Um grupo de destemidos atletas, liderado por um suíço, está transformando o canionismo em um dos esportes mais extremos do planeta
Por Mario Mele
É UM DAQUELES VÍDEOS IMPRESSIONANTES: vestindo roupa de neoprene, capacete e tênis, o suíço Warren Verboom, 33 anos, está de costas para um penhasco de cerca de 20 metros. Ele se equilibra sobre um estreito bloco de pedra onde só há espaço para seus pés unidos. Lá embaixo, uma pequena piscina natural, afunilada entre rochas e formada por uma cachoeira que despenca ao lado do suíço, é o alvo do mergulho. Warren respira fundo, dobra os joelhos, abre os braços e então se joga para trás dando um forte impulso. A sequência inteira dura menos que três segundos, e é possível ouvir os mosquetões presos em sua cintura se batendo enquanto ele dá um duplo mortal e aterrissa com perfeição na água, de pé.
“Porra se eu estava com medo!”, admite Warren ao se lembrar desse episódio. “Inclusive eu passei raspando por uma rocha.”
O lugar em questão é um dos primeiros cânions que Warren explorou, no Vale Osogna, na Suíça, e a ousada manobra só aconteceu após um minucioso trabalho de reconhecimento. “Chequei a profundidade da piscina ao longo de várias travessias que fiz por lá, e só depois de ter concluído alguns pulos em pé é que passei a mandar os flips”, explica o suíço.
Um site de esportes compartilhou o vídeo com a pergunta “Épico ou estúpido?”, e o comentário mais curtido foi “Estupidamente épico”. Teve também quem disse que nem a fama justificaria alguém assumir um risco tão grande. Para Warren, que faz canionismo desde os 11 anos de idade, o objetivo é levar esse esporte a outro nível – é a isso que ele se dedica atualmente.
Apesar de não ser mergulhador de penhasco nem ginasta, Warren ficou íntimo de voos e quedas-livres por meio do esqui e do base jump. “Aprendi tudo no canionismo assistindo e praticando do meu próprio jeito”, revela o suíço, que não esconde a fascinação pelo risco extremo. “Quando me coloco nessas situações, aprendo um pouco mais sobre meus limites e tento ir além. Quando você entra em um cânion, geralmente a única saída é ir até o fim”, explica.
Em 2011, Warren fundou o grupo deap canyoning. A palavra “deap” é derivada de “deep” (“profundo”, em inglês). A nova grafia não altera a pronúncia, mas a transforma em um ambigrama: “se escrita em letras minúsculas, de ponta cabeça ainda se lê ‘deap’”, diz o suíço. O nome é bem conveniente para designar um grupo formado por oito atletas extremos que costumam passar o dia pendurados em cachoeiras e cânions, atirando-se de grandes alturas e girando o corpo em rotações inimagináveis. Na entrevista seguir, Warren diz que está constantemente em busca de novos integrantes para seu deap canyoning. Alguém se habilita?
A modalidade
“Canionismo é o meu esporte. Nele, fazemos rapel, corremos, nadamos, mergulhamos e escalamos. É um trabalho que demanda muitas horas do dia. Quanto aos saltos, é diferente de simplesmente pular de penhascos. Geralmente não temos locais de saída planos nem rochas salientes. E nem sempre as piscinas naturais em que caímos são profundas.”
Escalação
“O deap canyoning é um grupo de canionismo freestyle que formei com caras das mais diferentes modalidades: há ginastas, mergulhadores de penhasco e atletas do parkour. A maioria não se conhecia antes e nem sabia o que era canionismo. Hoje, todos são apaixonados por esse esporte. É por isso que sempre estou procurando por atletas em potencial.”
Filmes
“Depois que percebemos que muita gente estava interessada no que fazíamos, passamos a produzir filmes. Em 2012, lançamos The Beginning e, em 2014, Continue. Ambos estão disponíveis no site para download.” (R$ 18; deapcanyoning.com)
Maior desafio
“Cada novo salto é sempre o mais desafiador até eu conseguir realizá-lo. Em seguida, tenho uma ideia nova e passo a trabalhar nela.”
Patrocínio
“A Adidas está com o deap canyoning desde o início e sou muito grato a eles por isso. Estou em contato com outros possíveis patrocinadores, mas o problema é que a maioria nunca apoiou atletas desse esporte. Mas tenho certeza que estamos ajudando a mudar isso.”
O jogo
“Eu fico satisfeito em concluir um salto ou uma manobra, mas não dependo disso para ser feliz. Tenho a seguinte filosofia: ‘Não é necessário ganhar nesse esporte, mas você também não pode perder: deve apenas permanecer no jogo’.”
Objetivo
“Quero descobrir novos lugares, estimular novos praticantes, criar manobras e desenvolver técnicas. Meu maior sonho é tornar o canionismo reconhecido como um novo esporte extremo.”
Relação familiar
“Eu sinto que é difícil para meus pais assistirem aos meus vídeos e filmes, mas enquanto eu estiver vivo e próximo a eles, está tudo certo. Eles me compreendem.”
Se não fosse o canionismo…
“Também sou instrutor de paraquedismo, o que significa que pratico muito este esporte. Eu amo estar no ar, e caso o canionismo não fizesse parte da minha vida, estaria saltando mais de base jump ou praticando mais speed flying, que é um parapente pequeno feito para voar em alta velocidade.”
É BRINCADEIRA?: Integrante do Deap Canyoning salta no vale Osogna, na Suíça (Foto: Claudia Ziegler/claudiaziegler.com)
SUPERPODERES: Warren pondo em prática mais um de seus pulos insanos (Foto: Claudia Ziegler/claudiaziegler.com)