Alex Honnold no Brasil

Por Fernanda Beck

A rotina do norte-americano Alex Honnold bota inveja em muita gente. Considerado um dos maiores escaladores de todos os tempos, Alex, de 30 anos, já cravou seu nome na história do esporte. Ganhador do Piolet d’Or (o maior prêmio da escalada) no ano passado por sua travessia do Fitz Roy ao lado de Tommy Caldwell, o californiano é conhecido antes de tudo por suas escaladas free solo (sem nenhum equipamento de proteção). Apesar de seus feitos memoráveis e patrocínios de peso, Alex mantém uma vida simples: mora durante a maior parte do tempo em sua van, que estaciona no Parque Nacional do Yosemite, onde escala sempre que pode. Vegetariano “quase vegano”, Alex escala todos os dias, sem seguir uma rotina específica de treinos.


TRANQUILÃO: O escalador norte-americano Alex Honnold no Yosemite (Foto: Divulgação The North Face)

No Brasil para escalar e promover o Festival Reel Rock de cinema, que apresentou A Line Across the Sky, sobre sua travessia do Fitz, e divulgar sua biografia recém-lançada (Alone on the Wall, ainda sem título em português), Alex bateu um papo descontraído conosco.

GO OUTSIDE Quando você está escalando em free solo, prefere ter uma pedra no seu sapato ou que comece a chover?
ALEX HONNOLD Sem dúvida prefiro ter uma pedra no meu sapato (risos). Uma pedra na sapatilha é um incômodo e pode ser bem irritante, mas não é um problema real. Se começar a chover, posso ter um problema bem maior.

Você prefere passar frio ou passar calor?
Esta é uma ótimo pergunta! Acho que, quando comparado a outras pessoas, minha performance é melhor no calor, pois cresci na Califórnia, onde é muito quente, estou acostumado. Já passei pelos dois extremos. Nenhum dos dois seria minha resposta ideal.

Durante uma viagem, você prefere não ter comida suficiente ou agasalhos suficientes?
Prefiro não ter comida o suficiente. Na temporada passada, na Patagônia, andamos por 20 horas sem nenhuma comida, muito cansados e fracos, foi terrível! Mas, se não tivéssemos agasalhos suficientes, poderíamos ter morrido congelados. Se bem que com comida suficiente você pode se mexer mais rápido e se manter aquecido!

O que você faz com seu tempo livre se em uma viagem o tempo vira e você não pode ir escalar?
Fico muito irritado (risos). E costumo ler. Li boa parte de tudo que já li na vida sentado dentro de uma barraca no Alasca, esperando o tempo melhorar. Gosto muito de ler.

Como você faz para fazer xixi?
Quando estou escalando? Eu apenas faço! É a coisa mais fácil do mundo, você faz em qualquer lugar. Até já fiz coco enquanto escalava em free solo, acho que sou uma das poucas pessoas do mundo a fazer coco enquanto se segura na rocha com uma mão só. Acho que é uma das minhas maiores conquistas, foi um grande sucesso.

Em que momentos você sentiu mais medo?
Dirigindo. Passo muito mais medo dentro do carro do que escalando.

Qual foi seu momento mais feliz escalando?
Será que eu já fui feliz alguma vez escalando (risos)? Estou sempre feliz quando escalo. Na semana passada, escalando no Rio de Janeiro, eu parava e olhava em volta com um sorriso gigante no rosto, a paisagem era muito bonita, fiquei impressionado.

Você se sente solitário?
Sim, mas não escalando. Quando você está escalando, sempre está com amigos, com outros escaladores, sempre fica um clima bom. Mas estou fazendo uma turnê para divulgar o lançamento do livro, e outro dia recebi meu itinerário. Eram 24 páginas sobre ser empurrado de um avião para o outro, de um hotel para o outro. Deprimente.

Alguma vez já foi mordido ou picado por algum animal enquanto escalava?
Eu costumava ter muito mais medo de insetos, hoje não tenho mais tanto. Já fui picado por abelhas e vespas, e tinha muito medo de aranhas quando era pequeno. Mas escalando muitas vezes passamos por teias de aranha, e eu fui perdendo o medo.

Você sente falta de morar em uma casa?
A coisa da qual sinto mais falta é que quando moramos em uma casa temos uma rotina à qual estamos acostumados, acordamos, temos nossa comida, nossas coisas. Quando viajo muito, tenho que me virar com comidas estranhas e rotinas malucas (risos).

Você fala outras línguas?
Minha mãe só fala francês comigo, então falo francês. Meu espanhol é terrível. E meu português está melhorando, já sei umas seis palavras. Mentira, menos do que isso. Aprendi “frango” e “bom dia”.

No que você gosta de gastar seu dinheiro?
Na verdade só gasto dinheiro em comida e combustível para a van. Não gasto muito sem ser com essas coisas.

Que legado você quer deixar? Como quer ser lembrado?
Shit! Sou muito novo para pensar no legado que vou deixar. Mas gostaria de ser lembrado como alguém que causou impacto na escalada, que empurrou o esporte para uma boa direção. E por meio da Honnold Foundation, quero fazer bem para o mundo.







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