Remando pela vida


RESULTADO: Pato olha o estado que ficou sua prancha

O catarinense Everaldo Pato é um experiente surfista de ondas grandes, com diversas temporadas nos melhores picos do mundo. Mas, pelo visto, experiência neste caso não é uma garantia de vida. Recentemente, em Jaws (na ilha de Maui, Havaí), surfando ondas de 20 metros em um fim de tarde, ele viu a morte de perto.

Pato se posicionou mal para pegar uma onda e, quando se deu conta, estava na zona de arrebentação, em um lugar onde sobreviver poderia ser apenas uma questão de sorte. A seguir, ele narra este momento que foram os piores segundos de sua vida, mas que enfim teve um final feliz.

“O mar em Jaws estava com ondas enormes naquele final de tarde: cerca de 20 metros. O dia foi histórico para surfistas que se arriscaram usando somente a força dos próprios braços. Há alguns anos, surfávamos ondas deste tamanho somente com o apoio do jet ski (tow-in surf), rebocado, em alta velocidade. Hoje, as coisas mudaram, e acredito que trabalhamos no limite do ser humano, entrando nessas ondas que há dois anos eram apenas sonho.


Dentro da água, nem sempre as coisas funcionam do jeito que imaginamos. Naquele dia, as ondas começaram a entrar por volta do meio-dia. Às 15h, eu entrei no mar para tentar pegar uma onda. Havia bastante gente na água, e a adrenalina de entrar em um mar desses é indescritível. Remei para fora e me posicionei no pico ‘norte oeste’ (onde as ondas estavam maiores, porém, as chances de conseguir pegar uma onda uma são maiores).

Estava há pouco mais de 40 minutos na água. Tentei algumas vezes entrar na onda, mas não tive êxito. Percebi que as ondas se movimentavam extremamente rápido, pois as ondulações alcançavam os maiores períodos.


Sendo assim, decidi remar um pouco mais para baixo e tentar entrar na onda me posicionado basicamente embaixo desses monstros. O plano parecia perfeito, mas não foi. Alguns minutos após me posicionar, entrou a maior série do dia: duas ondas de quase 20 metros. Pensei por alguns segundos que eu estava no lugar certo, e então decidi ficar ali e tentar remar na primeira onda. Foram os dois ou três piores segundos da minha vida. Quando percebi a estupidez que havia cometido, lá estava eu sozinho, pois todos já haviam remado para o outside e escaparam. E eu ali, remando pela minha vida, tentando escapar daquele monstro. Mas

não tive nenhuma chance.


Remei ainda mais forte, com toda a minha energia, pois sabia que estava verdadeiramente remando para sobreviver. Consegui, com muito esforço, chegar até o topo dela, mas todo aquele poder e força simplesmente me puxaram para baixo. Em fração de segundos, fui arremessado de costas, sem saber o que me esperava lá embaixo. Sabia que estava despencando de uns 18 metros de altura, e que além do forte impacto eu iria passar muito tempo embaixo d’água.


O pior ainda estava por vir. Minha prancha voltou comigo e, sem eu esperar, bateu na minha cabeça. A pancada foi tão forte que na hora eu quase desmaiei. No momento em que percebi que meu corpo ficou dormente e que eu estava quase apagando, pensei. "Caramba, vou morrer assim?". Foi tudo muito lento e rápido ao mesmo tempo, lembro de pensar na minha família, e então concluí que, se eu desmaiasse, seria o meu fim.


Fiz tudo o que podia para ficar desperto. E isso funcionou! Quando bati na água e comecei a rolar, já senti o meu corpo a uma incrível velocidade, rodando dentro da onda. Fiquei calmo e mantive a mente desperta, pois àquela altura já sabia que era lucro eu estar acordado.


Segundo meus amigos, só parei a uns 300 metros de onde fui arremessado pela onda, sem a minha prancha, e agora estava nadando pela vida. Graças a Deus, em alguns segundos apareceu um jet-ski que me tirou da zona de impacto. Eu estava completamente tonto e adrenado, pois passei algo que, em muitos anos como surfista de ondas grandes, nunca havia passado.


Voltei ao barco onde estavam meus amigos e meus equipamentos e passei o resto da tarde me recuperando. Por sorte, não tive nenhuma lesão séria. Apenas a prancha foi destruída pela força das ondas.


À noite, senti fortes dores em todo o corpo e precisei de medicação para conseguir surfar no dia seguinte, que, por sinal, foi completamente diferente. Ainda bem que esta aventura teve um final feliz!”


Aloha,

Pato.

Mesmo swell: Vídeo da ondulação gigante que encostou em Jaws, em janeiro deste ano