Queenstown a 15 mil pés

Por Bruno Romano, da revista Go Outside*

Dentro de um pequeno avião, uma dúzia de pessoas se espreme enquanto o piloto aponta o bico para cima. Sentados no chão, trocamos olhares, sinais e uma ou outra palavra aos gritos. Na maior parte do tempo, preferimos observar a vista pelos quadrados de vidro ao nosso lado. Olhando pelas minúsculas janelas, o visual da Nova Zelândia impressiona ainda mais. Quando os primeiros saltos de paraquedas começam a rolar, já estamos com altura suficiente para ver o Mt. Cook – a maior montanha do país, com 3.754 metros – a 260 km de distância. Assim que o altímetro bate os 15 mil pés (ou 4.572 metros), é a nossa vez de agir. Finalmente despencamos lá de cima, e começamos a curtir a vista do lago Wakaputi e das montanhas nevadas de Queenstown a 200 km/h.

Estamos sobre o principal polo turístico desta montanhosa região chamada de Southern Lakes, ou lagos do sul, no extremo oeste da província de Otago. Queenstown tem pouco mais de 13 mil habitantes fixos, mas esse número mais do que dobra nas altas temporadas (de inverno e verão). O lugar respira turismo, o grande motor deste “vilarejo”, que pelo tamanho não é nem chamado de “city” (cidade), mas de “town” (vila). Mesmo assim, tem o rótulo de “capital da aventura”, o que por si só não ajuda muito a descrever a área. Na prática, são dezenas de agências de turismo, hospedagens, bares e restaurantes, com um ar cosmopolita típico daqueles lugares onde a presença de gringos se estende por todos os dias do ano.


ADRENALINA GELADA: Queenstown vista (bem) do alto em salto no estilo tandem. (Fotos acima: Cauê Vaz)

Em meio a tanta dose de adrenalina disponível – esqui, snowboard, jetboat, paraquedas, rafting, mountain bike… –, tudo acontece na maior calma em volta do imenso lago Wakaputi, de 80 km de extensão – o mais longo do país. A região se desenvolveu depois da chegada de tribos maoris em busca da Pounamu, chamada pelos britânicos de greenstone (a brilhante pedra verde que conhecemos como jade). Hoje, as Pounamu dos locais são os turistas. E neste caldeirão aventureiro há uma enorme quantidade de moradores estrangeiros, grande parte deles sul-americanos. Depois de Auckland, na ilha norte, Queenstown recebe a maior concentração de brasileiros em terras kiwis, ultrapassando os três mil. Por isso, não estranhe se ouvir uma conversa em português em mais de uma esquina do centro.

Foi justamente com dois brasileiros que fizemos a visita área do pedaço. Enquanto o catarinense “Will” da Silva dirigia o salto no estilo tandem, o paulista Cauê Vaz registrava as imagens. Os dois se profissionalizaram como paraquedistas e transformaram o hobby em um divertido e agitado ganha-pão. O salto é coordenado pela NZone, a agência pioneira de Queenstown na operação de voos comerciais desde 1990. “No auge da temporada, chegamos a fazer 250 saltos por dia”, conta Derek Melnick, gerente de negócios da NZone, que abre suas portas todos os dias do ano, menos quando o tempo engrossa.

Não custa lembrar que essa região é a mesma que deu origem ao primeiro pico de bungee jump comercial no país. Ainda hoje é possível se jogar da ponte Kawarau, primeiro polo de bungee neozelandês, ou se lançar em uma aventura mais casca-grossa no Nevis Bungy, que tem uma plataforma suspensa por cabos de aço a 134 metros de altura, entre duas montanhas. Experimentamos e sobrevivemos a ambos. E, sim, o paraquedas a 15 mil pés é uma opção mais tranquila.



SE JOGA: Bungee pioneiro na ponte Kawarau; vista do Queenstown Hill (Fotos: Divulgação/AJ Hackett; Paula Carpi)

As atividades, é bem verdade, ficam salgadas em tempos do dólar alto. Saltos de paraquedas variam entre NZ$ 300 e NZ$ 440 (aproximadamente entre US$ 190 e US$ 280), e os de bungee jump saem a partir de NZ$ 195 (US$ 125). Mesmo assim, uma visita pela região pode ter um mix de atividades bem acessível – inclusive rolês de graça. Para ter outra vista área de gala, basta subir a pé o Queenstown Hill por uma linda trilha que sai do alto da vila. Há placas de sinalização e mapas gratuitos disponíveis na sede do Department of Conservation (DOC), que também reúne boas dicas de outros trekkings e pedaladas para você explorar lagos e montanhas do sul do país.

Com os pés de volta no chão, depois da aterrissagem com o paraquedas, não chego a me sentir aliviado com minha estreia nas alturas. A vontade mesmo é de voltar lá para o alto e viver tudo de novo. Como sei que não vai ser desta vez, olho para o lado e apenas comprovo: está aí o lugar certo para entender (e curtir) essa obsessão neozelandesa de se atirar das alturas. Tiro a roupa de proteção e converso com mais gente ansiosa para subir. Enquanto isso, Will e Cauê já começam a se preparar para mais uma missão. Não vejo decisão melhor por ali do que simplesmente saltar, saltar e saltar de novo.

*O jornalista viajou a convite da Tourism New Zealand







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