Vidas bem vividas

Por Bruce Barcott e Camila Junqueira

Aí vai uma seleção das melhores biografias de aventura já escritas em português e inglês.

Marco Polo: de Veneza a Xanadu, de Laurence Bergreen (2007); R$ 59 – objetiva.com.br

Um garoto de 17 anos acompanha o pai numa viagem de camelo para a China, é contratado como conselheiro de Kublai Khan, permanece lá por dezessete anos, volta para casa, é capturado na guerra e jogado numa cadeia, onde escreve suas memórias que ficam na prensa por, aproximadamente, 700 anos. Esta é a história de Marco Polo, e o biógrafo Laurence Bergreen a conta com maestria nesse divertido relato através da China do século 13. O jovem Marco encontra tanto os prazeres da carne (“Leve minha filha, por favor”, diz o chefe do vilarejo), quanto anfitriões homicidas, transformando sua vida numa das mais sortudas já vividas. (BB)

Orlando Villas-Boas: História e causos, de Orlando Villas-Boas (2006)
R$ 42 no ftd.com.br
Com o sabor do texto de um verdadeiro contador de causos, Orlando relembra nesta autobiografia o seu mergulho no mundo dos índios brasileiros. Tem lugar especial a expedição Roncador-Xingu que, liderada por ele e por seus irmãos Cláudio e Leonardo, em 1943, relançou a base humanista da política indigenista brasileira e 24 anos depois havia deixado em seu rastro mais de 40 novas cidades, 19 campos de pouso e o Parque Nacional do Xingu. Mais tarde, Orlando Villas-Boas Filho publicou o livro Orlando Villas-Boas: expedições, reflexões e registros (R$ 78; metalivros.com.br), com expedições, reflexões e registros da vida de seu pai abarcando o intervalo de 1943 a 1975, anos de maior ativismo de Orlando. (CJ)

Na Natureza Selvagem, por Jon Krakauer (1996)

R$ 46 – companhiadasletras.com.br

Não é uma biografia tradicional, mas o relato de Krakauer sobre a grande e trágica jornada de Chris McCandless tornou-se parte da mitologia cultural aventureira. Em 1990, depois de se formar, o jovem de 22 anos saiu numa viagem pela América do Norte de carro, procurando livrar-se das influências da civilização. Ele se rebatizou Alexander Supertramp, “um viajante estético, cujo lar é a estrada”, e embrenhou-se no interior do Alasca, determinado a viver como um Thoreau dos dias atuais. E morreu tentando, envenenado por sementes tóxicas de uma ervilha selvagem. A vida e a morte de Chris, retraçadas por Krakauer, entram nesta lista porque é uma biografia com tudo o que qualquer jovem já buscou: aventura, pureza, liberdade e verdade. (BB)

No coração da África: as aventuras de Livingstone e Stanley, de Martin Dugard
R$ 24; record.com.br
Uma parte das explorações do jornalista e explorador norte-americano Henry Morton Stanley foi publicada em português em No coração da África. É a parte em que sua história se cruza com a do mítico Doctor Livingstone, quando Stanley sai em busca do escocês até então perdido na África por mais de três anos até encontrá-lo na Tanzânia em 1871. (CJ)

As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, de Lilia Mortiz Schwarcz (1998) e D. Pedro II: Ser ou não ser, de José Murilo de Carvalho (2007)

R$ 72 e R$ 42, respectivamente, ambos no companhiadasletras.com.br

O grande político brasileiro, que ainda hoje é um dos mais admirados, teve a coragem que a maioria dos nossos políticos atuais não tem. Ele preservou a liberdade de imprensa, defendeu o fim da escravidão e a diplomacia, e incentivou a educação e a cultura. Seu lado explorador surge com sua paixão pela fotografia (com apenas 14 anos de idade dom Pedro II comprou o primeiro equipamento fotográfico do Brasil). Suas fotos – de índios, negros e paisagens de cantos remotos – tentam construir a imagem de uma nação que unia modernidade e civilização ao exótico e exuberante. A figura singular do nosso grande imperador e também do homem Pedro de Alcântara estão nessas duas biografias, a partir de dois pontos de vista diferentes. Em As barbas do imperador está a materialização do “mito”, a maneira com que Pedro II legitimou a tropicalização dos costumes monárquicos com a mistura de ritos franceses e costumes brasileiros. E em D. Pedro II: Ser ou não ser está revelado o dilema de um homem dividido entre a coroa imperial e a cartola comum: tímido, oprimido pelo próprio poder e inconformado com os sacrifícios pessoais que lhe eram exigidos. Em ambos está um homem de paixões, muito além do retrato convencional de imperador imponente que conhecemos. (CJ)

Fantasmas do Everest, de Larry Johnson.

R$ 100; companhiadasletras.com.br

O livro não é exatamente uma biografia, mas refaz os passos que levaram à construção do mito George Mallory ao longo de décadas após seu desaparecimento no Everest junto com Andrew Irvine. Como morreram? Derrotados pelo abismo ou pela exaustão? Chegaram ao cume apesar do escasso equipamento? Em Fantasmas do Everest, Larry Johnson procura respostas para essas perguntas a partir das descobertas de uma expedição de pesquisa que foi ao Everest em 1999, seis décadas depois do fatídico dia, refazer os passos do célebre montanhista. (CJ)

Endurance: A lendária expedição de Shackelton à Antártida, de Caroline Alexander

R$ 95; companhiadasletras.com.br

Sul: a fantástica viagem do Endurance, de Ernest Shackelton

R$ 76; elsevier.com.br

Endurance: a incrível viagem de Shackelton, de Alfred Lansing

R$ 30; sextante.com.br

Há três boas publicações brasucas sobre Shackleton, todas com foco na expedição Endurance. O bestseller de Caroline Alexander, apesar de básico, traz imagens impressionantes de Frank Hurley, o fotógrafo que acompanhou a expedição. Em Sul: a fantástica viagem do Endurance, a jornada é contada pelo próprio Shackelton. E o livro de Alfred Lansing é baseado em todos os diários escritos durante a expedição e em entrevistas com sobreviventes feitas nos anos 1950 (o livro foi publicado pela primeira vez em 1959).

THE BOOK IS ON THE TABLE

Jacques Cousteau: The Sea King, de Brad Matsen

R$ 27 na Livraria Cultura, sob encomenda; randomhouse.com

No final de sua vida, Jacques Cousteau mais parecia sua própria caricatura, com seu gorro vermelho e o forte sotaque – tanto que o diretor Wes Anderson o utilizou como modelo para o filme A Vida Marinha com Steve Zissou. Mas Brad Matsen nos lembra que foi Cousteau quem criou a compreensão moderna sobre o mar. Nascido em 1911 em uma vila bem longe da costa na França, Jacques-Yves Cousteau descobriu seu amor pelo mar como oficial da marinha. Ele queria ser produtor de filmes e muitas das suas invenções vieram da sua vontade de usar suas câmeras no fundo do mar: o filme subaquático (1938), o cilindro de scuba com regulador (1940s) e o programa de TV O Mundo Submarino de Jacques Cousteau (1966). Ele não era santo: Matsen cita os casos extraconjugais e a insensibilidade com os filhos (ele processou Jean-Michel pelo uso de seu sobrenome). Mas o livro nunca perde de vista as realizações de Cousteau. Durante séculos, a vida dos marinheiros foi romanceada em verso e prosa. Cousteau nos mostrou que a vida é muito mais fascinante sob o casco do navio. (BB)

Bruce Chatwin: A Biography, de Nicholas Shakespeare (1999)

R$ 39 no submarino.com.br

Em clássicos como O rastro dos cantos (R$ 68; companhiadasletras.com.br; esgotado na editora) e Na Patagônia (R$ 55; companhiadasletras.com.br), o escritor Bruce Chatwin mostrou que os lugares mais sublimes ainda estavam por ser descobertos por qualquer pessoa portando um passaporte. A biografia escrita por Nicholas Shakespeare revela Bruce como um contador de histórias de classe mundial, fofoqueiro incorrigível e mímico brilhante. Desconfortável dentro de sua própria casa, Bruce adotou o modo de vida dos antigos ingleses, de exploração. “Eu descobri que só posso ser inglês e me comportar como um inglês se não estiver na Inglaterra”, disse.


Tenzing: Hero of Everest, de Ed Douglas (2003)

US$ 4,93 no amazon.com

Apesar de Tenzing Norgay ter escrito duas memórias, nenhuma é tão abrangente e sofisticada quanto a biografia escrita por Ed Douglas. O livro conta a espetacular ascensão e lenta queda do grande sherpa escalador, cujo triunfo no Everest junto ao neozelandês Edmund Hillary tornou-o tanto herói quanto um homem desapontado com a fama. Sua trajetória de pastor analfabeto de iaques a conquistador do Everest foi uma das maiores histórias de ascensão autossuficiente do século 20. Mas sua luta para transformar seu status de semi-Deus em sucesso material levou-o à bebida e à depressão. Ed, ex-editor do Britain’s Alpine Journal (Almanaque Alpino da Inglaterra), combinou a experiência em montanha a um estilo habilidoso de escrever para criar talvez a melhor biografia de montanhismo já escrita.

Shackleton, de Roland Huntford (1986)

US$ 20,01 no amazon.com

A maioria dos leitores ficou sabendo do básico no livro Endurance, de Caroline Alexander: quando o gelo antártico aprisionou seu navio em 1915, Ernest Shackleton liderou sua tripulação de 27 homens por uma jornada épica de sobrevivência durante dois anos. Neste trabalho de 774 páginas, escrito mais de dez anos após o sucesso de Caroline, Roland Huntford vai além da expedição de 1914-16 para mostrar Shackleton como um aventureiro agressivo, marido infiel e bebedor inveterado, que quase sempre estava na bancarrota e correndo atrás de mais uma grande conquista. O Shackleton de Roland é um grande aventureiro, muito bem lembrado por sua liderança no episódio do Endurance mas, talvez por sorte, não mais do que isso.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de março de 2010)







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