Nos Jogos Olímpicos Rio 2016, competindo em casa, nossos três atletas da maratona aquática – Ana Marcela Cunha, Poliana Okimoto e Allan do Carmo – têm chances reais para conquistar a primeira medalha olímpica para o país nesse esporte, que integra as Olimpíadas desde 2008, em Pequim.
Em 2015, no Mundial de Kazan, na Rússia, Ana Marcela fez a maratona aquática bombar no noticiário esportivo ao vencer a prova de 25 km. No mesmo evento, esta baiana de 24 anos ainda conquistou o bronze na disputa de 10 km e a prata na de 5 km por equipe. “Meu objetivo no ano passado foi mais do que alcançado”, diz Ana Marcela, que em 2015, só em eventos internacionais, subiu no pódio nada menos do que 11 vezes. Atualmente ela vive a coroação quase absoluta que o esporte pode conceder a um atleta que se dedicou ao extremo durante uma década inteira. “Quase” porque agora só falta mesmo a medalha olímpica.
Ana Marcela fez sua estreia na natação de águas abertas em 2006, aos 14 anos. Hoje é tricampeã mundial (2011, 2012 e 2015), além de já ter sido eleita pela Federação Internacional de Natação (FINA) a melhor nadadora de maratonas aquáticas do mundo por dois anos (2010 e 2014). Em 2014, não apenas venceu a tradicional Travessia Capri-Napoli, realizada no Mar Tirreno, na Itália, como baixou em sete minutos o recorde da prova – nadou 36 km em 6h24min47s.
Experiência também não lhe falta. Ela tinha 16 anos quando participou de sua primeira Olimpíada – em Pequim 2008, na estreia da maratona aquática nos Jogos. Logo de cara, conseguiu um heroico quinto lugar. E, apesar de o excesso de confiança ter sido responsável para ela ficar de fora de Londres 2012 (por apenas uma colocação), o maior aprendizado vem, segundo a moça, com as derrotas. É por isso que não há dúvidas de que Ana Marcela estará em sua melhor fase no Rio. Faltando um mês para a olimpíada, ela abriu uma exceção e falou com a Go Outside por email.
GO OUTSIDE: A 3ª etapa da Copa do Mundo disputada em junho na Hungria, foi seu último grande desafio antes da olimpíada. Esta competição te fez perceber algo que ainda deva trabalhar mais?
ANA MARCELA CUNHA: Estou cumprindo cada etapa do meu planejamento visando chegar 100% na prova. Eu me senti muito bem na Hungria, para uma fase de treinos de acumulação, fiquei contente em poder nadar sempre entre as primeiras. O resultado foi dentro do esperado.
Você é uma das esperanças “realmente reais” de medalha de ouro para o Brasil nesta olimpíada. Somado ao fator de você não ter estado em Londres 2012, a pressão é inevitável. Como você está lidando com ela para na hora da largada estar 100%?
A maior pressão por não ter obtido a vaga para Londres eu deixei para trás, lá mesmo, quando ganhei os 25 km. Agora estou muito consciente de meu potencial para brigar por medalha, e nadar em casa será ainda melhor. O clima trará mais energias positivas. Tenho tudo planejado, meu acompanhamento psicológico vem desde 2012 sem mudanças. A pressão é positiva. Estou focada e determinada, só relaxo depois do dia 15 de agosto. Até os momentos de diversão fazem parte da minha rotina.
Você, Poliana Okimoto e Allan do Carmo ajudaram, de certa forma, a popularizar a maratona aquática no Brasil e dar uma nova dimensão a esse esporte. Em sua opinião, o que representa este legado que está sendo construído por vocês?
A maratona aquática no Brasil teve mais visibilidade com os resultados de nível internacional que conquistamos nos últimos 10 anos. Mas é apenas o início de um legado que quero construir.
O Instituto Ana Marcela significa, de certa forma, oferecer um apoio que você não teve no começo? O que você poderia dizer sobre isso?
Acho que tive o apoio necessário desde quando comecei a encarar a maratona aquática de forma competitiva. Primeiro, veio o apoio de meus pais e da minha família, depois os patrocínios, as parcerias. A decisão de criarmos o Instituto Ana Marcela passa por uma necessidade que tenho de poder dividir minhas experiências, de querer ver muitas e muitas pessoas sabendo nadar, de compartilhar com pessoas simples a prática saudável do Esporte, é pelo I.A.M. que vou construir um legado, com massificação da prática da maratona aquática.