Prodígio das magrelas

No quintal de uma das pistas de mountain bike mais famosas do mundo, em Whistler, no Canadá, surge um jovem talento de atitude e agressividade surpreendentes – mesmo na pele de um tímido e sossegado menino de 15 anos

Por Bruno Romano

O MELHOR WHIPEIRO do mundo tem apenas 15 anos. Isso significa que um garoto menor de idade conseguiu voar alto com sua bike e emparelhar as rodas na horizontal, jogando a traseira de lado (whip) com mais estilo, precisão e talento do que qualquer outro competidor – estamos falando de alguns dos melhores mountain bikers do planeta, que disputam o Whip-Off World Championships. O torneio faz parte do Crankworx, um importante festival independente que rola todo ano em Whistler, no Canadá, reunindo a nata do downhill e de outras vertentes do MTB na meca mundial do esporte.


PASSOU DE ANO: o canadense Finn Iles, 15, decola para vencer o mundial de
whip no Canadá (Foto: Lukas Pilz, Red Bull Content Pool).

Os organizadores do evento sequer permitiam a participação do menino local Finn Iles, por causa da sua pouca idade. Foi aí que surgiu a campanha “#LetFinnIn, que espalhou a hashtag pela internet. O desfecho da história a gente já contou, com Finn consagrando-se campeão, mas seus feitos não param por aí. Quando o inverno enche as montanhas da região de neve, o prodígio canadense se transforma no esquiador mais rápido e ágil das redondezas, acumulando medalhas internacionais para seu país.

Conversamos com Finn Iles para entender melhor o que passa na cabeça do menino que parece só estar começando a decolar, ladeira acima ou piramba abaixo.


GAROTO SÉRIO: O canadense Finn Iles. (Foto: Dave Trumpore/Pure Agency).

Oi, bike!

“Eu tinha uns 2 anos e meu pai me ensinou a andar de bike. Em pouco tempo eu já ia para a escola de bicicleta todos os dias. Nessa época, a gente ainda morava em Baff e não tinha se mudado para Whistler.”

Meu primeiro whip

“Eu tinha12 anos, fui para a pista e dei umas voltas, mas me falaram que eu era muito pequeno para estar ali. Fui com 13 de novo e dei outras voltas – eu lembro bem, porque foi insano na época. Até alguém chegar e falar mais uma vez que eu era muito novo para estar ali…”

Whip Off Worlds

“Um amigo me disse que eu estava mandando bem e que deveria tentar entrar no campeonato, que talvez eu até vencesse. Fiquei pensando e decidi entrar, porque no mínimo parecia divertido.”

#LetFinnIn

“Uma grande amiga nossa postou uma foto minha e decidiu colocar essa hashtag. A mensagem começou a se espalhar até para fora do Canadá. Daí surgiu um vídeo no site Vital MTB e, a partir daí, explodiu e foi compartilhado por todos os lados.”

#FinnIsIn

“Eu estava treinando e alguém veio me contar a novidade: enfim tinha me deixado participar do campeonato! Eu não conseguia parar de rir na hora. Aquilo me deixou na melhor vibe da minha vida.”

Poder da mente

“Eu acho que entro em um bom estado mental antes das provas. Tento ficar bem calmo e deixo que o espírito divertido de tudo me envolva. E aí, quando chega a hora de competir, só penso nisso. Não costumo ficar nervoso.”

Apoio familiar

“Meus pais deixam as decisões comigo, porque respeitam o que eu quero fazer quando se trata de bike, então basicamente eles estão sempre me dando apoio.”

Meu primeiro contrato

“Assinei com a Lapierre Gravity Republic, uma equipe francesa. Vou competir por eles no Mundial Junior de downhill por duas temporadas. Eu me esforçarei bastante para ir bem, tentando vencer as etapas para chegar à categoria principal como profissional.”

No inverno

“Meus pais sempre curtiram esqui, então cresci esquiando e competindo. Já participei de várias provas internacionais para crianças, desde pequeno.”

Esqui x bike

“Fui muito competitivo no ano passado no esqui. Em 2015, quero ficar mais livre, manter a coisa mais relaxada. Vou focar na bike para ser o esporte em que irei mais longe. Sei que não vai dar para fazer as duas coisas em alto nível, mas amo os dois esportes e vou continuar praticando-os todos os dias depois da escola.”

Sessões livres ou competição?

“Nas sessões livres, é tudo mais tranquilo, pois você tem mais chances de fazer sua melhor manobra. Na competição é uma oportunidade só, o que também é ótimo, porque se você acerta se sente muito bem. Mas, no futuro, me vejo mais na competição. O Whip Off é um dos maiores eventos do ano para mim, mas também curto as provas de downhill.”

Reportagem publicada originalmente na Go Outside 115, de janeiro/fevereiro de 2015.







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