(por Grayson Schaffer)
UM GRUPO DE ALDEÕES reuniu-se na borda de uma pedra, no topo de uma cachoeira de 6 metros de altura no rio Ikopa, em Madagascar, a quarta maior ilha do mundo. Captando as intenções dos caiaquistas radicais Brad Ludden, 23, e seus colegas de equipe, Rush Sturges, 19, e Tyler Bradt, 18, um senhor vestido apenas com uma tanga azul, tipo a do Tarzan, sai calmamente do meio das pessoas. "Merci, merci", diz ele num francês precário. Ele parece não ter um nível de status social ou religioso, mas quando fala os outros se calam. Cantando em malgaxe, língua nativa de Madagascar, ele estende os braços para o céu, pega alguma coisa invisível e a transfere ao Brad e ao Tyler, gesticulando num ritual antigo como se estivesse dançando axé.
Esta é a Madagascar que estávamos atrás: aquela que confirma os rumores de que o avatar da biodiversidade da ex-colônia francesa também esconde uma mágica poderosa e algumas das melhores corredeiras do mundo ainda virgens. Graças ao nosso guia, Gilles Gautier, encontrar o Ikopa – uma torrente potente de água cristalina com nível de dificuldade Classe V (corredeiras extremamente difíceis com passagens únicas) similar ao do popular rio Zambezi, que atravessa países do sul da África – foi como achar o diamante Blue Hope na primeira escavação. "É melhor do que o Zambezi, melhor do que a Nova Zelândia até", deslumbra-se Ludden. Os três outros rios que percorremos, Lilly, Mandraka e Sahatandra, todos com desfiladeiros de granito e vilas hospitaleiras nas margens, são também achados raros.
Nova Madagascar Com um foco novo no ecoturismo, a infra-estrutura da ilha está melhorando lentamente. Depois de quatro décadas livre do colonialismo francês – a maior parte do tempo sob uma pobreza sub-haitiana induzida pelo ditador Didier Ratsiraka -, o novo presidente eleito, Marc Ravalomanana, está trabalhando duro para triplicar as terras protegidas do país e assinou acordos que trarão aviões de carreira americanos à capital, Antananarivo. Acampamentos de aventura estão aparecendo por todo o país e uma nova indústria de ilhas particulares em estilo "Maldivas" está fl orescendo no canal de Moçambique, entre a ilha e o continente.
Apesar de terem sido sugados pela água na queda final de 6 metros do Ikopa, Ludden, Sturges e Bradt sobreviveram às rápidas corredeiras batizadas por eles de "Céu e Inferno". Com ou sem a benção de um xamã, se jogar nos rios desconhecidos da ilha não é para todos, mas há muitas outras aventuras na "Nova Madagascar":
Rafting no Matsiatra Trekking no parques
Escalando os Highlands Explorando as ilhas
+ DICAS
RAFTING PARQUES ESCALADA SE VIRE
Destino batido para wannabes de Darwin – já que possui espécies endêmicas como o lemur (macaco de rabo longo) e o tenrec (um tipo de porco-espinho) -, esta ilha do oceano Índico de 18 milhões de habitantes mostrou suas terras proibidas ao mundo durante o Raid Gauloises, a corrida de aventura mais antiga do mundo, em 1993. Recentemente tornou-se um ímã para outros caçadores de emoção. A atração? Saltar dos vários monolitos de granito de 300 metros de altura das cadeias montanhosas que vão de norte a sul do país e desafiar corredeiras como as do trecho Lontras- Ibirama, no Vale do Itajaí (SC), o melhor do Brasil para rafting radical, só que em rios de 100 metros de largura. As densas selvas orientais transbordam de camaleões, pássaros exóticos e aranhas que tecem teias robustas de um lado a outro de rios estreitos (teias que fizeram meus companheiros aracnofóbicos executarem rolamentos desesperados). No oeste, os rios vermelhos são o lar para crocodilos do Nilo de 5 metros de comprimento. Madagascar é conhecida por sua lama vermelha, mas de junho a agosto o clima é seco e temperado.
Gilles Gautier é seu homem para flutuar nos 13 rios do interior de Madagascar, onde as vilas ainda estão completamente fora da civilização moderna. O Matsiatra corre na direção sul da ilha, margeado por mais de 160 quilômetros de savana – pelo menos metade do percurso é composto de corredeiras Classe III -, antes de se juntar ao rio Mangoky e desaguar na costa ocidental. Durante a viagem de 12 dias, o menu vai de asas de morcego a foie gras. Tome nota: crocodilos não são tímidos. "Eles nadam até perto do caiaque, mas voltam no último segundo", diz Gautier. "Nós nunca tivemos um incidente." Gilles cobra aproximadamente US$ 90 por pessoa por dia, com tudo incluído. Tel.: 011 261 20 22 351 01.
Após visitar as ruínas do palácio de Antananarivo, siga três horas para o leste até os parques nacionais em torno do Périnet, com suas nove espécies de lemur, inclusive o maior, o indri. Em Périnet, o Vakona Lodge oferece alojamentos de luxo e uma boa garrafa de Bordeaux. Se você quiser ver o parque todo – o arenito corroído do maciço de Isalo, as corcovas das baleias que irrompem no oceano Índico na ilha de Sainte Marie e o famoso caminho de baobás em Morondava – contate John Spence no Aardvark Safaris para fazer uma excursão, tel.: 011 44 1980 849160. US$ 4.250 por pessoa durante 15 dias.
Gautier oferece aos convidados dois acampamentos de escalada. Um na ilha de Nosy Hara, perto da cidade de Antsiranana, ao norte da ilha, com penhascos de 30 metros que se levantam da praia. O outro, Tsarasoa, fica três horas ao sul de Fianarantsoa, na base da parede de 762 metros. Foi aqui que Gautier trouxe a escaladora americana Lynn Hill, uma das melhores do mundo, e sua equipe feminina para abrir uma rota nova em 1999. Para os não-escaladores, as opções de lazer são mountain bike, trekking e paraglider. A agência MadaMax, de Gautier, cobra US$ 50 por pessoa por noite em ambos os acampamentos. Dorme-se em tendas com todo o conforto ou em bangalôs simples.
Os 18 bangalôs do sul-africano Richard Walker ficam na ilha de 54 acres de Tsarabanjina – uma das doze do inabitado arquipélago de Mitsio, a uma hora e meia de lancha a nordeste da ilha resort de Nosy Be. As praias aqui são conectadas por uma fina camada de lava, um lugar ideal para mergulhar, pescar, velejar e tirar uma onda de wakeboard. Tsarabanjina fornece tudo o que você precisar para uma vibe inesquecível. Outro pico imperdível é a ilha de Iranja, a uma hora e meia de Nosy Be. São duas porções de terra conectadas por uma fina linha de areia que submerge com a maré. Os 29 bangalôs – o maior com quatro quartos octagonais de vime – têm vista para o mar. Em muitas noites pode-se ver tartarugas rastejando pela praia para colocar seus ovos. O preço de quartos duplos em Tsarabanjina começa em US$ 140 por noite, com três refeições. Os mesmos quartos em Iranja começam em US$ 285 por noite, com ar-condicionado e minibar. Ambos podem ser reservados com a Aardvark Safaris.
MadaMax (011-261- 20-22-351-01), a agência de Gilles Gautier, cobra US$ 90 por pessoa por dia, com tudo incluído, para as viagens até qualquer um dos 13 rios navegáveis.
Faça um passeio customizado de 15 dias, incluindo estada em Périnet e em Isalo, com a Aardvark Safaris (011-44-1980- 849160) por US$ 4,250 por pessoa.
A MadaMax cobra US$ 50 por pessoa por noite em ambos os acampamentos – Nosy Hara e Tsarasoa – incluindo quarto completo em tendas ou bangalôs simples
Quartos duplos em Tsarabanjina custam a partir de US$ 140 por noite, incluindo as três refeições e snorkeling. Em Iranja quartos duplos custam a partir de US$ 285 por noite, incluindo ar-condicionado e minibar. Ambos podem ser reservados com a Aardvark Safaris.