Por um fio


EQUILIBRISTA: Maurício Martins medita nas alturas

Texto e foto por João Paulo Barbosa

Equilibrar-se numa corda suspensa no ar pode ser visto como esporte ou uma espécie de meditação radical. Na corda bamba ou slackline, não importa a altura nem a extensão do caminho a ser percorrido. A filosofia geral é a de buscar a harmonia e o relaxamento, desenvolvendo o equilíbrio e a auto-confiança.

Há 2.000 anos, asiáticos do Cazaquistão, precursores do circo moderno, começaram a andar em cordas, equilibrando-se pé ante pé. No dicionário, a palavra funambulismo define essa prática. Em sua versão moderna, redescoberta nos anos 60 no vale de Yosemite, na Califórnia, os praticantes usaram primeiro cabos de aço para depois aderirem às fitas tubulares de nylon, ideais para um “surf” em linha suspensa. Essas fitas, feitas em nylon trançado, são esticadas entre dois pontos e presas com mosquetões em ancoragens naturais (pedras, árvores), ampliando a área de contato dos pés e os horizontes criativos de uma prática que se reinventa a cada passo.

Inspirado nos passos dos pioneiros da corda bamba em Yosemite – Adam Growsowski, Jeff Ellington e Scott Balcon –, o gênio da escalada solo Dean Potter elevou à estratosfera o slackline, quando atravessou, em 1998, a quase mil metros do chão, duas agulhas de granito conhecidas como Lost Arrow Spire, sem o cabo de segurança que, quando conectado à corda, protege o atleta em caso de queda. Aproveitando-se de sua experiência de escalador disciplinado, veloz e concentrado, Potter treina para, entre um Fitz Roy e um El Capitan, deslizar cada vez com mais estilo pelas alturas de Yosemite – um belo exemplo de como as habilidades desenvolvidas na corda bamba fluem em esportes que vão do snowboard às artes marciais.

Atualmente existem competições, livros e sites sobre o tema em muitos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, os Slacklines Brothers (“irmãos da corda bamba”) propõe uma revolução diária aos adeptos do esporte, criando novos equipamentos e explorando manobras e movimentos mais ousados. Foram eles os introdutores, pelo lendário Rob Machado e pela revista Surfing Magazine, da corda bamba na comunidade de surfistas da Califórnia.

No Brasil, montanhistas como Maurício Martins e Roberta Nunes praticam e divulgam a modalidade, sempre com o uso de equipamentos adequados e uma prévia instrução. Enquanto os dinamarqueses praticam na neve e os noruegueses em piscinas, Maurício Martins e seus amigos exploram os limites do esporte nas cachoeiras próximas à Brasília. Ele explica que procura na corda bamba “uma forma de meditar, tranqüilizar-se e alcançar um objetivo”.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro de 2005)







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