Cris Carvalho: gravidez e esporte combinam

É muito comum as mulheres interromperem atividade física assim que descobrem a gestação – e o mais curioso é que muitas vezes se trata de uma prescrição médica independentemente da existência de qualquer risco.

Lógico que é essencial ter acompanhamento e autorização médica para a prática esportiva, mas se o médico proibir por proibir – ou seja, proibir por princípio – mude de médico, porque praticar atividade física é muito saudável. E a menos que sua gestação seja de risco nada justifica suspender os exercícios.

O primeiro trimestre da gestação é o mais complicado, porque, além de o corpo da mulher estar se adaptando as novas demandas energéticas, é uma fase em que ocorre uma espécie de “seleção natural” que interrompe diversas gestações em detrimento do sucesso de outras.

É tão comum abortos naturais ocorrerem nesse período que se justifica a cautela e o medo de muitos médicos. Eles suspendem a atividade física com a intenção de proteger a mulher e minimizar o risco das gestantes. No entanto, eu imagino que se trata da referência que esses profissionais possuem em relação à prática desportiva – na maioria das vezes, nula.

O pior de tudo é que o cenário não muda: o risco é grande de qualquer forma e parece que na maioria das vezes nada tem haver com fazermos ou deixarmos de fazer um esporte. Aliás, quantas e quantas gestações seguem adiante em situações extremamente precárias, como o caso de mulheres viciadas em drogas que, além de não se alimentarem usam, abusam de sua condição física em todos os sentidos.

Por isso saiba que suspender a rotina de atividade física é tão desaconselhável quanto iniciar qualquer prática esportiva. Tratam-se de mudanças na rotina além da própria gestação. Assim a adequação do esforço físico é a maneira mais saudável para o bem-estar e estilo de vida da mulher nessa fase.

O importante é: durante a gestação não é hora de promover condição física. Essa fase é de manutenção e bem estar. De respirar e praticar movimentos e esforços dentro de uma zona confortável de esforço.

Em 1985 a comunidade da saúde decretou 140 batimentos cardíacos como prescrição segura da atividade física aeróbia e até hoje é comum o uso desse parâmetro. O curioso é que esse número não tem nenhum embasamento científico e foi apenas um primeiro parâmetro que subestimou o esforço físico de todas as mulheres em detrimento das diferenças individuais. Em 2005 diversas escolas de educação física sugerem a adequação da freqüência cardíaca à idade de cada mulher e, inclusive, ao condicionamento físico individual.

Outra curiosidade: trata-se do aumento da produção da relaxina, hormônio responsável por relaxar ligamentos e articulações para o corpo ganhar espaços durante o crescimento fetal. Aqui sim faço um alerta para mulheres com sobrepeso ou com alguma fragilidade crônica de qualquer articulação ou ligamento do seu corpo, porque esse hormônio vai agir em todo o organismo, portanto aumentando o risco de lesão nas regiões mais frágeis durante a prática esportiva.

Diabete e hipertensão são outras situações de risco em qualquer circunstância e devem ter adequação e cuidados especiais para a prática esportiva segura. Já mergulho e temperatura corporal alta, inclusive febre, são situações perigosas e devem ser evitadas e notificadas ao médico imediatamente.

Além desses riscos existem de fato outros em que devemos suspender atividade física para proteger a mulher e sua gestação. Por isso para quem gosta de suar minha dica é escolher um médico que identifique o esporte, a atividade física e a gestação como saúde e que, portanto, apenas suspenda ou adapte a prática dentro das suas reais necessidades.

Cristina Carvalho é atleta e co-fundadora da assessoria esportiva Projeto Mulher (www.projetomulher.com.br) e do Núcleo Aventura (www.núcleoaventura.com.br)







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