Por Erika Sallum
Fotos por Arquivo Editora Três
Derretimento das calotas polares e de geleiras tidas como eternas, enchentes e secas cada vez mais violentas, ondas de calor matando milhares, temporada de furacões cada vez mais cabulosos, inclusive no Brasil. É só o começo. A temperatura média do planeta subiu 0,7 ºC no último século e nos próximos 100 anos a previsão é de que a temperatura aumente entre 1,4 ºC e 5,8 ºC. Se considerarmos que 0,7 ºC causou tudo isso, dá para dizer que a palavra “caos” não está longe de descrever o que vem por aí. No entanto, por mais sérios que sejam esses problemas, eles não se comparam ao efeito amplo e devastador que a destruição em grande escala da biodiversidade tem sobre o meio-ambiente.
A perda das espécies existentes na Terra não só causa o colapso dos ecossistemas e seus processos ecológicos, como é irreversível. Pensando nisso, o britânico Norman Myers, um dos cientistas ambientais mais influentes dos últimos tempos, criou o conceito de hotspots (literalmente “pontos quentes”) durante uma pesquisa realizada em 1988. São riquíssimas regiões ecológicas, detentoras de ao menos 1.500 espécies de plantas nativas, onde a ação do homem acabou com, no mínimo, 70% da vegetação original.
A pesquisa de Myers chegou a conclusões tristíssimas: santuários da natureza como as montanhas do Himalaia e o Chifre da África correm o risco de desaparecer em poucos anos, caso profundos programas de restauração e preservação não sejam postos em prática imediatamente. Em parceria com a ONG ambientalista Conservação Internacional, o cientista identificou uma lista de 34 hotspots. Ao todo, eles somam apenas 2,3% da superfície terrestre, mas abrigam nada menos que 50% das plantas e 42% dos animais conhecidos.
Um alerta para os brasileiros: nosso país aparece duas vezes na trágica lista, devido ao péssimo tratamento que temos dado ao cerrado e à mata atlântica. “Existem lugares na costa brasileira, por exemplo, onde só restam 8% de mata. É uma situação alarmante”, diz Lúcio Bedê, gerente do Programa Mata Atlântica da Conservação Internacional. Cálculos da ONG apontam que, se tudo ficar como está, o cerrado deve sumir do mapa antes de 2030. Veja abaixo a situação atual de oito hotspots. Para conhecer a lista completa, acesse o site www.biodiversityhotspots.org.
CERRADO
Características: Segundo maior bioma brasileiro – só perde para a Amazônia –, está presente em 21% do território nacional. De enorme riqueza animal e vegetal, seu maior inimigo são os criadores de gado, que estão transformando a região em pasto.
Extensão original: 2.031.990 km 2
Vegetação remanescente: 438.910 km2
Área protegida: 111.051 km2
MATA ATLÂNTICA
Características: Com 20 mil espécies de plantas (sendo 40% endêmicas, ou seja, só existem ali) e 950 tipos de pássaros, sofre amargamente com a falta de preservação. Plantações de café e cana, além de massiva urbanização, fizeram com que mais de 90% da vegetação fosse destruída.
Extensão original: 1.233.875 km2
Vegetação remanescente: 99.944 km2
Área protegida: 50.370 km2
HIMALAIA
Características: Terra das mais altas montanhas do globo, incluindo o Everest, abarca o Paquistão, Nepal, Butão e Índia. Suas abruptas diferenças de altitude resultam em uma vasta variedade de vegetação, hoje profundamente devastada pelo homem.
Extensão original: 741.706 km 2
Vegetação remanescente: 185.427 km2
Área protegida: 112.578 km2
CHIFRE DA ÁFRICA
Características: Um dos hotspots mais degradados, com apenas 5% de seu habitat preservado. Localiza-se no leste do continente, espalhando-se por países como Somália e Etiópia. Apesar da aridez, abriga raras espécies de répteis endêmicos, entre outros importantes animais.
Extensão original: 1.659.363 km2
Vegetação remanescente: 82.968 km2
Área protegida: 145.322 km2
NOVA ZELÂNDIA
Características: Dominado pelo clima tropical, o montanhoso arquipélago possui rica fauna nativa encontrada apenas ali, como a ave kiwi. Desde o início da colonização britânica, que começou 700 anos atrás, mais de 50 espécies de pássaros foram extintas.
Extensão original: 270.197 km2
Vegetação remanescente: 59.443 km2
Área protegida: 74.260 km2
ANDES TROPICAIS
Características: A mais rica e diversa região na Terra. Contém 1/6 de todas as plantas do planeta, em menos de 1% da cobertura terrestre. Abriga também a maior variedade de anfíbios – são 664, mas, infelizmente, 450 encontram-se hoje em perigo.
Extensão original: 1.542.644 km2
Vegetação remanescente: 385.661 km2
Área protegida: 246.871 km2
CÁUCASO
Características: Cordilheira montanhosa situada entre o Mar Cáspio e o Mar Negro, abrange países como Armênia, Rússia e Azerbaijão. Crises políticas constantes, além de caça e colheita ilegais, têm devastado a região.
Extensão original: 532.658 km2
Vegetação remanescente: 143.818 km2
Área protegida: 42.721 km2
MADAGASCAR E ILHAS VIZINHAS
Características: No arquipélago vivem oito famílias de plantas, quatro de pássaros e cinco de primatas que só existem nessa região. Como Madagascar desprendeu-se do continente africano há cerca de 160 milhões de anos, o hotspot é um exemplo vivo da evolução de espécie num ambiente isolado dos demais. A falta de consciência ambiental dos habitantes e colonizadores levou à extinção de dezenas de espécies de animais.
Extensão original: 600.461 km2
Vegetação remanescente: 60.046 km2
Área protegida: 18.482 km2
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro de 2005)
CERRADO: Destruição
BRASIL: Mata Atlântica
HIMALAIA: Cordilheira
LAGO: Nova Zelândia