Pelo velho-oeste neozelandês

Por Bruno Romano*, da revista Go Outside

Trilhas de bike alucinantes e singletracks dos sonhos são marcas registradas da Nova Zelândia. Mas este pedaço pouco explorado no sul do país mostra outra face da vocação neozelandesa para a bicicleta: a Otago Central Rail Trail é um projeto turístico que parecia improvável, mas que no fim das contas deu certo: revitalizou uma zona árida, rural e esquecida da ilha sul, aproveitando a rústica estrutura de povoados próximos a uma linha de trem desativada. Como? Acolhendo ciclistas viajantes! A Go Outside percorreu o trecho mais cênico da rota que liga os pequenos vilarejos de Middlemarch e Clyde, reunindo estradas de cascalho com visuais marcantes de montanha, pub’s centenários e histórias escondidas dos primeiros colonizadores do pedaço.

O começo da jornada é na cidade de Dunedin, no extremo sudeste do país. Banhada por águas geladas do Pacífico, Dunedin recebeu as primeiras aglomerações britânicas da Nova Zelândia, quando o ouro foi descoberto nas montanhas da região, há cerca de 150 anos. O local tem clima frio durante a maior parte do ano, e apesar de estar afastado de outros centros, reúne hoje uma aura universitária bem viva. Surf, SUP, mountain bike e trekking são opções totalmente viáveis. É de lá também que parte o trem para Middlemarch (onde pedal, de fato, inicia), que segue em um trajeto histórico de 77 km conhecido como Taieri Gorge Railway. O trecho seguinte aos trilhos leva até Clyde (fim do pedal), mas foi desativado em 1990, isolando ainda mais a população da região.



VIDA KIWI: A rotina dos fazendeiros de Wedderburn, em Central Otago (Fotos: Bruno Romano)

“Se não fosse a bike a maioria já tinha fechado seus negócios ou saído daqui”, conta Steve Cormarck, fazendeiro local e dono de um pub em Wedderburn, bem no coração da trilha. A ideia original do trem – que levou 16 anos até ser finalmente inaugurado, em 1907 – era transportar a produção agrícola entre os campos e Dunedin, além de levar alguns artigos da cidade até os vilarejos. Atualmente, o trecho restante dos trilhos só funciona para turismo. E o que sobrou de cascalho se encaixou perfeitamente ao rolê de bike. A pedida é pedalar tranquilo durante o dia, curtindo o visual e os costumes do campo, e curtir um bom rango, com uma pint carregada da cerveja local à noite, trocando ideia com os locais.

São 150 km de trilha, com boa sinalização pelo caminho e algumas opções de parada, seja para reabastecer ou para esticar as pernas. O maior trecho sem suporte é de 30 km, logo no começo da pedalada, entre Middlemarch e Hyde. Dependendo do ritmo que você escolher (e do interesse em explorar a região), é possível completar o percurso entre um e quatro dias.



RUMO AO OESTE: Trechos da Otago Central Rail Trail por onde corriam trilhos de trem (Fotos: Divulgação/hedgehoghouse.com)

“Dá pedalar durante todo o ano, já que a trilha está sempre aberta”, diz o local Shayne O’Connor, ex-jogador profissional de cricket da seleção neozelandesa e atual sócio da Trail Journeys, uma das agências especializadas nos rolês de bike na região. A área entre Middelmarch e Clyde foi decretada como pública em 2000, portanto, não é necessário pagar nada para pedalar por lá. Essas empresas especializadas acabam sendo uma mão da roda para traçar a logística e alugar os equipamentos, mas se você já tiver tudo, certamente a trilha te convidará para uma experiência autossuficiente.



VIAGEM NO TEMPO: Cenas dos vilarejos de Alexandra e Oturehua (Fotos: Bruno Romano)

A ideia de incentivar o uso da bike é uma iniciativa do Department of Conservation (ou simplesmente DOC), o órgão federal que também cuida dos parques nacionais do país. O projeto teve parceria com a Otago Central Trail Trust, uma organização que promove a trilha e arrecada doações para manter o espaço. Por mais que os ventos gelados e a neve dificultem um pouco as coisas nos meses frios, a trilha segue pedalável em todas estações. Como o desnível é bem ameno, não é necessário ser um ciclista profissional para completar o percurso – Middlemarch está a 200 metros, Clyde a 170 metros e, o maior ponto do trajeto, que fica no meio do caminho, está a 618 metros de altura.


BEM-VINDA: A rota de bike que revitalizou o turismo da região (Foto: Divulgação/hedgehoghouse.com)

Uma bike bem revisada dá conta do recado, seja uma mountain, um modelo híbrido, uma ciclocross ou uma específica para cicloturismo. Leve dinheiro vivo para não ter problemas nos vilarejos, já que muitos lugares não aceitam cartões. Para alegria e sossego geral dos ciclistas, veículos motorizados são proibidos em todo o caminho. Outra boa notícia: o fim do pedal, Clyde está a cerca de uma hora de Queenstown, o maior pólo outdoor da Nova Zelândia, repleto de roteiros consagrados do turismo do país.

*O jornalista Bruno Romano viajou a convite da Tourism New Zealand (@PureNewZealand)







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