Por Octávio Germann, da Go Outside online
Sede de aventura e desejo de contribuir para um mundo melhor foram as principais motivações do norte-americano Julian Monroe Fisher para realizar a expedição Equatoria – A walk across Africa. A travessia, que terá início em maio, partirá do litoral de Moçambique e deverá chegar à Angola, do outro lado do continente, ainda no final de 2011. Detalhe: tudo isso a pé.
O trajeto de aproximadamente 6437 quilômetros incluirá a visita a cinco países: Moçambique, Maláui, Zâmbia, República Democrática do Congo e, por fim, Angola. A audaciosa travessia de Julian pelo território africano é pioneira e vai além da pura e simples sede por adrenalina. O antropólogo quer trazer aos olhos das grandes potências mundiais a problemática das minas terrestres espalhadas pelo solo daquele continente, resultado de décadas de guerras civis.
Nesta semana, após se despedir de casa, Julian aproveitou uma das escalas de seu vôo no aeroporto de Viena, na Aústria, para conversar com a equipe da Go Outside online e contar um pouco mais sobre sua corajosa viagem. A jornada também pode ser acompanhada no site da expedição. Go Outside – Quais são as maiores dificuldades que você espera encontrar durante a expedição? Go Outside – Como você avalia a contribuição do projeto para a questão das minas terrestres espalhadas pelo solo africano?
Expedição dará importante passo na luta contra a produção de minas terrestres no planeta
Go Outside – Como foi sua preparação para enfrentar esse desafio?
Julian Monroe – Tenho planejado essa expedição nos últimos dois anos. Inicialmente marquei o início para 2012. No entanto, as coisas foram acontecendo muito rápido e já no começo deste ano me via preparado para encarar a travessia. Fisicamente o desafio me exigiu uma rigorosa rotina de treinamentos diários onde eu alternei trilhas de mountain bike pela manhã (aproximadamente 10 quilômetros), com caminhadas à tarde, que totalizavam, geralmente, algo na casa dos 12 quilômetros diários. Além disso calculo ter sido imunizado contra mais de meia dúzia de moléstias típicas da região e, mentalmente, procuro me apoiar na experiência de exploradores que já passaram por situações extremas, como o inglês Ernest Shackleton, um dos pioneiros em expedições à Antártida no início do século XX.
Julian – Acredito que minhas maiores dificuldades durante a expedição serão pela sobrevivência básica durante o percurso. Minhas preocupações diárias girarão em torno de como e onde encontrar água e comida, como evitar ladrões de estrada, lidar com a fauna local e funcionários corruptos do governo. Além disso, terei de me preocupar com fadiga mental e insolação, mas, principalmente, será duro ficar longe de minha mulher e filhos.
Julian – Mesmo estando sozinho na empreitada, acredito que vou contribuir de alguma forma para a conscientização mundial sobre a questão das mortes de inocentes em virtude das milhares de minas terrestres espalhadas por grande parte do continente africano. É de enorme importância trazer os olhos do mundo para esse problema, principalmente grandes potências como os EUA, China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e que, por algum motivo que desconhecemos, não consideraram necessário assinarar o Tratado de Ottawa contra as minas terrestres, do ano de 2007, que proíbe o uso, a estocagem e a transferência de minas anti-pessoais ao longo do território nacional dos seus países signatários.