Fany Kuiru quis relatar o caso de seus ancestrais, Omarino e Ricudo, que na época do Rubber Boom (“boom da borracha”, em inglês), uma operação realizada na Amazônia no começo do século 20 para extrair o látex em grande escala, foram levados à Inglaterra.
“Ajude-nos a descobrir o destino de nossos irmãos ancestrais, então os espíritos deles poderão descansar em paz”, disse a índia Fany.
Omarino e Ricudo tinham sido apresentados ao cônsul britânico Roger Casement em 1910, quando este diplomata viajava pelo sul da Colômbia, a pedido do governo de seu país, para investigar as atrocidades motivadas pela extração da borracha na Amazônia. No ano seguinte, Roger voltou com os dois índios à Inglaterra para divulgar sua descoberta: Omarino e Ricudo alegaram ao jornal Daily News que foram escravizados e eram obrigados a extrair grande quantidade de látex – a matéria-prima da borracha – em pouco tempo, caso contrário seriam mortos.
Segundo o site Survival, Roger estimou que, em apenas 12 anos, cerca de 30 mil indígenas foram escravizados, torturados e assassinados. Ainda de acordo com o site, a busca excessiva pela “borracha” da Amazônia era em razão da recém-descoberta do processo de vulcanização – que deixa a borracha dura o suficiente para ser transformada em pneu – pela companhia norte-americana Goodyear. O invento motivou a primeira produção de carros em massa da então líder do ramo, a Ford.
O diretor internacional da organização Survival, Stephen Corry, deu seu parecer sobre o caso Omarino e Ricudo: “O rubber boom pode parecer uma história remota, mas seu efeito ainda existe. Quando o ocidente começou o ‘casamento’ com o carro, muitas cartas de amor foram escritas com sangue indígena. Foi um crime grave contra a humanidade. O paralelo não deve ser exagerado, mas hoje ainda existem empresas britânicas como a Vedanta Resources planejando o roubo de terras tribais na Índia. É hora de dar um fim a esses crimes e tratar os povos indígenas como seres humanos”.
OMARINO E RICUDO: Escravos witoto levados à Inglaterra em 1911
(FOTO: Cambridge University MAA)
Hoje o site da organização internacional Survival, que trabalha em prol da perpetuação de comunidades tribais do mundo inteiro, divulgou um apelo de uma índia da tribo witoto, da Colômbia.
CICATRIZES: Criança indígena
da época do "rubber boom"
(FOTO: Roger Casement)