Por Cassio Waki Poucos sabem, mas o campeonato nacional de asa delta reúne alguns dos melhores atletas do mundo. Aliás, a asa delta brasileira é muito respeitada lá fora. Não é à toa que as melhores seleções do mundo, como Itália, França, Suíça e Áustria, colocam em seu calendário de treinos algumas semanas em cidades como Governador Valadares e Andradas, em Minas Gerais, e em Brasília. “Se fizermos uma comparação com o surf, o Brasil é o Havaí do vôo livre. Tem vento o ano todo”, afirma Álvaro Sandoli, o Nenê, 41 anos, que se sagrou tetracampeão brasileiro no início deste mês, ao vencer a terceira e última etapa em Andradas.
Outras feras do vôo livre, como Betinho Schmitz, 39, Guga Saldanha, 40, André Wolf, 42, e a nova revelação, Léo Dabbur, 29, tentaram tirar o tetra de Nenê. “O nível de competição no Brasil é muito alto”, diz o campeão. “Temos sempre cerca de 30 pilotos muito bons. Tanto que a organização abre uma categoria para receber atletas estrangeiros”. Este ano a terceira etapa recebeu australianos, suíços e americanos.
Para ter uma idéia do profissionalismo da categoria no Brasil, em janeiro, o país não participou do mundial na Austrália devido à falta de estrutura do torneio. Mais da metade dos pilotos que costumam comparecer às provas teve a mesma opinião e o campeonato contou com apenas 90 profissionais, quando normalmente soma mais de 200. A próxima edição do mundial acontece somente em 2007, no Texas (EUA). E, claro, os brasileiros vão para brigar pelo título, já que em 2003, em Brasília, ficaram com o vice.
Sem competições até o fim do ano, o jeito de se manter em forma é brincar um pouquinho. Com a ajuda de amigos, Nenê vai introduzir um novo estilo de vôo no Brasil: em vez de saltar de montanhas, a asa é puxada por um ultraleve do solo e colocada no vento certo. A intenção é bater o recorde mundial de distância livre, que hoje é de 298 quilômetros. “A meta é chegar aos 400 quilômetros”, prevê o tetracampeão.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2005)
ASAS: Piloto salta do Pico do Gavião, ponto mais alto do sul de Minas Gerais, em Andradas
Foto por Konrad Heilman