Voando na pororoca


VÔO BAIXO: Boyzinho sobrevoa a lagoa Rodrigo de Freitas

Por Cassio Waki

Foto por Maurício Val

Um dos pioneiros do kitesurf no país, consagrado no windsurf como pentacampão brasileiro e bicampeão sul-americano, Roberto Ermel, o Boyzinho, 32 anos, deixou as competições de lado, mas isso não quer dizer que o carioca tenha abandonado sua veia aventureira. Seu próximo desafio está planejado para o ano que vem: surfar com a foilboard – prancha com uma longa quilha terminando em forma de asa – a Pororoca, na Amazônia, e bater o recorde atual que é de 40 minutos. “Preciso treinar mais um pouco para pegar confiança e, depois, partir para o desafio”, diz.

A grande dificuldade de Boyzinho será escolher a onda certa. “A quilha tem cerca de 1 metro de comprimento. Se eu cair, ela leva tudo o que vier atrás da onda, como galhos e folhas. Com uma prancha normal, o surfista é resgatado e já pode entrar na próxima onda. Se eu errar, só na próxima maré cheia, que demora mais de seis horas para se repetir”. Desenvolvido com o intuito de diminuir o atrito da prancha com a água, o foilboarding proporciona velocidade muito superior à das pranchas comuns. À medida que o atleta é rebocado a prancha descola da água e o contato fica restrito à asa da quilha submersa. Ou seja, troca-se o contato com a superfície de uma prancha de cerca de dois metros com o de uma asinha de 50 centímetros submersa. Por isso, uma vez na onda, mesmo num mar mexido ou num rio cheio de detritos, a velocidade é sustentada e a sensação do surfista, depois de muito treino, é a de estar voando sobre o mar.

INOVANDO

A paquera de Boyzinho com a foilboard começou na época em que morou e competiu de kite por quatro anos em Maui, no Havaí. De longe ele admirava aquela prancha estranha e o desejo de subir numa delas teve de ficar guardado até um dia descobrir, no meio das coisas de seu amigo surfista de ondas gigantes, Eraldo Gueiros, uma foilboard praticamente nova. “Ele estava ocupado com muitas coisas e não tinha tempo para usá-la. Então, peguei emprestada e já estou brincando com ela há um ano”, revela. Nesse tempo, Boyzinho trocou as botas convencionais por uma de snowboard. “Além de não enferrujar, elas são mais práticas na hora de calçar dentro d’água”, conta. A outra inovação não saiu do papel, ainda. Para incrementar suas manobras no foilwind, ele criou asas de quilha diferentes.

Seu instinto “Professor Pardal” não é de hoje. Durante sua temporada com os feras do windsurf no Havaí, Boyzinho desenvolveu diversas velas com seus companheiros da equipe Simmer. Em um dia de teste, no mínimo 50 velas eram postas à prova. “Depois da bateria de testes modificávamos algumas coisas e competíamos com elas. No ano seguinte, sofriam pequenas modificações para entrar no mercado”.

Assim como fez com o kitesurf, em 1999, quando voltou ao Brasil para introduzir o esporte, Boyzinho pretende ser um dos introdutores do foilboard por aqui. “Penso em fazer o esporte e me divertir. Se a galera se interessar e quiser praticar, melhor ainda”, anima-se. Sua intenção é também criar um produto nacional, já que uma foilboard importada pode chegar a aproximadamente R$ 4 000. Por enquanto, você pode encontrá-lo brincando com sua foil na Lagoa Rodrigo de Freitas ou nas praias do litoral carioca.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de setembro de 2005)