porque se reúnem com outros adventistas em volta da mesa”, resume.

A dieta adventista é inspirada na Bíblia e lembra o que os experts em ioga e os ultracorredores consomem: muitas frutas e legumes, pequenas quantidades de laticínios, porções menores ainda de carne e quase nada com adição de açúcar. A capacidade deles de manter esse menu vivendo na terra do McLanche Feliz tem a ver com o fato a alimentação saudável se tornar quase uma instituição em Loma Linda, onde o maior supermercado local nem conta com carne no estoque.