Por Fernanda Beck
CONHECIDO MUNDIALMENTE por suas escaladas em free solo – ou seja, sem nenhum tipo de cordas ou equipamentos de proteção para casos de queda –, o californiano Alex Honnold, de 30 anos, não pensa duas vezes antes de encarar os paredões rochosos mais tretas do planeta. Para ele, medo é algo que pode ser domado, basta ter foco e força de vontade. Durante uma breve passagem pelo Brasil no final do ano passado, Alex conversou conosco sobre medo de altura, um fantasma sempre presente nas escaladas em big walls:
“A maioria das pessoas não tem medo de altura, tem medo de morrer, e associam uma coisa com a outra, associam altura com quedas e morte. Bem poucas pessoas têm medo de altura mesmo.”
“Se estou na beira de um penhasco e parece que eu vou cair, claro que sinto medo, igual a todo mundo. Mas geralmente não acho que estou quase caindo.”
“É importante separar um medo infundado de um medo racional. Se você está na beira de um penhasco, mas há uma grade de proteção, não faz sentido sentir tanto medo, é irracional e estúpido, afinal você está seguro. Este é o tipo de medo que você pode minimizar: respire fundo, se acalme e acabe com ele.”
“Escalei uma via no Rio de Janeiro que estava um pouco desgastada, com rochas soltas e proteções bem distantes umas das outras. Fiquei com medo, pois parecia que a qualquer momento uma agarra se soltaria e eu cairia de uns 15 metros. Eu sabia que não morreria, pois estava escalando com equipos de segurança, então não foi tão difícil lidar com meu medo. Mas se estivesse mais perto do meu limite precisaria dar um jeito de me controlar e seguir em frente.”
“Mesmo quando estou escalando com proteção, posso sentir medo. Em uma situação mais casca grossa, posso desistir e não escalar ou continuar com cuidado, agarrando tudo com muita força e me movendo bem devagar. E tudo bem, estarei lidando com aquilo. As pessoas precisam ter consciência sobre seus medos, saber de onde eles vêm.”
“Conseguir identificar o medo é a chave para superá-lo. Se você entende seu medo racionalmente e consegue reconhecer de onde ele surge, fica mais fácil decidir se ele tem fundamento ou não. E então pode perceber se consegue controlá-lo. Se não conseguir, pelo menos o medo vai servir para te avisar que você pode estar em perigo, que precisa agir.”
“Mesmo se você estiver com muito medo, uma parte do seu cérebro precisa dar um ‘passo atrás’ e se observar, entender que seu corpo está passando por uma resposta fisiológica: seu campo de visão fica mais estreito, suas mãos tremem, você se agarra a tudo com muita força. Você deve conseguir perceber que há uma razão pela qual seu corpo está agindo assim, e lidar com isso. Leva tempo e prática. É preciso sentir medo muitas vezes, ver como você responde a essa situação e aprender a lidar com isso. Quando você está lá na rocha, precisa ser capaz de racionalizar o medo naquele momento, naquela posição.”
“Sempre acreditei no progresso incremental, a passos pequenos: você faz uma coisa, depois escolhe fazer algo um pouquinho mais difícil, um pouco diferente, e então sua zona de conforto e suas habilidades vão aumentando. Você se obriga a ir cada vez mais além e, quando menos percebe, já está confortável em um monte de situações.”
(Matéria originalmente publicada na revista Go Outside, edição JAN/FEV 2016, nº 126)
DESTEMIDO: Alex Honnold durante sua passagem por São Paulo, no fim de 2015 (Foto: Ignacio Aronovich)