De zero a dez

Pare de titubear: chegou a hora de você se aventurar por outros esportes, mesmo que isso signifique cair, chorar, se frustrar e treinar que nem um novato sem noção. Para não te deixar sozinho nessa empreitada, obrigamos nossa equipe a encarar algumas modalidades pela primeira vez – e olha que nem foi tão ruim assim

Por Mario Mele, Bruno Romano, Fernanda Beck e Gabriela Ingrid

O FRACASSO É SEU NOVO AMIGO. Aceite isso de uma vez por todas. Aqui na redação da Go Outside, por exemplo, há dez anos que nós adoramos contar histórias de aventuras, mas também nos divertimos muito com as roubadas e presepadas em que a gente se mete. Como nunca nos damos por satisfeitos fazendo um único esporte, estamos sempre trocando informações de novas modalidades. Ou traduzindo: colocando os amigos de trabalho em alguma cilada. Desta vez, decidimos levar essa divertida brincadeira a sério. Lançamos nossos jornalistas em experiências inéditas, sempre na companhia de quem entende do assunto, com a missão de provar que todo mundo pode dominar um novo esporte em um tempo relativamente curto.

A ciência nos apoia: uma extensa lista de pesquisas recentes sobre o tema sugere que a evolução de verdade não costuma dar as caras quando estamos em nossa zona de conforto. Um estudo de 2013 da Universidade do Texas (EUA), por exemplo, ajuda a explicar a questão. Pesquisadores dividiram 221 pessoas entre 60 e 90 anos em três grupos. O primeiro recebeu a missão de aprender novas habilidades, como fotografia digital – em geral, atividades que envolvem alto nível de raciocínio e memória de curto e longo prazo. O segundo grupo foi designado a estimular hobbies com os quais já tinham familiaridade, como completar palavras cruzadas ou escutar música. Já o terceiro foi convidado a participar de eventos sociais, entre eles viagens em grupo. Você já deve imaginar onde isso vai acabar: depois de três meses, o primeiro grupo mostrou uma grande evolução de memória, em comparação com os outros dois.

A neurocientista Denise Park, responsável pelo estudo, explica que a questão agora é compreender melhor se os integrantes do primeiro grupo tiveram alterações físicas no cérebro ou se, em virtude da resolução dos problemas, eles simplesmente desenvolveram estratégias que os tornaram melhores nos testes de memória (realizados por todos participantes da pesquisa). Denise acredita que estudos posteriores, utilizando tecnologia de ponta em mapeamento de conexões neurológicas, irão responder à dúvida. Por hora, ela sustenta a primeira opção. “As pessoas do primeiro grupo ainda estão melhores depois de um ano do teste, o que sugere uma mudança física no cérebro”, diz.

Todos nós, alguma vez na vida, já nos sentimos desajeitados ou desconfortáveis em um novo esporte. Quando superamos essa sensação, significa que a repetição tornou nossos cérebros mais hábeis na conexão de diferentes regiões que fazem parte da execução daquela tarefa. Cientistas estão descobrindo que sinais que utilizam novos caminhos estimulam o cérebro a produzir mais mielina, uma substância que, em termos básicos, acelera a comunicação entre os neurônios. Quanto mais nova e complexa a atividade, mais regiões são ativadas e mais mielina é produzida. Ponto para você se a atividade escolhida ainda te fizer suar.

“Será que adicionar difíceis tarefas cognitivas a uma atividade como escalada em rocha – que envolve habilidades específicas, solução de problemas e constante avaliação de riscos – traz benefícios ao cérebro?”, indaga Denise. “Ainda não temos a resposta exata, mas eu suspeito que sim.”

Enquanto os estudos continuam, nós decidimos cair no mundo e experimentar isso na prática. Treinamos, caímos, evoluímos e nos arriscamos em trilhas de respeito, em rios furiosos e em pistas de skate faixa preta. Também pegamos dicas de ouro com os prós dessas modalidades e montamos um kit básico de equipamentos para quem quer dar os primeiros passos (ou tropeços) em uma nova modalidade. Tudo para te ajudar a sair do zero, deixar seu corpo e seu cérebro mais espertos e, claro, a dar muitas risadas.

MOUNTAIN BIKE

DICAS DE PRÓ: Ricardo Pscheidt

O catarinense Ricardo Pscheidt, de 34 anos, já tem 17 anos de mountain bike nas pernas – o primeiro contato com o esporte foi em sua cidade natal, São Bento do Sul (SC). Dividindo a paixão pelas trilhas com o trabalho diário de mecânico em uma fábrica de móveis, ele só passou a se dedicar totalmente à modalidade no fim de 2005. “Fui atrás do que eu gostava, sem saber se iria dar certo e conseguiria pagar minhas contas”, lembra. Logo de cara Pscheidt foi campeão brasileiro de 2006 na categoria cross-country, título que conquistou mais duas vezes na carreira. Nos últimos dois anos, além de competir, passou a ensinar tudo o que tem aprendido na nova função de treinador. Pedimos a ele cinco dias infalíveis para quem está se iniciando no MTB.

1. BEM-VINDO AO NOVO MUNDO

“Vejo muita gente se inscrevendo nas primeiras provas de mountain bike sem ter ideia do que enfrentará. São pessoas que, por exemplo, pedalam no máximo uma hora no asfalto e partem para desafios de até quatro horas na montanha. Pesquise sobre o esporte, informe-se melhor e entenda os tipos de competições. Tente se habituar ao novo ambiente antes de embarcar em alguma roubada.”

2. ORIENTE-SE

“Se sua ideia é se tornar competitivo, procure alguém para te guiar nessa jornada. Ter uma figura mais experiente por perto é fundamental, principalmente nas primeiras pedaladas. Na hora de desbravar novas trilhas, essa pessoa também será importante para te auxiliar a calcular o tempo de pedal e planejar coisas essenciais, como a quantidade de água a levar. E tente conversar com mais gente que já pedalou pelas regiões onde deseja ir.”

3. NÃO É SÓ BIKE

“A preparação física fora da bicicleta é essencial. Isso não vale apenas para nós, profissionais. Um atleta que está começando se beneficiará muito com treinos funcionais ou uma musculação focada em mountain bike. Isso não te deixará apenas mais forte, como ajudará a evitar lesões.”

4. O ASFALTO AINDA É SEU AMIGO

“Você não precisa abandonar o pedal no asfalto. Pelo contrário: fazer treinos fora da trilha é importante na preparação física. Até mesmo os profissionais de mountain bike têm usado os treinos na estrada em suas rotinas.”

5. DO CHÃO NÃO PASSA

“No mountain bike, cair faz parte. Ralar a perna, bater o braço e se esfolar também. A dica é não passar dos seus limites, ou seja, evoluir aos poucos, pegando confiança na sua técnica antes de querer impor velocidade.”

> Palavra de ex-novata

VIVIANE FAVERY, 29 anos, gerente de marketing e mountain biker (SP).

“Eu pedalava pelos parques em São Paulo sem nem ter ideia de que mountain bike era um esporte. Tinha focado anos da minha vida no trabalho e na faculdade – mas, lá no fundo, sempre sonhava em ser atleta. Quando me formei, fui correndo cuidar mais da minha saúde: entrei no pilates e comecei a fazer provas de corrida de aventura. Experimentei o mountain bike de verdade em uma prova de quatro dias na Serra da Mantiqueira. Sofri bastante. Caí várias vezes nas trilhas. Ainda assim completei a prova, meio sem acreditar que alguém pudesse ter pedalado tudo aquilo. Foi engraçado, pois, em vez de aquela experiência difícil me traumatizar, acabou me motivando. Conheci a treinadora Adriana Nascimento naquele dia, e ela logo se tornou minha mentora (além de futura parceira de pedal). A verdade é que eu estava carente de rumo. Precisava aprender a pilotar a bike e a minha vida.

Ao me ensinar a superar os obstáculos com sabedoria, a Adriana me ajudou a entrar no meu eixo. Não apenas me tornei uma mountain biker, como passei a ser uma profissional melhor. Ainda trabalho durante a semana em período integral. Também faço provas de alto nível. Já venci competições nacionais, como o Big Biker, e disputei competições internacionais, entre elas a Sani2c, na África do Sul, e a Pisgah Stage Race, nos Estados Unidos. Em agosto estarei na duríssima Leadville Trail MTB 100, prova de 160 km a uma altitude de mais de 3 mil metros acima do nível do mar. Competir não era meu foco lá no início, mas logo percebi que disciplina e garra eram características que tinha dentro de mim. Hoje o que vale é a experiência de me expor à próxima prova. Se acabar em vitória, ótimo. Se for uma derrota, eu me pergunto: qual a lição que fica para a minha vida?”

EQUIPOS

Mountain bike

A CH001 é uma MTB edição especial “boa, bonita e barata” da marca nacional Soul. Tem quadro de alumínio, freio a disco e relação Shimano Acera de 27 velocidades. R$ 2.100 | soulcycles.com.br

Luvas

A Pearl Izumi Select é uma luva de dedo curto macia e dura na queda, com fechamento por velcro. Se você não tem luvas ainda, opte pelas pretas, que encardem menos. R$ 80 |bikeshoping.com.br

Capacete

Com bom sistema de ventilação e viseira inspirada no motocross, o Tactic II é um modelo perfeito tanto para as trilhas como para o uso urbano. R$ 370 | specialized.com.br

Ferramenta

Com a Crank Brothers Multi, que tem 19 tipo de ferramentas (incluindo chave de corrente), você dificilmente terá que empurrar a bike na trilha. R$ 160 | biketown.com.br

CORRIDA DE MONTANHA

DICAS DE PRÓ: Alexandre Manzan

Nos últimos quatro anos, o brasiliense Alexandre Manzan, de 40 anos, tem focado todos os seus esforços em provas de trail running. A corrida em trilha, na verdade, faz parte da vida desse multiatleta há pelo menos 25 anos. Ao longo de sua trajetória, Manzan já dominou a cena em provas de triathlon (tradicional e rústico) e multisportes, colecionando títulos em todas as modalidades. De volta à atividade mais pura e simples dos esportes outdoor, o atleta divide conosco ótimas dicas para os iniciantes:

1. NO SEU RITMO

“Comece a correr em estradões de terra, depois passe para percursos mais íngremes e só então encare trajetos técnicos. Deixe seu organismo se acostumar com o ambiente das trilhas antes de se lançar em desafios muito duros.”

2. ESQUEÇA SEU ANTIGO RECORDE

“Você não está mais no asfalto: o ritmo é outro, a intensidade muda e o consumo de energia é maior. Se decidir acelerar muito logo de cara, vai pagar caro lá na frente. Cuidado também para não se empolgar antes da hora e se lesionar, seja torcendo o pé ou forçando a musculatura. O corpo é o seu mestre. Respeite-o.”

3. JOGOS DA MENTE

“Não pense no percurso como um todo. Divida a montanha em fases e conquiste cada trecho por vez. Mire uma árvore ou o fim de uma subida. Chegando lá você começa a negociar de novo o próximo objetivo. E assim por diante.”

4. FORTALEÇA-SE

“Não abandone a corrida no asfalto. Seu corpo precisa de um descanso da pauleira das trilhas. Guarde um tempo para exercícios de propriocepção e faça atividades voltadas para o reforço muscular. Isso é essencial para qualquer nível de atleta na corrida de montanha.”

5. SEM ALARDE

“Você não precisa comprar de uma vez todos os equipamentos à venda para corredores em trilha. Use o equipamento certo, para seu nível, sem abusar. Muita coisa é dispensável para iniciantes. Comece com o básico, que está ótimo.”

> Palavra de ex-novato

ELMO SCHIAVETTI, 50 anos, gerente de marketing e corredor.

“Sempre curti esporte, mas costumava fazer o que vinha na cabeça. Eu me inscrevia para uma prova e treinava por conta própria. Em 2006 encarei meus primeiros 5 km e já achei que tinha corrido uma eternidade. Só fui descobrir a corrida em trilha em 2012, aos 47 anos. Na época, eu vinha de uma contusão no tornozelo e estava em busca de motivação. E queria uma boa desculpa para viajar. Acabei embarcando em uma prova de montanha de 21 km na Patagônia sem ter muita ideia do que eu estava fazendo. Completei a prova, mas depois me machuquei de novo e parei. Foi então que conheci o treinador Marcelo Sinoca e comecei uma nova fase no esporte. Acabei me identificando muito com a corrida de montanha, pois a relação entre as pessoas do meio é incrível, todos se ajudam, é uma comunidade. Tenho grandes amigos das trilhas, como nunca fiz na corrida no asfalto. Só no começo de 2014 iniciei de vez uma preparação que, um ano e dois meses depois, culminou na linha de chegada de uma prova de 35 km na trilha. Atualmente, treino seis dias por semana, entre asfalto, trilha e fortalecimento, só descansando na sexta. Os 10 km, que antes pareciam inatingíveis, hoje saem naturalmente. Completei 50 anos no último mês de janeiro e estou pronto (e me sentido superbem) para meus primeiros 50 km na trilha. Será um presentão de aniversário.”

EQUIPOS

O corta-vento Wind Kiprace é leve e compacto, podendo ser facilmente levado na mão quando não está em uso. R$150|decathlon.com.br

O shorts Kapteren Kalenji é feito com tecido que ajuda na eliminação da transpiração e vem com dois bolsos laterais.R$ 100| decathlon.com.br.

O shorts GTD Running da The North Face possui bolso traseiro e painéis de malha que aumentam a mobilidade. R$ 170 | thenorthface.com.br.

Levinha, a mochila de hidratação Fly Kailash conta também com dois porta-garrafinhas frontais. R$ 240 | kailash.com.br.

ESCALADA

DICAS DE PRÓ: Felipinho Camargo

Lá se vão 14 anos desde que Felipe Camargo, o Felipinho, escalou sua primeira parede indoor. Tinha apenas 10 anos de idade e morava na cidade onde nasceu, em São José do Rio Preto (SP). Mesmo sem nenhuma influência próxima nesse esporte, o menino logo tomou gosto pela modalidade. “Por ser muito novo, tive a vantagem de não sentir tanto medo e ansiedade lá no alto”, conta. “E o interessante é que a superação do medo está entre as grandes vantagens de praticar escalada. A cada nova conquista, o estresse vai sendo controlado.”

Os anos se passaram e, com eles, vieram muitos títulos (hoje Felipinho é bicampeão brasileiro e campeão sul-americano de boulder). Aos 24 anos, já figura entre os escaladores mais respeitados do Brasil, e confessa que nada disso seria possível se não tivesse feito tudo certinho desde o início: “O começo é determinante para você gostar de escalar. É um esporte que demanda força, porém no início é mais importante aprender bem a técnica, saber onde colocar os pés e a se movimentar na parede”. Aqui o jovem mestre dá o caminho das pedras em cinco dicas.

1. TENHA PACIÊNCIA (E DIVIRTA-SE)

“Escale o máximo que conseguir e se divirta acima de tudo. Apesar de ser um esporte dinâmico, a escalada demanda bastante paciência no início. É um esporte que exige técnicas específicas, só adquiridas após muito treino. Por isso, no começo, enquanto estiver aprendendo os macetes, divirta-se o máximo que puder.”

2. TREINE INDOOR

“Ao falarmos de escalada, muitos já se imaginam na rocha logo nos primeiros treinos. Mas é preciso ir com calma: comece em um ginásio indoor. A rocha é mais agressiva, machuca a mão, exige mais técnica e um apurado preparo físico. Só depois de aprender o básico siga para uma estreia ao ar livre.”

3. FORTALEÇA-SE TREINANDO

“A escalada exige muito de partes do corpo que não usamos tanto, como as costas. No início é comum sentir dores musculares, mas isso não significa, necessariamente, que você deva fazer musculação logo de cara. O próprio ginásio serve como fortalecimento. A musculação e outros tipos de complemento só são úteis quando a pessoa já estiver treinando forte.”

4. TODO MUNDO TEM MEDO

“Eu assumo: tenho medo de altura. Mas confio totalmente em meus equipamentos, pois checo todos com atenção. Depois de ver que estou seguro, meu medo passa. Aprender as técnicas da escalada e a como usar os equipos também transmite confiança.”

5. PESO DE EQUILÍBRIO

“Escalar é lutar contra a gravidade: ou seja, quanto mais leve você for, mais fácil é subir. Porém não é só a leveza que conta – a força também é a chave para ser um bom escalador. Você tem que ser magro, mas não fraco. Também não pode ser muito forte e pesado. Encontre seu peso de equilíbrio.”

> Palavra de ex-novata

GABRIELA INGRID DA SILVA, 23 anos, repórter da Runner’s World.

“Eu nunca tinha escalado na vida. Mas me dispus a encarar esse desafio, a pedido da Go Outside. Minha primeira aula foi na Casa de Pedra, um ginásio de escalada esportiva de São Paulo. Lá um instrutor com dreads no cabelo e um sorriso tímido me ajudou a colocar a cadeirinha e as sapatilhas e me deu as primeiras dicas. Confesso que um frio na barriga começou a tomar conta de mim. E constatei: estava com um baita medo de altura.

Na hora de retornar ao chão, minhas pernas tremiam e o braço estava mole como uma minhoca. Alê Silva, o proprietário da Casa de Pedra, me esperava lá embaixo: ‘Aposto que seu antebraço está doendo, né?’, perguntou. Eu apenas sorri sem jeito. Ele me explicou que, na verdade, o correto é sentir mais dores nas pernas do que nos braços, e que se eu estava com os membros superiores em frangalhos é porque escalara errado. E me ensinou a máxima desse esporte: 80% perna, 20% o resto do corpo.

Escalei novamente. Desta vez, foi mais fácil. E até achei divertida aquela adrenalina.O ideal era eu frequentar a Casa de Pedra três vezes por semana, porém consegui ir apenas uma vez por semana. Na última delas, senti na pele como a paciência é uma dádiva da escalada. Minha via ainda era de grau intermediário. Subi aos poucos, fui devagar. Porém, ao chegar ao meio dela, travei. Meu corpo não aguentou. O instrutor gritava lá debaixo: “Não desiste, Gabi! Olha seu pé esquerdo, coloque-o na agarra próxima à mão esquerda!”. Precisei descansar por uns minutos. Com o instrutor me incentivando, respirei fundo e voltei para a via. Consegui fazer o movimento, e meu rosto se iluminou. Que sensação incrível! Saí de lá com um sorrisão largo.

Durante esse processo de aprendizado, descobri que realmente gosto de escalar. É um esporte repleto de desafios, de autoconhecimento corporal e lógica. Terminei cada aula feliz, porém com a cabeça a mil. Não vejo a hora de subir a próxima via e, quem sabe, a primeira rocha.”


EQUIPOS

A cadeirinha Black Diamond Momentum Harness tem ajuste de velocidade, que facilita a colocação, além de ser acolchoada. R$ 414| blackdiamondequipment.com; arcoeflecha.com.br

Apesar do solado aderente, a sapatilha Snake Resilience II não aperta tanto quanto as feitas para os prós, por isso é mais confortável e ideal para iniciantes. R$ 290 | snake.com.br

Fique seguro e sem suor nas mãos com o saquinho de magnésio Conquista. R$ 53,60 | conquistamontanhismo.com.br

Graças a sua geometria com um dos lados da canaleta em V, para aumentar a fricção, o freio Black Diamond ATC Sport apresenta até três vezes mais atrito. R$136 | blackdiamondequipment.com; casadepedra.com.br

SKATE

DICAS DE PRÓ: Raul Roger

Ele chegou quietinho e todo tímido ao Rockyman 2014, prova multiesportes organizada em novembro pela Go Outside, no Rio de Janeiro. No final abocanhou o primeiro lugar da etapa de skate, tirando as chances de vitória de feras como Sandro Dias e Lucas Xaparral. Aos 19 anos, Raul Roger já tem 13 de carreira e está se tornando um grande nome da modalidade vertical, com títulos como o DC King of the Park de 2013, em São José dos Campos, SP.

O garoto começou a dar suas primeiras remadas na pranchinha aos 6 anos, por influência do pai. “Ele ia para a pista, eu seguia atrás. Depois voltava para casa e ficava andando sentado, pela cozinha”, conta. Profissional há dois anos, Raul hoje anda cinco vezes por semana, quase sempre na pista construída perto de sua casa, no Grajaú, em São Paulo. “No skate não existe técnico. No começo outros skatistas sempre te dão uma ajuda, mas depois é cada um por si”, afirma. A seguir alguns ensinamentos de Raul.

1. DEVAGAR E SEMPRE

“Quando se está aprendendo a andar de skate, é importante não ser muito ambicioso: pratique em rampas pequenas, com transições lentas, para que o corpo possa aprender como reagir a essas situações.”

2. UNIDOS VENCEREMOS

“O melhor é começar a andar acompanhado. Se você não fizer aulas, ao menos treine com alguém que já tenha alguma experiência e possa te dar algumas dicas de como movimentar o corpo e posicionar os pés. Fora que observar outras pessoas pode te ajudar a entender como determinadas manobras são realizadas.”

3. USE CAPACETE

“No início do skate, é essencial o uso do capacete, independentemente da modalidade. Uma pessoa que está começando ainda não sabe amenizar uma queda e não tem os reflexos treinados para isso. Assim acaba se apoiando com qualquer parte do corpo.”

4. SEJA HUMILDE

“A humildade é chave para quem ainda não tem tanta familiaridade com o skate: comece aperfeiçoando a posição dos pés na prancha, depois tente manobras mais básicas, que servem de plataforma para as mais elaboradas. Ollies e flips são boas portas de entrada para quem quer construir um leque de manobras.”

5. CONFIE EM VOCÊ

“Paciência e confiança são essenciais no skate. Nesse esporte, a evolução é lenta e é preciso insistir um bocado até começar a ver resultados. O medo das quedas é justificado – elas acontecerão –, mas não pode te impedir de seguir em frente.”

> Palavra de ex-novata

FERNANDA BECK, 32 anos, repórter da Go Outside.

“Eu já tinha ‘brincado’ de andar de skate algumas vezes quando apareceu a oportunidade de fazer aulas e levar a brincadeira mais a sério para escrever esta reportagem. Como eu pratico snowboard há alguns anos, disseram-me que a evolução no skate seria “mais fácil”. Eu quase acreditei.

Comecei a fazer aulas na Bowlhouse, em São Paulo, com uma turma só de meninas. Meu professor, Raphael Buarque, é um dos caras mais pacientes que já conheci na vida. Calmo e simpático, ele me explicou que, na estreia, eu iria andar de um lado para o outro do bowl, subindo de leve nas paredes inclinadas, sem alterar minha posição em cima do skate. Segurando minhas mãos durante o trajeto, ele me orientou a esticar as pernas quando estivesse na vertical e a dobrá-las quando voltasse, pegando impulso para ir de um lado ao outro. ‘Se você se desequilibrar, dobre os joelhos.’

Na minha segunda aula, fomos treinar na marquise do parque do Ibirapuera, onde o chão plano é menos intimidante. Cada missão dada por Rafa provocava em mim a mesma reação: ‘Acho que eu ainda não consigo fazer isso’. Ao que ele sempre revidava: ‘Se não tentar, nunca conseguirá’. E não é que ele estava certo? No fim da sessão, começo a treinar ollie (saltar com o skate sem usar as mãos) e sinto um miniorgulho.

‘O progresso no skate é chato’, diz Rafa. ‘Você tem que insistir muito para progredir. Cansa, machuca, e o rendimento no final da sessão acaba sendo menor do que no começo. Mas aos poucos se chega lá.’

Depois da minha quinta aula, resolvi voltar à Bowlhouse em um horário mais vazio, para praticar sozinha no bowl. Funcionou. Sem a pressão dos espectadores (outros alunos), pude me concentrar mais e me senti à vontade para começar a fazer viradas sozinha. Também aprendi a cair melhor. ‘Está esperta já’, soltou Rafa quando me apoiei bem após uma queda e evitei um estrago maior. Agora posso confirmar que o progresso no skate é lento mesmo, mas existe. Ainda estou longe do dez, mas também já saí do zero, de onde comecei. E, apesar de ter me machucado um pouco, me diverti para caramba.”

EQUIPOS

O skate Smoked Element é resistente e ideal para iniciantes R$ 550 | kanui.com.br

Proteja-se direito com o kit com joelheira, cotoveleira e wristguard da Niggli. R$ 160 |nigglipads.com.br

O capacete MF 7 Oxelo tem doze entradas de ar para ventilação e preço em conta. R$ 100 |decathlon.com.br.

CAIAQUE DE CORREDEIRA

DICAS DE PRÓ: Pedro Oliva

Natural de São José dos Campos (SP), Pedro Oliva, 32, é um célebre canoísta extremo. Em 2009, ele impôs respeito ao desafiar os limites desse esporte: a bordo de um caiaque que não mede mais que 2,9 metros, Pedro dropou a cachoeira Salto Belo, uma imensa queda d’água de 38,7 metros, em Campo Novo do Parecis (MT). Ele não só sobreviveu sem nenhum arranhão como bateu um recorde mundial na modalidade. “Medo. É isso que sinto antes de saltar de uma cachoeira”, admite Pedro.

Seu estado emocional de canoísta, porém, muda quando ele executa uma linha perfeita sobre as águas de algum rio turbulento. “No final de cada sessão, costumo me sentir encharcado de felicidade, confiança e liberdade. Que energia boa!” A seguir, dicas de quem manja muito do assunto.

1. COMECE EM ÁGUAS CALMAS

“Se você nunca remou, comece em caiaques com cockpit aberto, praticando em águas calmas – lagos, represas ou mesmo no mar. Assim você pegará o jeito da remada antes de se jogar em corredeiras.”

2. USE A PISCINA

“A canoagem em águas brancas é uma modalidade bem específica. As embarcações, apesar de projetadas para rios caudalosos e preparadas para enfrentar choques, também funcionam bem na piscina, principalmente para treinar técnicas de rolamento (desvirar o caiaque sem precisar desembarcar).”

3. A LOGÍSTICA CONTA

“A dinâmica desse esporte não é das mais simples. Transportar caiaques em veículos é um grande desafio, principalmente se você não tem um carro adequado. É importante saber disso para não ficar traumatizado antes mesmo de chegar ao rio.”

4. FAMILIARIZE-SE COM O RIO

“Para as primeiras remadas em corredeiras, escolha rios com nível de dificuldade baixa, pois isso o ajudará a ficar confiante. Descer o mesmo rio várias vezes é outro bom treino. Com o tempo, naturalmente você pensará em encarar expedições maiores.”

5. ESCOLHA BEM OS EQUIPOS

“Colete, remo, capacete, cotoveleiras e calçados são equipamentos básicos para a iniciação no caiaque extremo, e eles devem ser confortáveis. Lembre-se que não há nada mais importante que sua segurança, por isso dê preferência a equipamentos de qualidade.”

> Palavra de ex-novato

MARIO MELE, 34 anos, subeditor da revista Go Outside.

“Minha estreia na canoagem em águas brancas foi com o pé direito, literalmente: chapei-o com violência contra uma pedra do rio Futaleufu, no Chile. Depois de errar um eddy out (manobra que consiste em deixar uma parte do rio protegida do fluxo para acessar a correnteza principal), fui vencido por um redemoinho, e o que eu mais temia aconteceu: meu caiaque virou de ponta-cabeça.

Claro que eu também não dominava o rolamento (a técnica para desvirá-lo) e, portanto, minha única saída foi desprender a ‘saia’ do barco e me ejetar, buscando a superfície. Foi então que o chileno Humberto Reyes, meu professor nessa empreitada, se aproximou e eu, instintivamente, agarrei na proa de seu caiaque. Com medo de dropar a corredeira de costas, Humberto começou a gritar meio desesperado: ‘Solta o meu caiaque!’. Obedeci, porém fui arrastado pela água, até ser arremessado violentamente para dentro de La Isla, uma corredeira classe 3+ localizada na parte alta do rio.

Quando soube que passaria uns dias em Futaleufu, a pequena comuna da Região dos Lagos cravada na Patagônia chilena, encarei como uma obrigação ter aulas de caiaque naquele rio de mesmo nome, mundialmente conhecido pela interminável sequência de corredeiras. Afinal, curto remar e já fiz até viagens longas em caiaque. O Futaleufu também posseui trechos amigáveis, de grau de dificuldade classes 2 e 3, e por isso pensei que não viveria nenhum grande pesadelo por lá. Apesar de ouvir de remadores experts que três dias não seriam o suficiente para eu ter uma experiência digna na modalidade, insisti. “Acabei de voltar de uma expedição de 200 quilômetros em águas flat, pelo menos já sei me virar com o remo”, justifiquei. Engano meu: remar em águas brancas a bordo de um caiaque de 3 metros de comprimento por 60 cm de largura é outra história.

Ao me ensinar manobras básicas como eddy out ou ferry (para cruzar o fluxo principal), Humberto até elogiou meus reflexos. Fora do rio, ele aproveitava para desenhar no papel o que seria uma curva executada com fluidez. Na segunda aula, tentei por em prática a técnica de rolamento para desvirar o caiaque. Cheguei a pensar que estava tranquilo o bastante para prender a respiração debaixo d’água e aplicar as regras: levar a cabeça em direção ao joelho, colocar o remo de lado endireitando a pá, de modo que ela ficasse chapada na água, fazer força sobre o remo e, com a ajuda do tronco, voltar à posição inicial.

Não foi tão fácil como eu imaginava. Quando se está de ponta cabeça e preso sob a água, a realidade é assustadora. Não tive sucesso e, obviamente, me frustrei. Mesmo assim, segui para a terceira aula, cujo desafio derradeiro seria La Isla. Lá, depois de dar com o pé na pedra, tomei uma inevitável sequência de caldos. Quando a calmaria voltou a imperar, nadei até uma praia que surgiu do meu lado esquerdo.

Humberto chegou em seguida e revelou que meu erro fatal naquele eddy out fora tentar tombar para a direita enquanto eu curvava para a esquerda, o que fez com que meu caiaque tomasse uma rasteira do rio. Mas também disse que completei com sucesso mais de 70% do cronograma estipulado, e foi aí que aquelas frases inspiradoras começaram a fazer sentido na minha cabeça. “Que dia de ação, hermano!”, respondi.

Mario Mele viajou a convite da Experience Patagonia (experiencepatagonia.cl) e da Pata Sweet Home Patagônia (facebook.com/patacorp)

EQUIPOS

O caiaque Dagger Katana tem cockpit confortável e é bem versátil. R$ 4.650 (sob encomenda) | hidro2.com.br

Com pás maiores, o remo Epic Active Touring responde rápido a “varreduras” e outras manobras de leme. R$ 1.260 | epickayaks.com.br

Feito em Cordura 500R, o colete Iapó possui um confortável sistema de ajuste de neoprene na cintura. R$ 350 | hidro2.com.br

Leve, impermeável e respirável, a jaqueta NRS Stampede tem acabamento em vinil na gola e nas mangas para isolar o remador da água gelada. US$ 180 | nrs.com

A ciência do esporte

O médico Gustavo Magliocca, especializado em medicina esportiva, fala sobre os efeitos positivos para o corpo dos esportes citados nesta reportagem

> Escalada

Trata-se de uma atividade bem completa, na qual se trabalha força e potência muscular de antebraços, braços, ombros, quadris, coxas e pernas. Flexibilidade, coordenação motora, equilíbrio e concentração são outras variáveis bastante estimuladas. Além disso, a resistência muscular se soma à necessidade de resistência aeróbia, fazendo com que o gasto calórico seja alto.

> Skate

Em geral, andar de skate aumenta o tônus muscular das pernas, coxas, quadril e abdome. O skate também estimula a sensibilidade de músculos, tendões e articulações, melhorando a coordenação motora e a flexibilidade.

> Mountain bike

Esporte com excelente estímulo aeróbio, pedalar também auxilia no fortalecimento da musculatura das coxas, do quadril e do abdome.

> Canoagem

Uma das atividades mais completas entre os esportes, estimula muito a parte cardiorrespiratória, além de trabalhar a resistência, a força e a potência da musculatura de braços, ombros, tronco, abdome e quadril. Diferentemente do que muita gente pensa, as pernas não se mantêm estáticas durante a remada.

> Corrida em trilha

Exercício de enorme gasto energético, exige bastante de panturrilhas, coxas, quadris e abdome. O contato com a natureza é outro ponto a favor, pois ajuda as endorfinas a serem liberadas.

Aprenda com quem entende

Ficou com vontade de sair do zero? Selecionamos algumas escolas e training camps que podem te dar aquela mão para evoluir em diversas modalidades

> Mountain bike

Training Camp com Adriana Nascimento

Em Campos do Jordão, em São Paulo, o training camp da ex-atleta profissional Adriana Nascimento, nove vezes campeã brasileira de cross-country, costuma durar um final de semana e acontece em datas anunciadas previamente em seu site. Com carro de apoio, transporte de bagagens e guias, é uma boa pedida para quem quer treinar e ganhar experiência em longas distâncias.R$ 410 | anmtb.com.br.

> Canoagem

Curso básico da Rios de Aventura

Para quem está se iniciando no mundo dos remos, este curso básico que acontece em Socorro (SP), é dividido em teoria (com história do esporte, modalidades, hidrologia e segurança) e prática (que incluiu posicionamento no barco, como subir no caiaque dentro da água, remadas e descidas em corredeiras de níveis 1 a 3). É possível continuar com o curso avançado ou em outras modalidades, como rafting.R$ 390 | riosdeaventura.com.br

Training camp na Patagônia

A Experience Patagonia é um coletivo que conta com guias especializados e altamente qualificados em caiaque da operadora Outdoor Patagonia. Eles te ensinarão a remar em águas brancas antes de soltá-lo na corredeira ideal para seu nível técnico. A partir de US$ 500 | experiencepatagonia.cl

> Skate

Aulas de skate na Bowlhouse

O sobrado na Vila Mariana, em São Paulo, abriga um bowl de madeira recém-reformado. Oferece aulas em grupo para adultos e crianças, e uma sessão exclusiva para mulheres às segundas-feiras. A escola também sedia eventos e shows. R$ 150 (uma vez por semana) | bowlhouse.com.br.

> Escalada

Casa de Pedra

Em São Paulo, o maior ginásio de escalada indoor do país conta com instrutores que podem ajudar os iniciantes a ganhar familiaridade com os equipamentos e as paredes. A casa também dispõe de aulas especiais para crianças. R$ 269 por mês (diárias por R$ 60) |casadepedra.com.br

Onsight

Inaugurado no começo do ano em Porto Alegre, o ginásio conta com 11 vias guiadas e cinco vias de top-rope fixo, fingerboards e campusboards. Sediou o campeonato brasileiro de boulder neste ano. R$ 130 por mês (diárias avulsas por R$ 35) | facebook.com/onsightginasiodeescalada

> Corrida em trilha

Núcleo Aventura

Assessoria esportiva especializada em corrida, monta planilhas e organiza treinos coletivos em São Paulo e no Rio de Janeiro, com treinamentos específicos de acordo com o objetivo do atleta. R$ 246 (por mês) |nucleoaventura.com.br