Positivo e operante

Servindo como sua própria cobaia, um ciclista amador passou um ano se dopando com testosterona para descobrir se a substância funcionaria em um cara comum como ele. Sua conclusão? Ô, se funciona

Por Andrew Tilin


TURBINADO: Andrew Tilin pedala na corrida Hill Climb, na Califórnia, em 2008
(Fotos: Russ Wright)

AGORA EU SEI como Floyd Landis se sente.

Alguns anos atrás, tive uma ideia para um artigo de revista: escrever o perfil de um atleta amador que trapaceia tomando drogas para melhorar a performance. Embora tenha encontrado evidências do que chamo de “doping do cidadão comum”, nunca consegui localizar alguém que se encaixasse nessa categoria e topasse abrir o jogo comigo. Decidi então trapacear eu mesmo, por minha própria conta e risco. Sob supervisão médica, passei a tomar testosterona por um período de um ano, enquanto continuava a treinar e competir no circuito amador de ciclismo. Escolhi uma droga conhecida como T, mesma substância que o ciclista norte-americano Floyd Landis aparentemente usou para ganhar a Tour de France de 2006 [ele acabou perdendo o título ao descobrirem que se dopou].

Meu experimento foi evoluindo até que se tornou um projeto de livro, e não demorei a aprender muito sobre doping e os fatos e mitos relacionados a ele. Por exemplo, alguns cientistas não acham que o T sintético, um hormônio produzido em laboratório que pode ser usado para aumentar o nível de testosterona natural do corpo humano, traga benefícios para atletas de endurance. Mas os poderosos órgãos de fiscalização do esporte, como a WADA (World Anti-Doping Agency), não concordam com isso, e assim o T sintético é proibido no ciclismo amador e profissional, e em competições olímpicas. O T, que a WADA classifica como esteróide anabolizante (um tipo de hormônio), sem dúvida aumenta a massa muscular e, acredita-se, também ajuda na recuperação após esforços muito grandes – como as etapas do Tour.

Conforme a notícia sobre meu projeto foi se espalhando, passei a ser tratado, em menor escala, com o mesmo tipo de ódio e desdém lançado contra Floyd quando se divulgou que seu teste antidoping tinha dado positivo, logo após a vitória dele no Tour. Quando os agentes da USADA, a afiliada da WADA nos EUA, souberam da minha trapaceada (eu mesmo comuniquei a eles), fui avisado de que provavelmente seria banido por vários anos das corridas amadoras. Também fui massacrado por blogueiros e tuiteiros, incluindo Joe Papp, um ex-profissional pego com a boca na botija do doping em 2006. Colocando um link para a descrição do meu livro na Amazon, Joe tuitou: “Pergunto-me o quão agressivamente a @usanti¬doping vai cair em cima do autor dessa nojeira”. Um outro cara criticando meu projeto escreveu sobre mim em seu blog: “Não seria nada difícil dar ralo nesse babaca hipócrita de 45 anos sem ter que me dopar”.

Claro que qualquer semelhança entre Floyd Landis e eu acaba aí. Em 2006, Floyd aparentemente usou T depois de ir muito mal em um estágio do Tour de France e logo antes de uma vitória épica na etapa seguinte. Seu desempenho levou a questionamentos sobre a velocidade em que a testosterona faz efeito (não é tão rápido assim). Depois disso, como costuma acontecer com profissionais pegos fazendo algo errado, ele passou anos negando que tinha tomado drogas e não forneceu nenhuma pista sobre o esquema de doping. Eu, ao contrário, tinha como única razão entender como a testosterona funciona e escrever a respeito. Durante aproximadamente um ano, começando em janeiro de 2008, me dopei quase todo dia e mantive um diário sobre os efeitos da droga sobre meu corpo de meia-idade.

Nesse período, competi em mais de uma dúzia de corridas. No final, me sobraram poucas dúvidas de que a testosterona melhora o desempenho. Veja o que aconteceu durante uma das minhas primeiras competições dopado, em abril de 2008. Era um sábado ensolarado no norte da Califórnia, e eu sofria para completar a terceira de quatro voltas em uma prova de 82 quilômetros chamada Wards Ferry Road Race. Estava pedalando contra um bando de caras de 30 a 40 anos em uma categoria para amadores não-elite. Com suor escorrendo pelas costas, esperei que o T batesse.

No final da terceira volta, algo aconteceu: senti uma sutil, mas inegável, renovação de energia. No topo de uma subida, virei-me e notei que nosso grupo original de 30 ciclistas não passava de sete pessoas. Todos os outros tinham ficado para trás. Terminei em sexto, o que para mim foi um ótimo resultado. O crédito era do meu treinamento? Da sorte? Do efeito placebo? Tudo isso poderia ter me ajudado, assim como o testosterona. Como sempre, eu tinha aplicado a substância na pele, em forma de creme, na parte de dentro das minhas coxas na manhã do dia da prova. Soube em primeira mão o que muitos profissionais te diriam se pudessem: esse negócio é forte. Depois que se sente do que ele é capaz, fica difícil resistir.

POR VÁRIOS ANOS antes de começar minha carreira criminosa, me perguntei se eram só os profissionais que estavam trapaceando, já que parecia lógico que as drogas de performance seriam adotadas por atletas hipercompetitivos mais abaixo na cadeia alimentar. Em 2007, eu estava treinando e competindo muito com um dos meus melhores amigos de infância, um cara chamado Michael Piesco (ao contar minha história, mudei os nomes de muita gente para proteger a privacidade deles). Mike e eu estávamos levando lições de humildade em quase toda prova de ciclismo máster de que participávamos. E sempre reclamávamos – sem provas – que estávamos cercados de dopados. “O que essa galera está tomando?”, perguntou-me Mike um dia, com um pedaço de banana na boca. Era abril, e tínhamos acabado de terminar a Wente Vineyards Classic Road Race em Livermore, na Califórnia. “Babacas”, respondi. “Quem consegue ter um emprego normal e ainda pedalar como esses imbecis?”

Não demorou para que eu começasse a caçar amadores dopados. No começo, perguntei na minha cidade e depois fiz uma pesquisa no país inteiro. Telefonei para cientistas, órgãos esportivos fiscalizadores, donos de lojas de bicicletas, treinadores e atletas para ver se eles sabiam de alguma coisa sobre azarões que estariam tomando drogas. Aos poucos fui chegando perto da verdade. Troquei emails com um ciclista do leste dos EUA assolado pela culpa e que chegou a confessar que estava se dopando, mas depois recuou. “Não quero perdão ou redenção, só preciso que ninguém nunca descubra o que fiz”, ele me escreveu a certa altura.

Perguntei então a Joe Papp, o tal ex-pró pego no doping e que hoje mete o pau em mim na internet. Ele se recusou a dar nomes de dopados amadores, mas me assegurou que eles existiam. E havia bons motivos para acreditar nele: enquanto eu pesquisava a história de Joe, a Drug Enforcement Administration [a DEA, agência americana que combate as drogas nos EUA] veio a público com detalhes de uma tal Operação Jogo Duro, o maior esforço anti-esteróide da história do país. Durante uma série de ações contra traficantes no país e no exterior, foram confiscadas 11,4 milhões de doses de substâncias proibidas, incluindo esteróides anabolizantes, hormônio de crescimento humano (HGH) e fator de crescimento de insulina. É impossível que tudo isso estivesse indo apenas para as veias de atletas profissionais e halterofilistas.

Cidadãos comuns dopados acabaram aparecendo aqui e ali. Um policial da Flórida que também é ciclista me garantiu que ele pedalava com muitos amadores de mais idade que usavam drogas para melhorar a performance. Um ciclista no Michigan foi pego tomando eritropoietina (EPO), uma droga que aumenta a capacidade de o sangue transportar oxigênio. Houve um caso similar no Colorado, e em Nova Jérsei descobriram quase 250 policiais e bombeiros que tomavam esteróides e HGH.

Apesar de toda a ação rolando ao meu redor, eu ainda não tinha encontrado o personagem para minha história, então no verão de 2007 me veio a ideia de fazer isso eu mesmo. “O amador que se dopa pode ser eu”, disse para minha mulher. Estávamos na cama. Nosso filho de 7 anos e nossa filha de 5 tinham finalmente dormido. “Tomar drogas por causa de uma reportagem para uma revista?”, ela perguntou, balançando a cabeça negativamente. Minha adorada esposa, que é geralmente bem compreensiva, tinha seus limites. Aquilo parecia perigoso e idiota.

Mas continuei curioso em relação à testosterona – não apenas sobre a melhoria atlética que ela poderia me dar, mas também a respeito dos efeitos que ela poderia ter na minha saúde em geral. A testosterona é o principal hormônio masculino – homens jovens produzem oito vezes mais essa substância que mulheres jovens – e, diferentemente do EPO e do HGH, os médicos o prescrevem regulamente para homens mais velhos. Você é considerado apto a tomar T se tiver níveis baixos de testosterona natural (a concepção do que é “baixo” varia muito) ou se sofrer de sintomas que incluem redução do impulso sexual, atrofia dos músculos, falta de energia e disfunção erétil. Até agora escapei da disfunção erétil, mas posso me identificar em graus variados com os outros sintomas.

Meu urologista concordou em me colocar em uma modesta dieta de T, mas eu queria mais. Por isso procurei no Google médicos na minha região que pudessem me receitar o hormônio sintético com mais generosidade, como medicamento contra o envelhecimento – um uso que é legal e cada vez mais aprovado pelos médicos. Em janeiro de 2008, entrei no consultório de uma especialista perto de casa. Ela tinha um histórico profissional respeitável e muito interesse em terapias alternativas.

“Vou te colocar no Protocolo Wiley”, disse ela, referindo-se a um programa específico anti-envelhecimento que envolve um cronograma oscilante de uso de testosterona. Usando seringas sem agulha que medem doses precisas de um creme preparado sob encomenda, eu deveria aplicar de zero a 200 miligramas de T todos os dias. O urologista teria começado com doses de 50 miligramas. As quantidades ministradas no Wiley, apesar de maiores, me poupariam dos efeitos colaterais atribuídos à testosterona: alterações de humor, hipotrofia testicular e acne pelo corpo, entre outros. A consulta me custou US$ 250, com mais algumas visitas e exames de sangue pelo caminho. As drogas custam cerca de US$ 75 por mês. Se dopar seria mais fácil – e barato – do que eu pensava.


NA COLA: Andrew logo atrás de seu amigo Michael Piesco numa corrida de contrarrelógio na Califórnia, em 2008

QUATRO MESES DEPOIS de começar o tal protocolo de Wiley, me vi no meio de outros 50 ciclistas na Berkeley Hills Road Race, uma prova de três voltas e 84 quilômetros. A essa altura, eu estava me sentindo muito mais disposto e viril. Em casa, a presença do T era palpável. As crianças queriam saber por que o papai queria abraçar a mamãe o tempo todo. O que eu não podia explicar era que a testosterona alimenta a libido no cérebro e facilita a produção de substâncias químicas necessárias para a excitação sexual.

Outras partes do meu corpo também estavam sendo afetadas: já podia sentir os feitos da nova força física no meu corpo de jóquei de 66 quilos. Divididos em seis séries, eu conseguia fazer 210 agachamentos parciais com um haltere de 55 quilos. Podia erguer 180 quilos com minhas pernas no legpress. Dava para ver a definição dos músculos em meus ombros, tríceps e panturrilhas. Eu estava quase sarado. Enquanto isso, na bike, eu me recuperava incrivelmente rápido. Sentia-me pronto para outra no dia seguinte a treinos puxados que incluíam múltiplos tiros intensos de 10 minutos. Consegui gerar 310 watts de energia com pedaladas constantes – antes do tratamento, eram 260 watts.

Ainda assim, como notei na Wards Ferry, os efeitos do T não eram instantâneos. Durantes as primeiras voltas da prova em Berkeley Hills, senti minhas pernas pesadas. Na segunda volta, quase perdi o pelotão principal quando nos aproximamos do topo da maior subida da prova.

Isso ia de encontro ao que eu vinha ouvindo dos especialistas em hormônios. Dopar-se com qualquer droga não transforma um monte de banha viciada em TV em um atleta de elite. Nem mesmo está totalmente claro para os cientistas se o T pode ajudar alguém como eu, que treina 13 horas de semanais. Alguns pesquisadores acreditam que o aumento de potência que a droga oferece é minimizado pelo aumento de massa (graças em parte ao intenso ciclismo, não ganhei peso). Esses mesmos cientistas também duvidam que músculos maiores ajudem, necessariamente, na recuperação.

“Não entendo por que um ciclista tomaria esse negócio. Os estudos não embasam a tese de que isso ajuda nesse esporte”, diz John Amory, um ex-consultor da USADA com especialização em testosterona do Centro Médico da Universidade de Washington em Seattle. Outros argumentam que um atleta de endurance que toma testosterona irá, sem dúvida, ter vantagem sobre os adversários. Don Catlin, ex-professor e médico da Universidade da Califórnia que fundou o maior centro de testes de doping do mundo, testemunhou na audiência de Floyd Landis que a testosterona definitivamente ajuda a acelerar a recuperação dos atletas de endurance. Michael Bahrke, membro do American College of Sports Medicine, concorda. O ex-pró e blogueiro Joe Papp me falou há muito tempo que a suplementação de T é muito usada entre os profissionais. Para a avaliação de John Amory de que a substância não influencia um ciclista, Joe tem uma resposta direta: “Balela!”.

Com base na minha experiência, devo concordar com Joe, já que, ao final da terceira e última volta em Berkeley Hills, me vi quase à frente de um pelotão que tinha miado até restarem somente 35 ciclistas. Ao nos aproximarmos da Papa Bear, a primeira das três subidas finais da prova, fui tomado por uma sensação fabulosamente sinistra. Senti uma onda de energia e fui ultrapassando uma série de ciclistas. Quando me aproximei da liderança do pelotão, continuei avançando. No meio da subida, não tinha mais ninguém na minha frente. A 30 metros do topo, olhei por cima do ombro e vi 20 caras lá embaixo. Eu tinha acabado com eles. Eu e meu companheiro T. Relaxei o ritmo no topo apenas o suficiente para dez deles me alcançarem. Então, querendo desmoralizá-los, acelerei de novo. Deixei cinco deles para trás na primeira de duas subidas rápidas. Desovei outros quatro na segunda.

“Estamos só nós”, disse uma voz atrás de mim. Olhei para trás e vi apenas um ciclista com roupa vermelha e amarela. “Chupem, trouxas!”, sussurrei para mim mesmo. Minha atitude agressiva não me surpreendeu. Sentia há semanas que o T estava me deixando meio invocado. Qualquer coisinha me irritava e minha família às vezes sofria com minha fúria verbal.

Sociólogos e psicólogos concordam que a testosterona está relacionada com o comportamento, embora essa conexão não esteja completamente elucidada. Alguns especialistas acreditam que níveis elevados de suplementos de testosterona não causem irritabilidade por si só. Outros questionam a própria existência da chamada “raiva dos esteróides”, o comportamento violento que decorre do uso de anabolizantes. “Mesmo com altas doses de testosterona, a maioria dos pacientes mostra pouca ou nenhuma mudança comportamental, embora alguns pacientes sofram fortes reações”, explica Harrison Pope, um especialista em abuso de esteróides e professor da Faculdade de Medicina de Harvard.

Quando cheguei ao topo da Papa Bear em primeiro lugar, tive certeza que podia tolerar o mau-humor causado pelo T por muito tempo: os benefícios na bike superavam a culpa por trapacear. E os possíveis efeitos colaterais causados pelo uso contínuo de testosterona em um homem normal? Ainda são desconhecidos. Alguns pesquisadores dizem que as mudanças nos níveis de testosterona, que muitos achavam que contribuíam para o surgimento do câncer de próstata, não fazem nada disso. Alguns médicos chegaram a teorizar que um nível baixo de T aumenta o risco de câncer de próstata. Em resumo, está ficando cada vez mais difícil não gostar do T.

Ciclistas que não tomam drogas ficarão felizes em saber que não ganhei em Berkeley Hills, apesar de a droga ter feito sua parte. Basicamente eu estava forte o bastante, mas não fui esperto o suficiente. Gastei toda minha energia muito rapidamente. Dezesseis outros competidores me ultrapassaram no morro que levava à linha de chegada. Mais tarde, liguei para meu amigo Mike e lhe fiz um relatório da corrida. Ele sabia que eu estava usando testosterona. “Talvez você tenha sido ultrapassado por dopados melhores que você”, riu ele.

TRAPACEAR NÃO É CORRETO. Agora que minha história é de conhecimento geral, direi às pessoas que sou humano. Contarei que meu corpo agora está livre de T e que meu ano tomando drogas foi uma oportunidade para aprender algo interessante. Ainda assim, muitos no mundo do ciclismo e fora dele terão raiva de mim.

Já senti um gostinho dos sentimentos contraditórios que virão por aí, como aconteceu em julho de 2008, quando estava competindo com toda a glória do doping do meu lado. Foi na Cascade Cycling Classic em Bend, no Oregon, com Mike. Normalmente ele é um ciclista mais forte que eu e compete em uma categoria superior. Nós dois encarávamos a Cascade – uma corrida de várias etapas que atrai os melhores ciclistas profissionais – como uma das mais importantes da temporada. Ambos queríamos nos sair bem e nos inscrevemos para competir em quatro estágios da prova: um contra-relógio, um criterium, uma prova de estrada e uma etapa em circuito. No início da prova de estrada, na qual a categoria do Mike e a minha competiriam juntas, fui o 11º no resultado geral do meu grupo. Para mim, chegar entre os 10 primeiros seria uma insanidade.

O percurso de estrada de 115 quilômetros entrava em uma leve subida perto dos 80 quilômetros. Mike e eu chegamos nesse ponto juntos. Alguns quilômetros antes da linha de chegada, me senti forte e acelerei quando os outros ciclistas apertaram o passo. Então veio aquela mesma energia, o mesmo barato que senti toda vez que competi dopado. Era uma coisa pouco bacana, mas muito divertida.

Virei-me e vi que Mike não estava lá. Cheguei em 12º na minha categoria. Mike chegou quase 90 segundos depois. No final, fiquei em 10º lugar na minha categoria na Cascade Classic e recebi US$ 25 de prêmio. Nunca descontei o cheque. “O que devo te dizer?”, disse Mike, debruçado sobre o guidão da sua bike. “Parabéns?”

Mike deixou sua raiva para lá, mas os outros não. Alguns meses atrás, admiti o que tinha feito para Travis Tygart, o chefão da USADA. A agência reguladora não tem a capacidade de testar os competidores em toda corrida, por isso se eu não tivesse confessado provavelmente teria escapado para sempre da vigilância deles. “O que você espera que a gente faça quando você admite que mentiu e trapaceou sob nossa jurisdição?”, Travis disse, rindo incredulamente. “Você não vai receber tratamento especial ou imunidade”, devolveu, e logo atiçou seus advogados para cima de mim. Fui banido das competições por dois anos.

Não estou dizendo que o que fiz foi inteligente ou bacana, ou que algum dia meus filhos terão orgulho de mim por isso. Mas descobri algumas verdades – por exemplo, que é muito simples conseguir drogas que melhoram a performance. Elas são tão fáceis de comprar e seguras de usar que ainda me pergunto quantos outros grisalhos como eu estão se dopando por aí.

Apesar de oferecer sinceras desculpas e jurar nunca trair novamente meus colegas ciclistas, organizadores de competições de bike ou órgãos de fiscalização, serei honesto: se as regras fossem jogadas pela janela, a tentação seria forte demais para resistir.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de julho de 2011)