Por Andrea Estevam
Foto por Dulla
Em junho deste ano, Vitor Negrete e Rodrigo Raineri passaram por bons e maus bocados na face norte do Everest, no Nepal. O plano inicial, de subirem sem oxigênio suplementar, não deu certo. “Subestimei a montanha. O clima também não ajudou. Os ventos foram 30% mais fortes e, as temperaturas, 1,5 graus mais baixas que a média”, diz Vitor, que chegou ao cume usando oxigênio engarrafado e tornou-se um dos três brasileiros nos 8.850 metros (os outros são Waldemar Niclevicz, Irivam Burda e Mozart Catão). Rodrigo parou a 50 metros do cume. Fadigado, abalado pelos corpos que viu no caminho e percebendo sinais de congelamento dos pés, preferiu não arriscar a subida.
Na descida, os dois descobriram que a barraca que deveria ter sido montada para eles a 8.150 metros não estava lá, e tiveram de virar mais uma noite descendo até o acampamento 2, a 7.800 metros, sem comida ou água. “Chegando lá havia umas 50 barracas. Ou achávamos a barraca que havia sido descrita para nós pelo rádio ou iríamos morrer ali, desidratados, congelados e famintos. Para mim foi o pior momento da escalada”, conta Vitor. Do momento que eles saíram para o cume até ali foram 26 horas ininterruptas de atividade acima de 8 mil metros.
Quando os dois finalmente acharam a barraca, descobriram que não havia sacos de dormir, água ou comida nela. “Dormi de bota e tudo. O Rodrigo ainda tentou aquecer os pés, mas não adiantou. Quando acordamos, nossos pés estavam sem circulação. Achamos que eles haviam congelado, mas durante o dia voltamos a senti-los”, lembra. No dia seguinte, Vitor e Rodrigo desceram para o acampamento 1. “Esse trecho costuma levar duas horas, eu demorei seis. Estava semi-morto. Em nenhuma competição cheguei tão perto da exaustão total quanto ali”, diz Vitor, que além de alpinista é também corredor de aventura.
De volta ao calor tropical, os dois já pensam em patrocínio para tentar o cume sem oxigênio suplementar no ano que vem. Até lá, os planos da dupla são mais próximos e rochosos. No fim do ano eles partem para o Fitz Roy, na Patagônia, uma montanha de 3.400 metros que fica na região de clima mais instável do planeta. “A escalada das paredes de granito do Fitz Roy tem que ser rápida e precisa, porque o clima é muito ruim e os períodos de tempo bom duram pouco”, explica. Se os patrocínios permitirem, a dupla quer treinar para o Fitz Roy escalando as big walls do Parque Nacional do Yosemite, na Califórnia. “O Everest tem um lado comercial muito forte. No Fitz Roy não dá para contratar ajuda para chegar ao cume. Para mim é importante alternar os projetos para me manter em contato com o lado selvagem do alpinismo”, completa Negrete.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de julho de 2005)